O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil tem uma “inversão de valores” no debate sobre políticas econômicas. Segundo ele, iniciativas que auxiliam a população mais pobre são tratadas como populismo, enquanto as que favorecem os mais ricos são vistas como avançadas.
“Tudo o que você faz para as camadas mais vulneráveis é populismo, no Brasil, virou populismo, tudo o que você faz em proveito dos ricos é moderno, é uma coisa avançada. É uma inversão de valores”, disse Haddad nesta terça-feira (14), na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
O tema da audiência é a proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) e a taxação dos mais ricos. O texto foi aprovado por unanimidade pela Câmara dos Deputados e agora tramita no Senado.
Haddad defendeu a proposta do governo, argumentando que ela trará mais “justiça social” e ajudará a reduzir as desigualdades existentes no país. Segundo o ministro, a medida beneficia 25 milhões de brasileiros, com isenção e descontos, ao mesmo tempo em que aumenta a taxação sobre 200 mil contribuintes do “andar de cima”.
Ministro cita alternativas à MP 1.303, que taxava aplicações
Questionado sobre as opções do governo após a perda de validade da MP 1.303 — que aumentava a taxação de aplicações, apostas esportivas (bets) e fintechs —, o ministro afirmou que a equipe econômica se reunirá com o presidente Lula para discutir alternativas.
Ainda sob o discurso de “justiça tributária”, Haddad voltou a defender a taxação que o governo apelidou de “BBB”: bilionários, bancos e bets. Sobre as apostas online — cuja tributação subiria de 12% para 18% caso a MP 1.303 fosse aprovada —, o ministro comparou a carga brasileira à de outros países e afirmou que a taxação sobre esse tipo de atividade no exterior é bem maior.
Haddad também observou que “ninguém questiona” a necessidade de sobretaxar atividades e produtos que podem causar dependência, como cigarro e álcool, ao justificar a elevação da alíquota das apostas.
Governo contava com MP 1.303 para fechar as contas em 2026
Como mostrou a Gazeta do Povo, o governo Lula considera diferentes alternativas para recompor a arrecadação que seria obtida com a MP 1.303, considerada essencial para viabilizar o orçamento de 2026.
Entre as possibilidades estão o aumento das alíquotas sobre bets e fintechs, a limitação na concessão de créditos tributários, corte nas emendas parlamentares — que Haddad disse poder passar de R$ 7 bilhões —, e novos reajustes do IOF, entre outras medidas.
Sobre a alíquota cobrada sobre as fintechs, Haddad disse que não entende como uma empresa dessa natureza, que pode chegar a ser cinco vezes maior do que um banco tradicional, tem uma alíquota menor.