segunda-feira , 30 junho 2025
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Em meio à alta dos juros, Galípolo foi ouvir antecessores sobre sobre como lidar com crise

Seis meses após tomar posse na presidência do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, está com uma “batata quente” nas suas mãos. Só na sua gestão já foram quatro aumentos na taxa Selic, levando-a para 15% ao ano. É o maior nível desde 2006, na tentativa de conter a inflação, que há oito meses está acima do teto fixado pelo Conselho Monetário Nacional.

Indicado por Lula para o cargo, Galípolo ainda é poupado em público pela base aliada, apesar dos seguidos aumentos na Selic. Mas, indiretamente, recebe críticas.

Dias atrás o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reclamou do nível das taxas de juros, buscando culpar o presidente anterior do BC, Roberto Campos Neto, indicado de Jair Bolsonaro (PL). A questão é que Galípolo ocupou a diretoria de política monetária – um dos cargos mais importantes na hierarquia do banco – nos últimos dois anos da gestão de Campos Neto e discordou dele apenas uma vez nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Aproveitando as comemorações dos 60 anos do Banco Central, Galípolo reuniu-se nas últimas semanas, individualmente, com dez ex-presidentes da instituição para ouvir suas experiências em momentos cruciais da economia brasileira, incluindo a hiperinflação, o Plano Real, a crise financeira global de 2008, os desafios do governo Dilma e os impactos da Covid-19. As conversas foram gravadas e estão disponíveis no canal do BC no YouTube.

Os antecessores de Galípolo apontam que três posturas são fundamentais no comando da autoridade monetária, especialmente em momentos de crise:

  • habilidade política;
  • comunicação clara; e
  • foco no essencial

Habilidade política para proteger a autonomia do Banco Central

Muito mais do que conhecimento técnico, os ex-presidentes destacam que a principal cadeira do BC é a de ter uma apurada habilidade política. A competência é fundamental para protegera autonomia da instituição e tomar decisões impopulares, mas necessárias para a manter estabilidade econômica.

A interação com o Congresso é um campo de provas constante. Wadico Bucchi, que foi presidente entre junho de 1989 e março de 1990, foi o primeiro a ser sabatinado pelo Senado. Em meio a uma inflação crescente e a um cenário de pânico, os parlamentares queiram que ele assumisse o compromisso de “tabelar os juros” em 12% ao ano.

“Foi uma disputa superada com muita conversa e muita participação”, disse. Ele lembra que também teve de atuar como uma espécie de “porta-voz” para conciliar visões divergentes, um papel que exigia tato político.

Campos Neto, que comandou o BC entre 2019 e 2024, sentiu na pele a necessidade de desenvolver essa habilidade. Ao assumir, ele achava que não precisaria se envolver com o Congresso, mas rapidamente percebeu que precisava se envolver pessoalmente e falar com os congressistas para aprovar projetos.

A firmeza diante de outras esferas de poder é crucial. Pérsio Arida, que ocupou o cargo por cinco meses em 1995 e contribuiu para o saneamento bancário, enfrentou pressão de Mário Covas, então governador de São Paulo,ao intervir no Banespa, banco estadual e um dos maiores do país. Apesar da forte oposição política, Arida agiu convicto de que era preciso fazer “o que fosse necessário para não falhar” e evitar uma crise bancária e cambial combinada, cenário que considerava “imanejável”.

Ilan Goldfajn, presidente do BC durante o governo Temer (2016-18), descreve como uma “decisão muito solitária” não ajustar a meta de inflação em cenário de recessão e inflação elevada (11%), ato que exigiu enorme coragem política. Para sustentá-la, foi fundamental “explicar constantemente o que o Banco Central estava fazendo e por quê”.

Comunicação clara para gerar previsibilidade e confiança

Outro instrumento essencial, além da habilidade política, que os ex-presidentes destacaram a Galípolo é a necessidade de uma comunicação clara, precisa e direcionada ao público que se quer atingir. Segundo eles, em momentos de crise, a forma como as decisões são comunicadas pode ser tão importante quanto as próprias decisões.

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central por mais tempo na história, enfrentou a crise financeira global de 2008 com a insolvência de bancos internacionais e o corte de linhas de crédito ao Brasil.

Contrariando a prática usual de reduzir juros em crises, decidiu mantê-los elevados – uma decisão que exigiu nervos de aço. Na época, declarou que o BC estava preparado para substituir todo o sistema financeiro internacional no financiamento ao Brasil por um ano. Sobre o limite para venda de dólar futuro, foi categórico: “O que for necessário”.

Ele acredita que essa postura “acabou a crise” no Brasil, demonstrando o poder de uma comunicação decidida e de uma liderança serena sob extrema pressão. Para Meirelles, o maior conselho é: “Calma sob pressão”.

A abordagem contrasta com o passado de incerteza. Wadico Bucchi lembra que em 1989, durante o período de hiperinflação, havia muita incerteza, pois não havia comunicados e o mercado ficava no escuro: “Eles não sabem para onde vai a taxa de juros. Nós não sabemos para onde vai a taxa de juros”, lembra.

Gustavo Loyola, presidente em duas ocasiões, relembra o enorme desgaste pessoal de sua gestão, que liquidou mais de 100 instituições financeiras e enfrentou uma “pressão muito forte do Congresso”. Ele aponta que deveria ter “investido mais na comunicação”.

Campos Neto comandou o Banco Central durante a crise da Covid-19, enfrentando o que define como “exponencial idade das novas mídias”. Segundo ele, “um rumor na mídia social pode gerar quase uma corrida bancária”.

Aconselha Galípolo a ter paciência, lembrando que não se trata de “uma corrida de 100 metros”. Destaca ainda que o presidente fica “na defesa” diante de críticas, o que “gasta muito tempo”, enfatizando a importância de uma comunicação estratégica e serena.

Liderar com um plano claro e foco no essencial

Uma estratégia que é fundamental para o Banco Central durante as turbulências é manter o foco no essencial, apontam os ex-presidentes. Eles ressaltam que, em meio a crises, a dispersão de esforços pode ser fatal.

A capacidade de liderar com um plano claro e focar no que é verdadeiramente essencial acaba sendo um diferencial. Pedro Malan, um dos arquitetos do Plano Real e que foi presidente da instituição entre setembro de 1993 e dezembro de 1994, recorda que o sucesso do plano se deveu a um “programa de ação imediata que dava o sentido de rumo”, sustentado por um “núcleo duro” de economistas com convicções claras.

A lição ecoa nas gestões mais recentes. Campos Neto, que teve seu plano original desviado pela pandemia, aconselha seu sucessor a focar: não tente fazer projetos demais, tente focar em três ou quatro coisas” para garantir a execução.

Arminio Fraga, que implementou o regime de metas de inflação e esteve à frente da autoridade monetária entre 1999 e 2003, vai na mesma linha: “Focar no que importa, não inventa a não ser que seja absolutamente necessário”.

Um dos conselhos mais recorrentes dados pelos ex-dirigentes a Galípolo é manter a calma sob a pressão. Ilan Goldfajn, ao relembrar o estresse de sua gestão, aconselha a manter a perspectiva, pois “99% dessas coisas vai passar”. Eles ressaltam que é essa serenidade é o que permite a uma liderança transmitir confiança, evitar a volatilidade e garantir que o Banco Central cumpra sua missão de zelar pela estabilidade da moeda, mesmo nos cenários mais desafiadores.

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