quarta-feira , 15 outubro 2025
💵 DÓLAR: Carregando... | 💶 EURO: Carregando... | 💷 LIBRA: Carregando...

Trump abandona postura isolacionista e busca apoio de outros líderes para acordos de paz

Entre a campanha de 2024 e o início do seu segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que as guerras entre Ucrânia e Rússia no leste europeu e entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza nunca teriam começado se ele estivesse na Casa Branca em 2022 e 2023, respectivamente, e se propôs a interrompê-las sozinho.

No caso do conflito no Oriente Médio, Trump apresentou no início do ano um plano que consistiria na saída dos palestinos de Gaza, na administração americana do enclave e na transformação deste numa espécie de “Riviera do Oriente Médio”. Porém, abandonou a ideia depois de críticas de países árabes e do Ocidente.

Já sobre a Ucrânia, Trump disse que acabaria com a guerra nas primeiras 24 horas do seu segundo mandato. Não foi bem assim – em março, ele combinou dois acordos de cessar-fogo com a Ucrânia e a Rússia, para interromper os ataques às infraestruturas de energia russas e ucranianas durante 30 dias e os confrontos no Mar Negro, apenas para ser humilhado pela desobediência do ditador russo, Vladimir Putin, ao combinado.

Sem conseguir soluções sozinho, Trump partiu para outro caminho: buscar apoio de outros líderes.

Em agosto, depois de se encontrar com Putin no Alasca, ele realizou uma reunião na Casa Branca com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e líderes europeus e da Otan na qual foram debatidas garantias de segurança futuras para a Ucrânia e anunciou que marcaria um encontro entre o mandatário ucraniano e o ditador russo. Entretanto, tal reunião ainda não ocorreu devido à resistência do Kremlin.

No conflito em Gaza, Trump está sendo muito mais bem-sucedido por ora. Em 23 de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente americano realizou uma reunião com altos funcionários de países árabes e de maioria muçulmana e apresentou em linhas gerais um plano de paz para Gaza.

Dias depois, ao lado do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, Trump detalhou a proposta, cuja primeira fase (que inclui um cessar-fogo e a troca dos reféns israelenses que permaneciam em Gaza por prisioneiros palestinos) foi aceita por Israel e Hamas.

Após conversas nas quais os EUA atuaram como mediadores ao lado de Egito, Catar e Turquia, essa etapa está sendo implementada.

Na segunda-feira (13), Trump assinou no Egito um acordo de paz para encerrar a guerra no Oriente Médio, numa cúpula que teve participação de líderes de mais de 20 países – além de representantes dos países mediadores, estiveram presentes o chanceler alemão, Friedrich Merz; o premiê húngaro, Viktor Orbán; o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez; a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni; o presidente da França, Emmanuel Macron; entre outros.

Na ocasião, Trump disse que vai ampliar o Conselho da Paz, grupo liderado por ele que supervisionará a governança e a reconstrução de Gaza, para acomodar os “vários países e entidades” que manifestaram interesse em participar.

O que levou o presidente americano, um notório crítico do multilateralismo, a buscar o apoio de outros países para tentar acordos de paz?

Para Ricardo Bruno Boff, professor de relações internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), essa mudança de postura é algo que traduz as “duas faces de Trump”.

“O Trump sempre tem primeiro esse lado falastrão, ele joga para a plateia, fala alto, dá um ‘peitaço’, acaba agitando o seu público, vai para as redes sociais, mas depois, quando vai para a mesa de negociação, ele se senta, ouve e acaba fechando acordos ou negociando acordos de uma forma bem mais suave, conversada e diplomática”, disse o especialista.

“Além disso, o tempo passa e vai mostrando que a realidade é mais difícil do que aquilo que o sujeito às vezes esperava no início. Os Estados Unidos não têm mais o poder que tinham no século XX, não são os Estados Unidos dos anos 70, não são os Estados Unidos do Ronald Reagan, dos anos 80”, afirmou Boff.

“Ele vai vendo que muitas vezes é preciso conversar com várias partes, as coisas não se resolvem com uma visão única, unilateral, você tem que costurar acordos ouvindo diferentes agentes”, acrescentou.

Fernanda Brandão, coordenadora do curso de relações internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, apontou que, no caso da guerra em Gaza, Trump precisou cooperar com outros agentes devido à resistência de Netanyahu e de integrantes do governo deste, favoráveis à continuidade da guerra em Gaza e da ocupação da Cisjordânia, a um acordo de cessar-fogo.

VEJA TAMBÉM:

“Trump viu que para conseguir realizar os feitos que ele pretende em termos de política externa em algumas questões, a falta de cooperação com outros atores torna inviável”, disse a analista.

“Ao buscar outros parceiros no Oriente Médio, Trump quer constranger Netanyahu a aceitar os termos de um acordo que ponha fim ao conflito e assumir os louros da conquista de ter colocado fim a esse conflito em particular, aproximando os EUA dos países árabes no processo”, argumentou.

A nova postura de Trump pode se estender ao comércio?

Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo divergiram a respeito da possibilidade desse espírito de cooperação de Trump se estender às negociações comerciais com outros países.

Para Boff, a abertura de conversas diretas com o governo Lula já é uma sinalização nesse sentido.

“Chegaram até o Trump, dizendo que tem gente perdendo dinheiro de ambos os lados, tem investidor americano no Brasil, tem investidor brasileiro nos Estados Unidos, tem importador, tem exportador, seria melhor os dois governos conversarem”, afirmou o analista.

“Ao entender que conversando com o Brasil os negócios poderiam prosperar, com empresários que têm acesso, ele [Trump] recuou para conversar sem problemas. Já fez isso várias vezes, e pode fazer outras, mudar de posição conforme a conveniência. Eu acho que é o mesmo raciocínio [das negociações de paz]”, disse Boff.

Brandão, porém, não acredita em uma postura mais agregadora e conciliadora dos EUA em questões comerciais e afirmou que “Trump já deixou muito claro que está disposto a cooperar [somente] com quem estiver disposto a aceitar os termos americanos”.

“Quando ele posterga a aplicação de tarifas, ou cria uma lista de exceção de bens a não serem tarifados, até mesmo na sua recente abertura para diálogo com o governo brasileiro, esses fatos não revelam uma postura mais cooperativa, mas revelam que a estratégia preferida por Trump encontrou gargalos e ele precisa contorná-los, e isso depende de alguma cooperação com outros atores internacionais, contanto que os interesses americanos sejam realizados”, disse a professora da Mackenzie.

“A política externa de Donald Trump ainda continua sendo isolacionista, protecionista e unilateralista no sentido de que seu engajamento com os outros países só acontece nos termos e condições que são entendidos pelo seu governo como benéficos para os Estados Unidos e seu lugar de principal potência global”, finalizou.

fonte

Verifique também

Deputado Jefferson Campos cobra posicionamento do Itamaraty sobre perseguição a cristãos na China

O deputado federal Jefferson Campos (PL-SP) cobrou no plenário da Câmara posicionamentos oficiais do Ministério …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *