quinta-feira , 10 julho 2025
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O que a defesa do aumento do IOF não faz? Antes rivais, Haddad e Gleisi juntam forças

O conflito entre Gleisi Hoffmann, atual ministra das Relações Institucionais, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre aumento de impostos no início do terceiro mandato de Lula parecia irreconciliável. Porém, o decreto presidencial que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e azedou a relação com o Congresso transformou, apoarentemente, a relação entre os dois petistas.

As divergências foram deixadas de lado e Haddad e Gleisi unificaram a postura na defesa da medida. Após a aprovação pelo Congresso do PDL 214/2025, que sustou o decreto presidencial elevando o IOF, ela foi às redes sociais e até replicou uma postagem de Haddad, na qual o ministro afirma que:

“O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores”.

A postura conciliadora parece não se limitar à relação entre os dois petistas. Ainda na noite desta terça-feira (8), Gleisi e Haddad se reuniram pela primeira vez com com o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), após a derrubada pelo Congresso do decreto presidencial que aumentou o tributo.

A reunião foi organizada por aliados de Motta a fim de que Executivo e Legislativo cheguem a um entendimento antes da audiência de conciliação, marcada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para a próxima quarta (15). O magistrado sustou os efeitos dos decretos Executivo e Legislativo no dia 4.

Em relação à Motta, Haddad chegou a declarar na semana passada que “quando um não quer, dois não brigam”, ao afirmar que aguardava uma ligação de Motta sobre o tema. “Nós não vamos brigar, porque, no caso aqui, nenhum dos dois quer. Nós temos muitos amigos em comum”, complementou o ministro.

Gleisi tem adotado um tom aparentemente conciliador. Antes da reunião na Residência Oficial da Câmara, a ministra fez chegar ao deputado a mensagem de que o governo desejava conversar sobre o tema. Após a derrubada do IOF pelo Congresso, chegou até mesmo a sair em defesa do deputado (veja mais adiante).

Divergência sobre reoneração dos combustíveis

A postura amistosa entre Gleisi e Haddad não se compara ao clima bélico, de divergência e ataques mútuos que vigorou no início do terceiro mandato de Lula. Um dos primeiros sinais de atrito ocorreu em fevereiro de 2023, quando Gleisi, que era presidente do PT, criticou a proposta do ministro Haddad para a reoneração dos combustíveis.

“Não somos contra taxar combustíveis, mas fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação”, disse ela no Twitter (como então se chamava a rede social X). A petista foi uma das principais opositoras da medida, classificada como uma quebra de compromisso de campanha de Lula.

Mesmo que o tema não tenha sido tratado na publicidade eleitoral lulista, a interpretação de Gleisi levou em conta a promessa de levar alívio ao bolso da população após o avanço da carestia.

Por outro lado, Haddad defendia a volta da cobrança de PIS, Cofins e Cide sobre os combustíveis para o equilíbrio das contas públicas. Lula defendeu o ministro, chamando para si a responsabilidade pela retomada dos impostos.

Gleisi recuou e ajustou seu discurso após o aval de Lula à medida, afirmando que o presidente teve “sensibilidade” para reduzir o impacto da reoneração dos combustíveis no “bolso do consumidor”.

Para Gleisi, arcabouço deixou margem pequena para gastos

Outro ponto amplamente criticado por Gleisi em 2023 foi o arcabouço fiscal, principalmente o limitador de gastos da regra, segundo o qual as despesas podem crescer até 2,5% acima da inflação. Na visão de uma ala do PT, compartilhada publicamente por Gleisi, essa limitação poderia comprometer o cumprimento das promessas de campanha.

Posteriormente, em março deste ano, ao assumir a Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi afirmou que achava o limite “muito pequeno” para as despesas. Em entrevista ao podcast PodK Liberados, do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), ela ainda afirmou que, apesar de sua discordância, a medida havia sido discutida e aprovada pelo Congresso. “Vida que segue”, disse.

Em abril de 2023, a petista ainda se queixou por ter sido “surpreendida” com uma possível proposta da equipe econômica para alterar os pisos de gastos da educação e da saúde, considerados uma “bandeira histórica do partido”. “O ministro (Haddad) nunca falou sobre isso conosco. Espero que o debate não seja encaminhado dessa forma”, disse Gleisi ao jornal O Globo, naquela ocasião.

Gleisi defendeu déficit como impulsionador do crescimento

Em agosto de 2023, a divergência em relação ao limite de gastos se aprofundou ainda mais quando Gleisi se opôs à meta de déficit zero para as contas públicas de 2024, estipulada pelo ministro Haddad no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO).

