A agência Bloomberg publicou na sexta-feira (22) uma reportagem sobre a família Bolsonaro, afirmando que o clã político brasileiro “range sob pressão” do julgamento que apura uma suposta tentativa de golpe. O texto descreve “divisões fraturantes” entre Jair Bolsonaro e seus filhos, destacando mensagens em que Eduardo chama o pai de “ingrato” e “obstáculo” aos seus esforços de ajuda.
O veículo relata que Eduardo Bolsonaro tentou usar sua proximidade com Donald Trump para ajudar o pai, e relembrou que, quando o presidente dos EUA ameaçou impor tarifas de 50% ao Brasil em julho, Eduardo comemorou como um triunfo diplomático. Mas o entusiasmo não foi compartilhado dentro da própria família.
“O homem mais poderoso do mundo está do seu lado. Se o principal beneficiário não consegue nem postar um tweet leve, estamos ferrados”, diz um trecho das mensagens de Eduardo ao pai, contidas no relatório da PF, reproduzido pela publicação.
A Bloomberg também ressalta os trechos mais fortes das conversas, com os que Jair Bolsonaro chamou o filho de “imaturo”, ao que Eduardo respondeu de forma agressiva: “Vai se f**, seu ingrato desgraçado. Você é meu maior obstáculo para tentar te ajudar”. Para a agência essas trocas evidenciam “as divisões fraturantes dentro da família”.
Eduardo radical, Flávio operador
O texto também contrapõe os estilos dos filhos mais velhos. Eduardo, descrito como favorito do “setor mais radical” da base bolsonarista, mantém laços estreitos com aliados de Trump e figuras da direita global, e admite publicamente ambição presidencial: “Já me coloquei à disposição e continuo aberto a isso. Se for da vontade de Deus, seguirei esse caminho”, disse à Bloomberg.
Flávio, por outro lado, é retratado como o “operador astuto” do clã, empenhado em construir pontes com partidos do centro e investidores em Brasília, preocupado com a percepção de que outro Bolsonaro na urna poderia favorecer a reeleição de Lula.
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Malafaia crítico, Michelle em xeque
Até aliados próximos aparecem como críticos. O pastor Silas Malafaia, segundo mensagens citadas pela reportagem, teria enviado recado direto a Bolsonaro: “Esse seu filho, Eduardo, é um idiota. Ele acabou de entregar à esquerda uma narrativa nacionalista. E, ao mesmo tempo, está te prejudicando”.
A Bloomberg também descreve Michelle Bolsonaro como uma figura política “mais ativa em eventos voltados a mulheres”, mas que “nunca conquistou totalmente a confiança política da família”. O texto sugere que ela é cogitada para disputar o Senado, mas ironiza a falta de apoio do marido: Bolsonaro teria dito que só aceitaria sua candidatura presidencial se ela se comprometesse a nomeá-lo chefe da Casa Civil.
Futuro incerto
A reportagem ressalta que a incapacidade da família de montar uma “estratégia coesa e de longo prazo” pode custar caro não apenas aos Bolsonaro, mas também à direita brasileira, que até pouco tempo era considerada favorita para 2026. Segundo analistas citados, aliados e empresários pressionam para que o ex-presidente apoie alternativas como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.