O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou nesta quarta-feira (3) que o país planeja “aplicar soberania” sobre 82% da Cisjordânia, território que atualmente pertence aos palestinos.
A declaração foi feita em coletiva de imprensa em Jerusalém e repercutida pela agência turca Anadolu. Segundo Smotrich, o objetivo da medida é impedir a criação de um Estado palestino.
“A soberania israelense será aplicada a 82% do território”, disse ele.
O ministro, líder do partido nacionalista israelense Sionismo Religioso, acrescentou que é chegada a hora de encerrar a divisão do território e consolidar o controle de Israel na região.
“É hora de aplicar a soberania israelense na Judeia e Samaria (como Israel chama a Cisjordânia) e remover de uma vez por todas a ideia de dividir nossa pequena terra”, declarou.
Smotrich detalhou que os assuntos palestinos, hoje sob administração da Autoridade Palestina, serão posteriormente transferidos para o que chamou de “alternativas de gestão civil regional”.
Ele ressaltou o princípio que guiaria a anexação da Cisjordânia será o de “máxima terra com mínima população árabe”. Ao rejeitar definitivamente a proposta de dois Estados, o ministro afirmou: “Nunca haverá, e nunca poderá haver, um Estado palestino em nossa terra. Se a Autoridade Palestina ousar se levantar e tentar nos prejudicar, vamos destruí-los assim como fazemos com o Hamas”.
A medida é apresentada como uma resposta ao movimento de diversos países ocidentais que pretendem reconhecer oficialmente o Estado da Palestina durante a Assembleia Geral da ONU, que ocorre entre os dias 8 e 23 de setembro nos EUA. Bélgica, França, Reino Unido, Canadá e Austrália anunciaram recentemente planos nesse sentido, juntando-se aos 147 países, entre eles o Brasil, que já reconheceram. Para Smotrich, a anexação da Cisjordânia seria um “passo preventivo” diante dessa pressão internacional.
Na mesma linha, Smotrich pediu ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que tome uma decisão histórica para formalizar a anexação de todas as áreas abertas da Cisjordânia.
Em agosto, o governo israelense já havia aprovado o projeto conhecido como E1, que prevê a expansão de assentamentos em uma região estratégica próxima a Jerusalém, dividindo a Cisjordânia em duas e isolando a parte oriental da cidade.
A fala de Smotrich já gerou forte reação regional. Segundo a BBC, os Emirados Árabes Unidos advertiram Israel nesta quinta-feira (4), afirmando que a anexação da Cisjordânia ultrapassaria uma “linha vermelha” e enfraqueceria o espírito dos Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre os dois países em 2020. Lana Nusseibeh, alta funcionária do Ministério das Relações Exteriores dos Emirados, declarou que “a anexação na Cisjordânia constituiria uma linha vermelha para os Emirados. Enfraqueceria severamente a visão e o espírito dos Acordos, encerraria a busca pela integração regional e alteraria o consenso amplamente compartilhado de que a trajetória deste conflito deve ser a de dois Estados vivendo lado a lado em paz, prosperidade e segurança”.
A Autoridade Palestina classificou o plano de Smotrich como uma ameaça direta às esperanças de independência. Atualmente, cerca de 3,3 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia, onde Israel já construiu aproximadamente 160 assentamentos que abrigam cerca de 700 mil israelenses desde a guerra de 1967. As construções são consideradas ilegais pelo direito internacional, embora Israel rejeite essa interpretação.