Durante a manifestação pacífica de 7 de Setembro na Avenida Paulista, o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do evento, disse que o ministro Alexandre de Moraes pratica perseguição política e religiosa sem precedentes na história brasileira. “Eu achei que estava demorando muito para chegar a minha vez”, afirmou à multidão.
Malafaia está impedido de deixar o país desde o dia 20 de agosto, quando teve o passaporte apreendido ao desembarcar de um voo de Lisboa no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Na ocasião, por ordem de Alexandre de Moraes, foram apreendidos também três cadernos de anotações bíblicas, como parte de uma investigação de supostos crimes de coação no curso do processo e obstrução da justiça envolvendo organização criminosa.
“Eu estava em Portugal, se quisesse fugir, eu ficava em Portugal onde tenho igreja ou ia para a América. Mas sabe o que é isso? É intimidação. Só se apreende passaporte por uma questão grave onde existe risco iminente de fuga. E eu estava chegando aqui, para vocês verem a covardia, a ilegalidade e a imoralidade do Alexandre de Moraes. Sou um conferencista internacional, tenho agenda no exterior e não posso sair. Ele impede o livre exercício de minha função, isso é perseguição religiosa”, criticou o pastor.
Métodos comparados aos da polícia secreta nazista
Malafaia chamou parte da Polícia Federal que atua mais próxima do ministro de “Gestapo de Alexandre de Moraes”, numa referência ao que seriam métodos parecidos com os da polícia secreta do regime nazista. Ao mesmo tempo em que os inquéritos são declarados sigilosos, são feitos vazamentos seletivos para criar conflito entre políticos de direita.
O pastor lembrou que é amigo de Bolsonaro há 20 anos, e que isso acaba lhe dando alguma liberdade com o ex-presidente. “De vez em quando eu falo um negócio indevido, eu reconheço, mas é melhor falar uma coisa indevida do que destruir a democracia brasileira. Mas ele vaza isso para denegrir minha imagem perante a opinião pública brasileira e evangélica. Mas isso é minha defesa, porque eu critico e eu elogio o Eduardo, eu critico o Bolsonaro. Como é que tem conluio? Parece que Bolsonaro, Eduardo e Paulo Figueiredo são da ‘escolinha do Tio Silas’. É tudo do jardim da infância que o tio Silas comanda. Para vocês verem o nível da covardia”, sustentou Malafaia.
O pastor desafiou Moraes a vazar conteúdos de conversas no celular apreendido. “Alexandre de Moraes, vaze que os vídeos que eu publico eu mando para quatro ministros do STF, direto no telefone deles. Vaze. Esses ministros estão em conluio? Claro que não. Não tem vídeo secreto. Qual é o meu crime? Eu estou mostrando para vocês o que esse cara faz”, desabafou.
Dilma e o discurso de “traição da pátria”
Sobre o suposto crime de traição da pátria que a esquerda tenta imputar a quem apoia as sanções de Trump ao Brasil, Malafaia ironizou, dizendo que parte da imprensa “tem amnésia”. Ele lembrou que em 2016 a ex-presidente Dilma Rousseff convocou a imprensa em Nova York e pediu sanções contra o Brasil, “porque havia em curso um golpe contra ela”. “Quando é a direita, é traidor da pátria. Quando é esquerda, é direito”, resumiu.
Para Malafaia, os ministros do STF não acreditam que houve golpe de Estado. Se acreditassem, apontou, Bolsonaro estaria sendo julgado pelo plenário do Supremo. “Lula foi julgando no plenário por corrupção. Bolsonaro e os outros acusados por golpe de Estado são julgados numa Turma. Que justiça é essa? Ele está sendo julgado numa Turma com três suspeitos – Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino. Sabe para quê? Para acelerar o processo e prender Bolsonaro. Isso é um circo, não é julgamento”.
O líder evangélico aproveitou o ato público para fazer um desagravo ao governador Tarcísio de Freitas. “O Tarcísio é meu amigo. Já fiz críticas públicas e no privado, ele sabe. Mas agora esse cara está sendo um leão em favor da anistia”, reconheceu, e destacou que não é hora de “dizer que A, B ou C é candidato da direita”.
Ao fim do discurso, Malafaia mandou dois recados. Primeiro, para Bolsonaro: “Meu amigo, Deus é especialista em transformar caos em bênção. Vai chegar a hora”. E também para Alexandre de Moraes: “Eu vou parafrasear o que disse Davi para Golias. Escute Alexandre de Moraes, tu vens a mim com toga, com o seu poder e a sua injustiça. Porém, eu venho a ti em nome do Deus todo-poderoso, a quem tu tens afrontado. E Ele vai te derrotar no tempo certo”.