O Kremlin confirmou nesta quinta-feira (18) a renúncia “por vontade própria” do vice-chefe do Gabinete Executivo Presidencial da Rússia, Dmitry Kozak, o primeiro funcionário de alto escalão que deixa o cargo por oposição à guerra na Ucrânia. Um dos colaboradores mais próximos de Putin por vários anos, Kozak teria tentado demovê-lo da ação militar na Ucrânia, inclusive pedindo ajuda a interlocutores ocidentais.
“Posso confirmar que, efetivamente, Dmitry Kozak apresentou sua renúncia”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, em sua coletiva de imprensa diária.
Ao ser questionado sobre os motivos dessa decisão, Peskov assinalou que Kozak o fez “por vontade própria”, sem dar mais detalhes.
Segundo o porta-voz, no entanto, o ditador Vladimir Putin não assinou algum decreto sobre o tema. “Não publicamos o decreto, não há decreto”, disse Peskov.
Críticas à guerra
Trata-se do primeiro caso de renúncia de uma figura próxima ao ditador russo por críticas à guerra, atitude perseguida em todos os escalões da sociedade desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
O jornal Vedomosti antecipou na quarta-feira que Kozak, de 66 anos, assumirá o cargo de representante plenipotenciário no distrito federal noroeste do presidente, embora outros meios falem que poderia ocupar algum cargo no mundo dos negócios.
Segundo informou em meados de agosto o jornal americano The New York Times, Kozak tentou convencer Putin a deter a campanha militar na Ucrânia.
Kozak, durante muitos anos um dos mais próximos colaboradores do presidente, inclusive teria apresentado um plano para o cessar das ações militares e também propôs reformar o sistema judicial e reforçar o controle sobre as forças de segurança.
Aparentemente, o vice-chefe da administração presidencial tinha advertido Putin em 2022 sobre as consequências da guerra e, uma vez iniciados os combates, voltou a propor uma trégua, o que foi rejeitado pelo ditador.
Kozak também teria pedido a seus interlocutores ocidentais argumentos com os quais convencer o chefe do Kremlin a deter os combates, de acordo com o jornal americano, o que desatou todo tipo de críticas entre os propagandistas russos.
Nascido na Ucrânia, Kozak estudou direito em Leningrado, de onde se uniria à equipe de Putin em Moscou em 1999.
Desde então, exerceu cargos como chefe de campanha de Putin nas eleições presidenciais de 2004 e como vice-primeiro-ministro entre 2008 e 2020, após o que passou a trabalhar no Kremlin.