quarta-feira , 27 agosto 2025
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Entre abraços e escutas: documento revela planos da Rússia para conter ambições da China

Apesar do discurso público de amizade e cooperação “sem limites”, a Rússia está mantendo uma postura cada vez mais desconfiada diante do avanço da influência chinesa em seu território e áreas de interesse estratégico.

Um memorando interno do Serviço Federal de Segurança (FSB), obtido pelo jornal americano New York Times em junho e autenticado por agências ocidentais, revelou como a cúpula da inteligência russa vê o regime de Pequim não apenas como parceiro econômico, mas também como rival e potencial ameaça em múltiplos flancos – da espionagem tecnológica à disputa territorial.

Segundo o documento, que circulou entre setores estratégicos do FSB, o temor de que a China amplie sua influência sobre regiões historicamente controladas por Moscou, como a Ásia Central, o Extremo Oriente e o Ártico, está no centro das preocupações do aparato de segurança russo. O texto detalha a implementação de um programa especial de contrainteligência, batizado de “Entente-4”, criado dias antes da invasão à Ucrânia, justamente para conter possíveis tentativas de espionagem e cooptação chinesa em um momento de vulnerabilidade para o Kremlin.

Segundo o relatório, desde o início da guerra na Ucrânia, cresceram de forma significativa as tentativas chinesas de recrutar funcionários do governo, cientistas, jornalistas e empresários russos. Essas investidas incluem pressões, promessas de benefícios financeiros e tentativas de obtenção de informações estratégicas. Para responder a essas ameaças, o FSB determinou o reforço da vigilância sobre cidadãos russos com vínculos com Pequim, especialmente aqueles que trabalham ou estudam na China. Entre as medidas recomendadas estão reuniões presenciais de advertência e o monitoramento constante dos cerca de 20 mil estudantes russos que vivem em território chinês.

O memorando também detalha ordens para a “acumulação constante de informações” sobre cidadãos russos que utilizam o aplicativo chinês WeChat, incluindo a invasão de telefones e a análise de dados por meio de ferramentas especializadas do FSB. A preocupação vai além da espionagem tradicional, abrangendo possíveis tentativas de manipulação histórica e política. O documento cita, por exemplo, que acadêmicos chineses têm buscado indícios da presença de antigos povos chineses em regiões russas do Extremo Oriente. Além disso, aponta que, em 2023, o regime chinês publicou mapas oficiais atribuindo nomes históricos chineses a cidades da Sibéria e do Extremo Oriente russo.

Para Paul Kolbe, ex-oficial da CIA e pesquisador em Harvard ouvido pelo New York Times, a postura russa confirma um princípio antigo dos serviços secretos: “Não existem serviços de inteligência amigos. Não é preciso arranhar muito para encontrar, em qualquer oficial russo, uma desconfiança profunda em relação à China. No longo prazo, ela é uma ameaça potencial, apesar da parceria útil”, afirmou.

Em paralelo ao reforço na vigilância interna, o FSB tem orientado cautela no campo diplomático. De acordo com o documento, oficiais russos receberam ordens para não mencionar publicamente a China como ameaça, evitando criar crises políticas abertas. Analistas apontam que essa postura evidencia o dilema de Moscou: a Rússia depende cada vez mais da parceria com Pequim para contornar sanções ocidentais e manter sua economia funcionando, mas teme perder influência e controle em áreas estratégicas — especialmente diante do avanço chinês nos setores de energia, mineração, tecnologia militar e acesso ao Ártico.

O documento também aponta preocupação crescente com a atuação chinesa junto ao grupo mercenário Wagner e com o interesse de Pequim em importar conhecimento militar russo, principalmente nas áreas de drones e aviação. Segundo o relatório, a China estaria priorizando o recrutamento de ex-funcionários de institutos e fábricas de defesa da Rússia, aproveitando o encerramento de programas soviéticos e a instabilidade provocada pela guerra.

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