A petista expressou ceticismo em relação à meta, argumentando que a expectativa de arrecadação poderia ser frustrada. Caso isso ocorresse, seria necessário um “forte contingenciamento”, o que comprometeria os investimentos do governo em diversas áreas. “Não há necessidade de fazermos isso em um quadro que precisamos estimular o crescimento econômico”, disse Gleisi em oposição a Haddad.

Em outubro do mesmo ano, o embate se intensificou, quando a petista repercutiu declaração do presidente Lula de que o governo “dificilmente” atingiria a meta fiscal de déficit zero em 2024.

Gleisi interpretou a fala de Lula como uma “assumida responsabilidade” ao classificar a meta como “inexequível”. A petista se referiu à necessidade de manter os investimentos necessários para o país se “desenvolver, gerar emprego e ter crescimento”, acrescentando que “não pode ter meta fiscal zero e fome mil”.

PT avaliou meta de déficit zero como “austericídio fiscal”

Em dezembro daquele ano, na conferência eleitoral do PT, Gleisi voltou a criticar a meta zero defendida por Haddad e defendeu que deveria ser um déficit de 1% do PIB, o que garantiria maior crescimento econômico para o país.

Além disso, um documento da maior ala do PT, à qual Lula e Gleisi são associados, classificou a meta zero proposta pela equipe econômica de “austericídio fiscal”. No entanto, também colocou a culpa no então presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país”, trazia o documento.

Em debate com Gleisi durante a conferência, Haddad se opôs a essa visão. “Não é verdade que déficit faz crescer”, disse. “Não existe essa correspondência. Não é assim que funciona. Depende”.

Como ministra, Gleisi muda o discurso em relação a Haddad

A mudança de postura em relação ao ministro da Fazenda e às medidas da equipe econômica veio com o cargo de ministra das Relações Institucionais. Na ocasião, Gleisi admitiu as discordâncias anteriores, mas disse que na nova posição, seu objetivo era “somar”.

“Posso ter minhas críticas, posições divergentes. Eu acho que isso é normal em um processo democrático e no processo que temos de formação de governo. Mas nesse lugar da SRI [Secretaria das Relações Institucionais] estou aqui para facilitar a vida do governo, do presidente e dos ministros que executam as políticas”, afirmou.

Naquele momento, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, chegou a descrever Haddad como um “verdadeiro herói” por “enfrentar resistência do próprio partido” nas questões fiscais. Da mesma forma, aliviou a barra de Gleisi, dizendo que sua postura crítica era inerente ao papel de presidente do PT.

Gleisi saiu em defesa até do Centrão

Antes da distenção promovida na reunião desta terça-feira (8), Gleisi já tinha saído em defesa do presidente da Câmara, após o Congresso derrubar o decreto presidencial que aumentou o imposto.

Em suas redes, a ministra afirmou que “a divergência e a disputa política” são parte da democracia. “Mas nada disso autoriza os ataques pessoais e desqualificados nas redes sociais contra o presidente da Câmara, deputado @HugoMottaPB, o que repudio”, disse em seu perfil no X.

Apesar de ter sido contrária ao aumento de impostos no início do terceiro mandato de Lula, Gleisi adotou o mote da “justiça tributária” em defesa do IOF. De forma ambigua ao tom conciliatório adotado em relação a Motta, a retórica tem sido repetida por Haddad e outros integrantes do governo e é interpretada como uma ofensiva do Executivo em oposição ao Congresso — com ênfase no discurso do “nós contra eles“.

“O que está faltando nesse esforço para equilibrar as contas é a contribuição do chamado andar de cima, que não paga imposto pelo rendimento de aplicações financeiras, pelos lucros e dividendos distribuídos aos acionistas, que goza de isenções fiscais injustificáveis e são os que lucram com a escandalosa taxa de juros”, disse a ministra recentemente, em seu perfil do X.

A atual convergência entre Gleisi e Haddad não deixa de ser uma mudança significativa na dinâmica interna do governo Lula, mas deixa dúvidas se será um realinhamento real ou somente uma aliança de ocasião frente a um inimigo comum – neste caso, o Congresso. 

O episódio, contudo, não deixa de mostrar como as pressões externas têm o poder de reconfigurar rapidamente os alinhamentos políticos dentro do governo Lula, transformando antigos desafetos em parceiros, circunstanciais ou não.

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