segunda-feira , 15 setembro 2025
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O que esperar do depoimento do “careca do INSS” à CPMI

Agendado para ser ouvido nesta segunda-feira (15) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”, terá de explicar a parlamentares suas ligações com o mundo político, sua influência dentro do instituto e os milhões de reais movimentados nas fraudes dos descontos associativos.

Após ser preso pela Polícia Federal (PF) na sexta-feira (12), o depoimento de Antunes se tornou incerto depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça deixar sua ida facultativa. No entanto, o presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), garantiu que o empresário comparecerá à comissão.

“Nós estamos em contato com a defesa do suspeito e ele confirmou que deseja ir à CPMI para apresentar a versão que tem deste escândalo e de todos os fatos que estão sendo divulgados”, afirmou Viana neste domingo (14).

Mas o que se sabe sobre o “careca do INSS” até o momento? Antunes atuava nos bastidores do sistema previdenciário, negociando e intermediando contratos entre associações e empresas ligadas a benefícios de aposentados. Sua notoriedade cresceu após investigações comprovarem sua ligação direta com organizações envolvidas nos descontos fraudulentos e pela movimentação financeira elevada — superior a R$ 53 milhões apenas por meio de suas empresas.

Ele era sócio de pelo menos 22 empresas, muitas delas sociedades de propósito específico, utilizadas para dificultar a fiscalização e movimentar grandes volumes de dinheiro oriundos de descontos não autorizados feitos por associações e sindicatos sobre aposentados.

Influência no INSS facilitou atuação de Antunes

Embora não fosse servidor de carreira do INSS, o “careca” teria se consolidado como elo entre o órgão e associações suspeitas, desempenhando papel fundamental na manutenção das fraudes. Seu nome passou a ser amplamente citado nos bastidores da CPMI como símbolo da promiscuidade entre entidades privadas e a máquina pública.

De acordo com as investigações, Antunes teria repassado R$ 9,3 milhões a servidores do INSS. Ele fez pagamentos diretos e indiretos para Virgílio Filho, ex-procurador-geral do instituto, além de André Fidelis e Alexandre Guimarães, ambos ex-diretores.

A esposa do ex-procurador teria recebido R$ 7,54 milhões do empresário, além de ter sido beneficiada com a transferência de um carro de luxo modelo Porsche Taycan. Já o filho de André Fidelis recebeu R$ 1,46 milhão por meio de seu escritório de advocacia, em valores que a PF acredita terem sido pagos como “vantagem indevida por ato de ofício”. Por fim, Alexandre Guimarães recebeu diretamente de Antunes R$ 313 mil.

A movimentação financeira de Antunes também chamou atenção das autoridades por indícios de lavagem de dinheiro. A PF identificou que ele e a esposa teriam transmitido sucessivamente, em menos de seis meses, um mesmo imóvel com valor estimado de R$ 353 milhões. A análise financeira abrange dados entre 2022 e 2024.

Nesse contexto, congressistas da CPMI aprovaram, em 28 de agosto, um pedido do senador Izalci Lucas (PL-DF), que solicita detalhes sobre as visitas de Antônio ao instituto entre 2019 e 2025.

Conexões políticas de Antunes devem ser apuradas pela CPMI

Além das conexões com o INSS, a CPMI também deve investigar quais aliados políticos o “careca” possui dentro do Congresso Nacional. Até o momento, o senador Weverton Rocha (PDT-MA) é o único parlamentar que confirmou encontro com o lobista, mas negou qualquer irregularidade.

Os questionamentos feitos pelo deputado Alfredo Gaspar (União-AL) ao advogado Eli Cohen, um dos primeiros a revelar o esquema fraudulento, indicam o tom do que pode ser indagado a Antunes.

Na quinta reunião do colegiado, em 4 de setembro, Gaspar perguntou se o lobista dava suporte ou mesada a deputados e senadores. Também questionou se Antunes tinha alguma relação com ministros da Previdência, presidentes do INSS ou diretores de benefícios do instituto. Em resposta, Eli disse não ter conhecimento sobre isso.

As visitas do “careca” ao Congresso também estão no radar dos parlamentares. No último dia 9 de setembro, o colegiado aprovou requerimento solicitando informações ao Senado Federal sobre os registros de entrada e saída do lobista desde 2011 e, na Câmara dos Deputados, a partir de 2015.

Apesar das solicitações, a expectativa é que o colegiado não seja atendido de imediato, já que o Senado impôs sigilo de 100 anos sobre as visitas de Antunes. A decisão foi divulgada após solicitação via Lei de Acesso à Informação do portal Metrópoles.

A justificativa oficial do Senado para o sigilo baseia-se na proteção de dados pessoais, conforme o Decreto nº 7.724/2012 e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que garantem confidencialidade a informações que identifiquem pessoas naturais.

Parlamentares devem explorar ligação de Antunes com Maurício Camisotti

A relação entre Antunes e o empresário Maurício Camisotti, preso na sexta-feira, é outro ponto que deve ser explorado pela CPMI. Enquanto Antunes atuava como lobista entre associações e funcionários do INSS, Camisotti era sócio oculto e beneficiário direto de entidades fictícias, como Ambec, Cebap e Unsbras, que recebiam e operavam valores oriundos dos descontos fraudulentos.

Juntos, estruturaram empresas e entidades de fachada — muitas delas com dirigentes fantasmas — usadas para executar os descontos nas folhas de pagamento sem conhecimento dos beneficiários. Ambos compartilhavam o controle de empresas que funcionavam como “centrais de repasse”, movimentando milhões rapidamente e dificultando a fiscalização e o rastreamento dos desvios.

Controlada por Camisotti, a THG (Total Health Group) é citada nas investigações como uma das empresas centrais no suporte logístico e operacional do esquema dos descontos ilegais em benefícios de aposentados. A companhia teria atuado como central logística do grupo, intermediando muitos dos serviços e contratos fraudulentos junto a associações, sindicatos e empresas terceirizadas.

Não é a primeira vez que Camisotti surge como alvo de investigações sobre fraudes. De acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à CPI da Covid, ele é apontado como um dos financiadores ocultos da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a negociação de vacinas da Covaxin com indícios de superfaturamento na casa de R$ 18 milhões.

Camisotti também recebeu o mesmo “direito” de não comparecer à CPMI. O depoimento aconteceria na quinta-feira (18). “Estamos em contato com outros envolvidos e testemunhas se predispondo a ir à CPMI”, disse Viana.

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