O relator do processo que pode levar à cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Conselho de Ética da Câmara, Delegado Marcelo Freitas (União Brasil-MG), votou nesta quarta-feira (8) pelo arquivamento da representação apresentada pelo PT. As informações são do jornal O Globo.
O processo acusa o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de ter articulado, nos Estados Unidos, sanções contra o Brasil e contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no contexto das medidas anunciadas pelo governo Donald Trump.
Em seu parecer, conforme relatado pelo jornal, o relator afirmou que “discursos isolados” de Eduardo Bolsonaro não seriam capazes de influenciar decisões de outro país e que não há elementos que configurem quebra de decoro parlamentar.
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“A decisão de um país estrangeiro de adotar ou não sanções econômicas, diplomáticas ou políticas é, em essência, ato de soberania. Imputar a um parlamentar brasileiro a responsabilidade por um ato dessa natureza seria ignorar o princípio fundamental do direito internacional, segundo o qual cada Estado é autônomo em suas decisões políticas e jurídicas”, escreveu Freitas em seu relatório.
O parecer foi alvo de pedidos de vista de parlamentares como Chico Alencar (PSOL-RJ), Elton Welter (PT-PR) e Dimas Gadelha (PT-RJ), o que adiou a votação no colegiado.
Freitas citou jurisprudências internacionais e afirmou que parlamentares em democracias consolidadas recorrem frequentemente a organismos internacionais para denunciar violações, argumento que, segundo ele, não poderia ser interpretado como quebra de decoro no caso de Eduardo.
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Atuação nos EUA
Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos desde março. Em julho, ele chegou a reivindicar publicamente papel de destaque nas articulações que resultaram na tarifa de 50% imposta pelo governo Trump a produtos brasileiros, ao lado do ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo.
Em nota conjunta divulgada na época, os dois afirmaram ter “alertado o Brasil” sobre possíveis medidas de retaliação e justificaram as sanções econômicas e financeiras aplicadas sob a Lei Magnitsky, usadas como forma de pressionar o ministro Alexandre de Moraes.
“Desde o início da nossa atuação internacional, buscamos evitar o pior, priorizando que sanções fossem aplicadas de forma individualizada, com foco no principal responsável pelos abusos: Alexandre de Moraes”, dizia o comunicado assinado pelos dois.
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Defesa
O deputado não apresentou defesa própria e não participou da sessão do Conselho de Ética. Diante da ausência de advogado constituído, a representação foi acompanhada por um defensor público da União, Sérgio Armanelli Gibson, que argumentou pela incompetência do colegiado até que o STF conclua a análise dos inquéritos que envolvem Eduardo.
Gibson também alegou falhas na notificação do parlamentar, que está fora do país desde março e teve sua licença de mandato encerrada em agosto.
O argumento foi rebatido pelo presidente do Conselho, Fábio Schiochet (União Brasil-SC), que afirmou que todos os canais de comunicação foram utilizados e que o gabinete do deputado segue em funcionamento na Câmara.
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“O gabinete recebeu todas as notificações. A ausência do deputado não impede o andamento do processo”, disse Schiochet.
O processo será retomado após o prazo de vista solicitado pelos parlamentares. Caso o relatório de Freitas seja rejeitado, o Conselho poderá designar um novo relator e reabrir a análise sobre possível quebra de decoro parlamentar.
Caso o Conselho de Ética entenda que houve quebra de decoro parlamentar, o deputado pode ser advertido, suspenso ou até cassado. Se o relatório de arquivamento for aprovado, o caso será encerrado.