Os Correios registraram um prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, segundo balanço divulgado pela empresa na última sexta-feira (5). O valor supera todo o rombo acumulado em 2024, que havia sido de R$ 2,6 bilhões, já considerado quatro vezes pior do que o de 2023, quando o déficit ficou em R$ 633 milhões.
Entre abril e junho, a estatal contabilizou perdas de R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes maiores do que no mesmo período do ano passado, quando o resultado negativo foi de R$ 553,1 milhões. No primeiro trimestre, os números já indicavam dificuldades, com prejuízo de R$ 1,7 bilhão, o pior começo de ano desde 2017.
Segundo a empresa, o desempenho ruim reflete principalmente o impacto do reajuste salarial de mais de 55 mil funcionários, o aumento das despesas com precatórios e a queda nas encomendas internacionais após a implantação da chamada “taxa das blusinhas”, que prevê imposto de 20% para compras de até US$ 50 e de 60% para valores superiores.
“Os Correios enfrentam restrições financeiras, conforme evidenciado em suas Demonstrações Contábeis, decorrentes de fatores conjunturais externos que impactaram diretamente a geração de receitas. Entre os principais motivos, destaca-se a retração significativa do segmento internacional, em razão de alterações regulatórias relevantes nas compras de produtos importados, que provocaram a queda do volume de postagens e o aumento da concorrência, resultando na redução das receitas vinculadas a esse segmento”, pontuou a estatal no balanço (veja na íntegra).
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Entre janeiro e junho de 2024, os envios internacionais renderam R$ 2,1 bilhões, mas neste ano a receita despencou para R$ 815 milhões, uma queda de quase 62%. Ao mesmo tempo, as despesas administrativas dispararam 74% em relação ao ano passado, alcançando R$ 3,4 bilhões até junho, pressionadas por custos com pessoal e precatórios.
No documento divulgado, a estatal reforçou que trabalha em um plano de recuperação. A estratégia inclui medidas de redução de despesas, diversificação de serviços e parcerias comerciais para ampliar a receita.
“A administração conduz um conjunto de ações estratégicas voltadas ao reequilíbrio econômico-financeiro, com foco no incremento de receitas, na redução de despesas e na otimização da rede de atendimento. O fortalecimento de parcerias estratégicas amplia o acesso a novas fontes de receita, enquanto medidas de racionalização garantem maior eficiência no uso dos recursos”, disse a companhia.
O plano foi lançado em maio e prevê, entre outras ações, um Programa de Desligamento Voluntário (PDV) para reduzir custos de pessoal. A expectativa é economizar até R$ 1,5 bilhão com a adesão de funcionários.
Fiscalização do Senado
A crise dos Correios também chegou ao Senado e foi alvo da abertura de uma investigação pela Comissão de Fiscalização, na semana passada. A proposta da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), relatada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi aprovada em cerca de 30 segundos, sem votos contrários, mas provocou reação da base governista.
A investigação será conduzida em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU) e deve apurar possíveis irregularidades contábeis, gestão temerária e fraudes nos Correios. Enquanto isso, a estatal corre contra o tempo para reverter o quadro de déficits bilionários e recuperar a sustentabilidade financeira.