Um dos encontros mais esperados da República finalmente ocorreu. No Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente e réu Jair Bolsonaro prestou depoimento perante o ministro Alexandre de Moraes, por suposta tentativa de golpe. Este foi o tema do programa Última Análise desta terça-feira (10). Os convidados analisaram todos os aspectos da fala do ex-presidente, assim como das perguntas de Moraes, do seu colega Luiz Fux e dos advogados presentes.
Para o advogado André Marsiglia, Bolsonaro parecia “um pouco nervoso” de início, mas aos poucos relaxou e no geral teve um bom desempenho. “Virou uma ‘live do Bolsonaro’, que é algo que ele faz bem”, avaliou.
“É um Bolsonaro muito diferente do que a gente estava acostumado”, afirma a jurista Anne Dias. Segundo ela, o ex-presidente estava “mais sereno”, o que a surpreendeu diante da gravidade de um julgamento como este.
A defesa de Bolsonaro
O ministro de Alexandre de Moraes começou a audiência questionando o ex-presidente a respeito de suas falas em reuniões ministeriais. Bolsonaro afirmou no depoimento que se tratava de “retórica”, negando qualquer ato atentatório concreto ao Estado de Direito. Marsiglia disse que “retórica não é errado” e Dias lembrou que foi esta mesma retórica que o elegeu.
Outra investida de Moraes se deu em relação ao voto impresso, por supostamente a reivindicação colocar em xeque a lisura do processo eleitoral. Bolsonaro disse que se trata de uma pauta legítima, inclusive defendida por políticos de esquerda, como o ministro do STF, Flávio Dino, e Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho de Lula. “Você pode até discordar do voto impresso, mas o que está acontecendo ali é o Moraes dizendo que não pode nem questionar”, critica Dias.
Também ponto-chave da acusação foi a “minuta do golpe”, documento que supostamente indicaria os atos seguintes à decretação de um estado de exceção. Marsiglia criticou o valor probatório da prova: “A minuta não é de golpe. Não estava assinada, então não vale nada. E ainda que estivesse assinada, era a minuta de um decreto presidencial para estado de sítio ou de defesa, que são institutos legítimos e constitucionais”, defende.
O 8 de Janeiro e o golpe
As manifestações do 8 de Janeiro também serviram de fundamento para acusação contra o ex-presidente. Jair Bolsonaro negou qualquer envolvimento, chegando a chamar o ato de “baderna”. Dias lembra que até Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do caso, afirmou não haver elo entre o ex-presidente e os manifestantes.
“Não faz sentido nenhum”, diz Marsiglia em relação à tese que liga as manifestações à suposta tentativa de golpe. “A gente está falando de um possível golpe que não teve apoio da Marinha, do parlamento e nem apoio popular. Somente mil manifestantes sem arma”, completa Dias.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.