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“Kit reeleição” de Lula pode levar economia a pouso forçado em 2027

O “kit reeleição” que o Congresso Nacional está dando ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arma uma bomba-relógio econômica que pode explodir em 2027. Medidas como a ampliação de programas sociais, mudanças tributárias e outros tipos de benefícios à população de menor renda ou da classe média são populares no curto prazo, mas escondem uma realidade de risco fiscal insustentável.

Com a dívida pública caminhando para 84% do PIB ao fim de 2026 e mais de 90% do Orçamento federal engessado, quem assumir o Palácio do Planalto em 2027 enfrentará um dilema dramático: promover um dos maiores cortes de gastos da história recente ou abandonar o arcabouço fiscal — o conjunto de regras que tenta limitar os gastos públicos.

O risco de um “pouso forçado” na economia

Economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e da Mapfre Investimentos avaliam que o pacote de estímulos para beneficiar Lula na campanha eleitoral em 2026 criará um cenário insustentável para os cofres públicos.

Mais do que projeções teóricas, os primeiros sinais dessa deterioração já são visíveis: a rigidez dos gastos e o crescimento acelerado da dívida se refletem em juros mais altos e inflação persistente.

A trajetória do endividamento público ilustra essa deterioração progressiva. O indicador saltou de 71,7% do PIB em dezembro de 2022 para 77,5% em julho de 2025, segundo dados do BC. O pior ainda está por vir: o Instituto Fiscal Independente (IFI) projeta que a dívida chegará a 82,4% do PIB no fim de 2026, enquanto a mediana das expectativas do mercado financeiro aponta para 84%.

Por trás desse crescimento acelerado no endividamento há uma causa estrutural. O núcleo do problema está na rigidez orçamentária: mais de 90% dos gastos primários da União — aqueles que excluem o pagamento de juros da dívida — são obrigatórios e crescem automaticamente, atrelados ao salário mínimo ou a fatores demográficos, como o envelhecimento populacional.

Essa característica estrutural limita drasticamente a capacidade de controle sem mudanças constitucionais profundas.

A flexibilização dos precatórios: adiando o inevitável

Diante desse cenário, seria natural esperar medidas de ajuste fiscal. No entanto, o governo optou por postergar o enfrentamento do problema. 

A PEC dos Precatórios (PEC 66/23), promulgada em setembro de 2025, exemplifica essa estratégia. Em vez de reduzir gastos, a medida exclui as despesas com precatórios — dívidas do governo reconhecidas pela Justiça — do limite de gastos do arcabouço fiscal e reduz drasticamente os juros dessas dívidas judiciais — de 15% ao ano (Selic, a taxa básica de juros da economia) para IPCA (índice oficial de inflação) mais 2%.

Adicionalmente, os gastos com precatórios não serão contabilizados para a meta de resultado primário de 2026 — o saldo entre receitas e despesas do governo, excluindo juros — e serão reincorporados gradualmente a partir do ano seguinte, à razão de 10% ao ano. Por essas razões, analistas classificam essa flexibilização como uma clara postergação do problema que corrói a confiança dos investidores.

Política fiscal e monetária ampliam rota de colisão com “kit reeleição”

O resultado imediato dessa estratégia de expansão fiscal é o conflito com a política monetária. Samuel Pessôa, pesquisador do FGV Ibre, calcula que os gastos públicos crescerão 3% em termos reais em 2026 — justamente no auge da campanha eleitoral. Esse timing não é coincidência, mas parte de uma estratégia deliberada de estímulo econômico.

A metáfora usada por Pessôa é precisa: “É como dirigir um carro com um motorista no acelerador e outro no freio”. Essa contradição tem custos concretos: enquanto o governo acelera os gastos (política fiscal expansionista), o Banco Central precisa elevar juros para conter a inflação (política monetária contracionista).

Como resultado dessa política contraditória, o Brasil mantém a segunda maior taxa real de juros do mundo — 9,5% ao ano, já descontada a inflação —, perdendo apenas para a Turquia (12,3% ao ano), segundo a consultoria financeira MoneYou.

Há outro risco. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, alerta que a economia ficará “artificialmente aquecida” no início de 2026. O fenômeno não é novo, tradicionalmente ocorre em janeiro com reajustes do salário mínimo e aposentadorias. Porém, desta vez, será potencializado pelo “kit reeleição”, gerando pressão inflacionária adicional quando a situação macroeconômica já está vulnerável.

O custo da paralisia política e as escolhas inevitáveis

Esse cenário foi alimentado pela estratégia fiscal de Lula no terceiro mandato. Diferentemente de administrações anteriores, ele inverteu o ciclo político tradicional, iniciando o mandato com forte impulso fiscal — com a Emenda Constitucional da Transição, que gerou aumento permanente de gasto de 1,7% do PIB — e buscando manter a economia aquecida até 2026. Nesse contexto, o “kit reeleição” soma R$ 251,9 bilhões em estímulos, incluindo o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e a expansão do Bolsa Família.

Agravando esse cenário já complexo, a Mapfre Investimentos projeta que não haverá avanços em reformas estruturais no médio prazo, seguindo o histórico de anos eleitorais brasileiros.

Os economistas da instituição são categóricos: “A economia brasileira apresenta uma das piores combinações entre nível de endividamento e crescimento do PIB. Essas nuvens no horizonte fiscal ficarão evidentes quando se estreitar ainda mais o espaço para cumprimento das metas através da redução de despesas discricionárias” — aqueles gastos que o governo pode cortar, como investimentos em infraestrutura.

Como consequência direta dessa paralisia reformista, o arcabouço fiscal corre o risco de se tornar letra morta antes de 2030. A análise do FGV Ibre sobre o Orçamento de 2026 confirma essa preocupação: “Não será lembrado pelos recursos destinados a cada ministério, mas pelo enredo que procurou construir: o de um governo que, em meio ao peso da dívida e às pressões eleitorais, buscou conciliar disciplina fiscal com preservação da agenda social”.

Depois do “kit reeleição”: uma encruzilhada em 2027

Todas essas peças se encaixam em um cenário inevitável. Segundo Pessôa, “juros elevados já encurtaram o horizonte temporal da economia” — investimentos produtivos tornaram-se inviáveis, restando apenas a manutenção artificial do consumo via gasto público. Quando esse último motor da economia também falhar, o ajuste será inevitável.

A matemática fiscal não permite ilusões: com mais de 90% dos gastos engessados e a dívida aproximando-se de 84% do PIB, o ajuste de 2027 não será questão de escolha política, mas de necessidade matemática.

Nesse contexto, o próximo presidente enfrentará apenas duas opções: implementar cortes históricos em programas sociais e direitos adquiridos, ou mudar as regras fiscais para acomodar um Estado maior e mais caro — arriscando uma crise de confiança e espiral inflacionária.

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