No programa Última Análise desta segunda-feira (20), os comentaristas analisaram a acusação do jornal americanoThe Wall Street Journal que, em matéria assinada por Mary Anastasia O’Grady, afirmou que houve adulteração dos registros de imigração americana para fundamentar a prisão do ex-assessor de Jair Bolsonaro, Filipe Martins. Assim, o que antes era apenas um erro formal, pode se tornar um caso de fraude internacional. Ao final, resta a pergunta: quem mandou fraudar o registro?
“O que a reportagem trouxe é gravíssimo”, aponta o ex-procurador Deltan Dallagnol. Ele explica que, para um país vulnerável como os EUA, tanto para terroristas, traficantes e criminosos, a possibilidade de um registro ser fraudado indica um perigo enorme para os americanos. “Quem se beneficia da inserção falsa de um registro de entrada de Filipe Martins?”, questiona ele.
A matéria cita que um órgão do governo americano criticou recentemente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter usado um registro falso para justificar a prisão preventiva de Filipe Martins. O’Grady relata a história do caso, que começou quando a Polícia Federal usou um documento que indicava a suposta entrada de Filipe Martins nos Estados Unidos. O ministro se baseou nessa informação para alegar risco de fuga e prendê-lo.
O ex-juiz de Direito Adriano Soares da Costa lembrou da relação entre o governo de Joe Biden, especificamente diante de seus interesses ideológicos, com a eleição brasileira. “A USAID [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internaciona] teria participado de uma armamentização política e jurídica nas eleições brasileiras. É nisto que a figura do Filipe Martins se insere.”
Moraes deu prazo de cinco dias para que a Polícia Federal (PF) explique o uso da consulta ao histórico de viagens, em site do governo americano, para investigar o ex-assessor Filipe Martins. Na resposta ao ministro, o delegado Fábio Shor disse ter confirmado a alegada viagem de Filipe Martins por meio do Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security – DHS).
O “caudilhesco” discurso de Lula
O presidente Lula afirmou, neste sábado (18), que sonha com uma América Latina independente e respeitada no cenário internacional. O petista vociferou que jamais aceitará que novamente “um presidente de outro país fale grosso com o Brasil”. Por fim, explicou seu grande projeto: “Queremos formar uma doutrina latino-americana com professores e estudantes do nosso continente. Sonhar com um dia em que este continente será independente”.
O professor da FGV Daniel Vargas denominou esta ideologia de “bolivarianismo socialista tropical”. Para ele, “a ideia é identificar o inimigo lá fora e fundamentar um conjunto de políticas restritivas e protecionistas aqui na América Latina. É um conjunto de parâmetros comuns para impor restrições e críticas a todos que vierem de fora dizer o que temos que fazer”.
A declaração vem na na contramão do cenário na Bolívia que, neste domingo (19), elegeu o senador de centro-direita Rodrigo Paz Pereira, nas eleições presidenciais, encerrando quase 20 anos de socialismo no país.
“Depois da esquerda quebrar o país, eles perceberem que estão indo de mal a pior e despertaram para o fato de que o melhor é imitar o sistema que funciona nos países prósperos: o sistema capitalista”, afirmou Deltan.
Jorge Messias e o aceno aos evangélicos
Visando angariar a boa vontade de um público que representa cerca de 27% da população, Lula tenta, cada vez mais, se aproximar do eleitorado evangélico. O advogado-geral da União, Jorge Messias, cotado para a vaga aberta no STF, tem boa recepção entre esta fatia da população e pode suceder Luís Roberto Barroso.
Soares da Costa vê com ceticismo tal aproximação, pois há uma “impossibilidade conceitual de convívio” entre os setores. E diz que, em relação a Messias, a tendência conservadora dele pode fazer com que o PT ganhe a curto prazo, mas perca a longo prazo com sua indicação.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a sexta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.