Em missa celebrada nesta manhã na Praça de São Pedro, no Vaticano, o papa Leão XIV declarou São John Henry Newman doutor da Igreja e copadroeiro da educação católica, ao lado de São Tomás de Aquino. A cerimônia, que ocorreu na solenidade de Todos os Santos, também marcou o encerramento do Jubileu do Mundo Educativo, um dos vários eventos programados para este ano jubilar de 2025 e que contou com a divulgação de um novo documento papal, uma carta apostólica intitulada Desenhando novos mapas de esperança.
Com a proclamação deste sábado, o inglês Newman se torna o 38.º santo católico a receber o título de doutor da Igreja, concedido aos que ofereceram contribuições significativas para a doutrina católica por meio de seus escritos ou ensinamentos. A lista inclui Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São Jerônimo, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha do Menino Jesus. Ainda não existe nenhum doutor da Igreja que tenha vivido no século 20; a congregação dos carmelitas descalços está reunindo documentação para conseguir o título para Santa Teresa Benedita da Cruz, filósofa judia alemã que se converteu ao catolicismo e morreu no campo de concentração de Auschwitz.
Newman, que era padre anglicano, se converteu ao catolicismo após estudar profundamente a doutrina católica, e foi recebido formalmente na Igreja aos 44 anos, em 1845, sendo ordenado sacerdote menos de dois anos depois, e nomeado cardeal em 1879, pelo papa Leão XIII. Atendendo a um pedido dos bispos irlandeses, Newman foi reitor da então recém-criada Universidade Católica da Irlanda, e publicou algumas de suas ideias sobre como deveria ser uma instituição educacional católica em um livreto chamado A ideia de uma universidade, defendendo um equilíbrio entre a liberdade de cátedra e pesquisa e a necessidade de as instituições preservarem sua identidade católica, respeitando a doutrina. Além disso, Newman liderou outras iniciativas de cunho educacional.
“Encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz.”
Papa Leão XIV, na homilia da missa em que São John Henry Newman foi proclamado doutor da Igreja.
Niilismo é a “doença mais perigosa da cultura contemporânea”, diz Leão XIV
Em sua homilia na manhã deste sábado, Leão XIV destacou o papel de Newman como uma pessoa de “imponente estatura cultural e espiritual”. O papa acrescentou que “entre a duradoura herança de São John Henry encontram-se alguns contributos muito significativos para a teoria e a prática da educação. ‘Deus – escreveu ele – criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não a chegue a conhecer nesta vida, mas ela ser-me-á revelada na vida futura’. Nestas palavras, encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus”.
Leão XIV, que foi professor de Física e Matemática em uma escola católica de ensino médio de Chicago enquanto era noviço da ordem agostiniana, também disse na homilia que “a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a tornarem-se santos”. Aos educadores, afirmou que “devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea” e que “é tarefa da educação oferecer esta Luz Terna [referência a um hino composto por Newman] àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo”. O papa ainda aconselhou: “‘Brilhai hoje como astros no mundo’, graças à autenticidade do vosso empenho na busca conjunta da verdade, na sua partilha coerente e generosa, através do serviço aos jovens, em particular aos pobres, e na experiência quotidiana de que ‘o amor cristão é profético, realiza milagres’”, e retomou este tema ao fim da homilia ao dizer que “no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade”.
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Olhar para o alto em vez de olhar para o smartphone, pede o papa a estudantes
O Jubileu do Mundo Educativo começou em 27 de outubro, quando Leão XIV celebrou uma missa com os estudantes das universidades pontifícias de Roma. No mesmo dia, ele assinou a carta apostólica Desenhando novos mapas de esperança (ainda sem tradução oficial para o português), por ocasião do 60.º aniversário da declaração conciliar Gravissimum educationis, do Concílio Vaticano II. Ontem, 31 de outubro, o papa ainda recebeu membros da Organização das Universidades Católicas da América Latina e do Caribe, e participou de um evento com educadores na Praça de São Pedro.
Em 30 de outubro, o papa recebeu estudantes e recordou sua época de professor. “Deixai-me fazer convosco algumas contas. Tereis em breve o teste de Matemática? Vejamos… Sabeis quantas estrelas existem no universo observável? É um número impressionante e maravilhoso: um sextilião de estrelas – 1 seguido de 21 zeros! Se as dividíssemos entre os 8 biliões de habitantes da Terra, cada pessoa teria para si centenas de biliões de estrelas”, disse, usando o tema das estrelas, tradicionalmente usadas como guias por navegadores, agricultores e viajantes, para aconselhar os jovens. “Também vós tendes estrelas-guias: os pais, os professores, os sacerdotes, os bons amigos, bússolas para não vos perderdes entre as alegrias e tristezas da vida”, disse o papa, acrescentando que a educação é “um telescópio que permite olhar além, descobrir o que sozinhos não conseguiríeis ver” e pedindo aos estudantes que “não vos limiteis a olhar para o smartphone e para os seus fugazes fragmentos de imagens: olhai para o Céu, olhai para o alto”.
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