A Colossal Biosciences, uma empresa de biotecnologia, anunciou um “passo crucial” no projeto de “desextinção” do Dodô – a ave que se tornou um símbolo mundial da perda de biodiversidade. O avanço consiste no cultivo inédito em laboratório de células reprodutivas precursoras (chamadas PGCs) de pombos.
A empresa, sediada no Texas, EUA, é liderada pelo CEO Ben Lamm e pela diretora científica Beth Shapiro. A iniciativa acaba de receber um aporte de US$ 120 milhões, elevando o financiamento total para US$ 555 milhões.
O foco é ressuscitar a ave endêmica das Ilhas Maurício, de onde desapareceu. O sucesso do cultivo das PGCs dá confiança aos cientistas para prometer a apresentação de um exemplar do Dodô em um prazo de cinco a sete anos.
O objetivo final, além de trazer o Dodô de volta, é aplicar as tecnologias desenvolvidas para proteger e restaurar espécies atualmente ameaçadas e seus ecossistemas.
Dodô: de símbolo da extinção a projeto de preservação
O Dodô (Raphus cucullatus) era uma ave grande, incapaz de voar, nativa apenas das Ilhas Maurício. Sua extinção ocorreu há aproximadamente 400 anos, no século XVII, pouco depois da chegada de exploradores. Este desaparecimento precoce e drástico transformou a ave em um emblema global da extinção.
A Colossal Biosciences busca reverter essa história, integrando o Dodô a uma estratégia mais ampla de “desextinção” que inclui o Mamute-Lanoso e o Tigre-da-Tasmânia.
No entanto, a tarefa de ressuscitar aves é notoriamente mais complexa do que a de mamíferos, pois elas se desenvolvem em ovos e exigem a criação de duas gerações separadas, tornando o processo mais lento.
Para vencer esse desafio, a empresa utiliza uma combinação de engenharia genética e reprodução assistida, partindo do Pombo-Nicobar, o parente vivo mais próximo do Dodô.
O “desbloqueio tecnológico” das células reprodutivas
O avanço mais recente e significativo da Colossal foi o sucesso no cultivo em laboratório das Células Germinativas Primordiais (PGCs) de pombos. Estas células são essenciais porque são as precursoras que, mais tarde, dão origem aos espermatozoides e óvulos.
Em entrevista exclusiva à revista People, o CEO Ben Lamm explicou a dificuldade da conquista. Ele ressaltou que, antes deste feito, o cultivo de PGCs só havia sido alcançado em galinhas e gansos, e que conseguir a receita para os pombos era “muito, muito difícil de fazer”. Lamm descreveu o marco como um “grande desbloqueio tecnológico para o Dodô”.
A diretora científica da empresa, Beth Shapiro, também concedeu entrevista à People e enfatizou a relevância do feito. Ela classificou o cultivo das PGCs como “realmente o passo mais importante para o projeto do Dodô, mas também para a conservação de aves, de forma mais ampla”.
Lamm adicionou que este passo permitiu à Colossal firmar o prazo de retorno: “Não podíamos dizer às pessoas [se] os Dodôs demorariam 20 ou 30 anos para voltar até chegarmos a este PGC,” disse ele para o jornal americano. “Agora que chegamos aos PGCs, estamos confiantes de que nos próximos cinco a sete anos poderemos ver um dodô”.
Como o Dodô pode Renascer?
A técnica é complexa:
- Células-Chave: os cientistas utilizarão o Pombo-Nicobar (o parente vivo) para cultivar PGCs;
- Edição Genética: as PGCs do Pombo-Nicobar serão editadas com traços genéticos do Dodô, usando dados de DNA antigo encontrados em espécimes de museu;
- Mãe de Aluguel (Substituta): as células editadas serão injetadas em embriões de galinhas comuns (galos e galinhas) que foram geneticamente modificadas para não produzirem suas próprias células reprodutivas. As galinhas são escolhidas por serem mais fáceis de manejar e esterilizadas;
- O Resultado: o objetivo é que os descendentes dessas galinhas substitutas nasçam com células reprodutivas que contenham as características genéticas do Dodô.
Apesar do foco na “desextinção,” Shapiro afirmou que a companhia é, na verdade, uma “empresa de preservação de espécies”.
Ela destacou que o objetivo é desenvolver tecnologias que ajudem a tornar “ecossistemas mais resilientes”, e que “colocar essas peças de volta pode ajudar os ecossistemas a se recuperarem de maneiras que ainda não podemos prever”. A empresa já formou um comitê consultivo nas Ilhas Maurício para garantir que a reintrodução do Dodô seja conduzida de forma ética e sustentável.
O trabalho da Colossal, embora receba críticas de especialistas que questionam o desvio de recursos da conservação de espécies existentes, também está cumprindo o objetivo de despertar o interesse público.
Shapiro relatou ainda que o trabalho está inspirando jovens, com professores contando que seus alunos trocaram a vontade de serem influencers por engenheiros genômicos, o que ela chamou de “vitória”. O CEO Lamm concorda que o trabalho é inspirador e complexo, mas acredita que trazer o público para as “conversas difíceis” é a única forma de “tornar a ciência legal novamente”.
*Este texto compilou dados utilizando a ferramenta Google NotebookLM.