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O esperado encontro em Brasília entre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ocorrido nesta segunda-feira (29), expôs os impasses que cercam a dificuldade de a direita e a centro-direita lançarem o seu candidato ao Planalto em 2026.
As divergências passam pela pauta da anistia, em debate no Congresso, pelos conflitos dentro da própria família Bolsonaro e pela pressão internacional liderada pela Casa Branca, que impôs tarifas ao comércio e balançou a estratégia direitista. O resultado é um cenário de incerteza que dificulta a unidade.
Segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, este contexto levou Tarcísio a adotar um recuo tático. Na saída do almoço com Bolsonaro na residência do ex-presidente, onde ele cumpre prisão domiciliar, Tarcísio reiterou que quer disputar a reeleição em São Paulo. Leia-se: é preciso dar tempo ao tempo.
Tarcísio enaltece solidariedade a Bolsonaro e descarta negociação eleitoral
Durante três horas de reunião, Tarcísio mostrou solidariedade ao aliado e disse que não tratou de planos eleitorais. “É muito triste ver o presidente na situação que está”, disse. Fontes próximas aos dois apontam receios de que um anúncio precipitado de candidatura geraria desgastes irreversíveis.
Acompanhado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do vereador Jair Renan (PL-SC), Tarcísio relatou que o encontro foi um gesto de amizade e que Bolsonaro segue sendo alvo de perseguição judicial. “A gente vai estar aqui do lado dele sempre, sem nenhum tipo de interesse”, disse após o almoço.
Ainda assim, o gesto foi interpretado como movimento calculado. Em meio à pressão de partidos do centrão e de setores do mercado, que querem a candidatura de Tarcísio à Presidência, ele optou por reafirmar a busca pela reeleição. A declaração, porém, não encerrou as fortes especulações.
Tarcísio defende anistia ampla e condena projeto para apenas reduzir as penas
Apesar de Tarcísio afirmar ao fim do encontro que não tratou da anistia com Bolsonaro, ele voltou a defender o projeto como único caminho de pacificação nacional, criticando a imposição do relator Paulino da Força (Solidariedade-SP) de prever só a redução de penas, a chamada dosimetria.
O governador também fez críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de usar “instrumentos de pressão” contra políticos de direita. Na sua avaliação, a redução de penas não corrige injustiças e mantém a perseguição sobre o campo conservador.
No Congresso, porém, a tramitação da proposta segue travada. O relator já antecipou que defenderá só a diminuição das penas, sem perdão amplo. O impasse coloca em risco o desfecho do tema antes das eleições e se tornou fator decisivo para a definição da candidatura da direita ao Planalto.
Para analistas, escolha de Tarcísio pela reeleição é apenas recuo estratégico
Leandro Gabiati, diretor da consultoria Dominium, acredita que o tempo de quase um ano da disputa é considerável quando se fala em candidaturas. “A percepção é que a declaração do governador quanto à opção de ir pela reeleição em São Paulo seria mais um recuo tático para se preservar”, avalia.
O cenário também foi marcado pelo recuo de Michelle Bolsonaro. No fim de semana, a ex-primeira-dama deixou claro que não quer ser candidata à Presidência e que seguirá como porta-voz do marido. A decisão fortaleceu a expectativa de que Tarcísio seria o nome natural para disputar o Planalto.
Para João Henrique Hummel Vieira, diretor da consultoria Action, a crise entre Câmara e Senado desde o fim da PEC da Imunidade (que queria impedir que o STF processasse parlamentares por suas falas e opiniões) indica que a pauta da anistia dificilmente terá avanço rápido. “O desfecho desse impasse dentro do Legislativo será decisivo para definir o futuro do país”, disse.
A Proposta de Emenda à Constituição da Imunidade, também conhecida como PEC das Prerrogativas foi arquivada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
Maiores resistências contra candidatura de Tarcísio vêm do entorno de Bolsonaro
Embora conte com simpatia de líderes do centrão, como Ciro Nogueira (PP-PI), e de setores do mercado, Tarcísio enfrenta a maior resistência entre os aliados mais próximos de Bolsonaro. A principal oposição vem do filho do ex-presidente, deputado Eduardo (PL-SP), que pressiona para uma candidatura presidencial própria, em confronto com o PL.
Flávio Bolsonaro, por sua vez, aposta na unidade. “Independentemente de como as coisas vão transcorrer daqui para frente, eu, Tarcísio e os partidos de centro-direita vamos estar juntos em 2026”, disse. O senador, contudo, condicionou a definição do nome presidencial à anistia, adiando o anúncio.
Partidos seguem articulações por alternativas em meio às indefinições
Nome mais competitivo da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas de 2026, Tarcísio escancarou na sua visita a Bolsonaro a encruzilhada da direita: sem anistia aprovada e com disputas internas abertas, não há espaço para anunciar candidatura presidencial.
Neste sentido, a postura de Tarcísio em reafirmar a candidatura estadual tem dupla função: preservar-se de ataques antecipados e manter o espaço aberto até que o destino da anistia seja decidido. A estratégia, avaliam analistas, ajuda a reduzir tensões internas enquanto a direita se reorganiza.
No PL, dirigentes também avaliam que a candidatura de Eduardo ao Senado é mais viável, mas não divulgam alternativas diante do risco de inelegibilidade do deputado. Outros nomes, como Ricardo Salles (Novo) e Guilherme Derrite (PP), circulam como opções para compor a chapa paulista de 2026.
