As reações nos Estados Unidos e no Brasil para denunciar a comemoração da morte do influenciador conservador Charlie Kirk têm se espalhado, mas ainda não foram suficientes para conter as manifestações de radicais da esquerda.
Um site criado por conservadores, chamado “Charlies Murderers” (Exponha os assassinos de Charlie), reuniu uma lista de publicações de usuários que celebraram ou ironizaram a morte de Kirk, incluindo nomes, cidades e empregadores dos autores. Os efeitos foram imediatos.
A escritora Gretchen Felker-Martin, responsável pela série Red Hood da DC Comics, foi demitida após chamar Kirk de “nazista” nas redes sociais. A empresa afirmou que os comentários violaram os padrões internos de conduta. Já o comentarista político Matthew Dowd, da MSNBC, foi dispensado após sugerir que Kirk “provocava” ataques contra ele. Mesmo após pedir desculpas publicamente, a demissão foi mantida pela emissora.
Universidades americanas também adotaram medidas disciplinares. A Universidade do Mississippi e a Universidade Estadual do Meio-Tennessee demitiram funcionários cujos comentários sobre a morte de Kirk foram considerados “insensíveis”. Relatos e vídeos compartilhados pelos próprios profissionais nas redes sociais confirmam a perda de seus cargos.
Mas as iniciativas não impedem a proliferação de relatos que demonstram a percepção real de parte da população identificada com ideias progressistas. Em uma enquete realizada nas ruas de Utah por um influenciador conservador, alguns entrevistados foram diretos ao expressar suas opiniões sobre o caso. Um deles afirmou: “Acho que ele mereceu. Eu realmente acredito que ele mereceu.”
Outra jovem concordou, acrescentando: “Acho que ele era muito controverso e provavelmente nem deveria ter uma plataforma, para começo de conversa. Então, sim, provavelmente um pouco merecido.”
Uma terceira participante comentou: “Estou feliz que ele não esteja mais conosco.”
Quando questionada se realmente queria dizer aquilo, ela reforçou: “Eu realmente quis dizer isso.”
No TikTok, o perfil @Montysnyash sugeriu que ações violentas deveriam se estender à esposa de Kirk, escrevendo e repetindo frases como: “Alguém precisa pegar a esposa também. Foda-se ela. Ela é tão fdp. F*-se a esposa.”**
Outro vídeo, compartilhado no perfil @IfindRetards, no X, denunciava um homem comentando a morte de Kirk de forma entusiasmada: “Aquele cara adora violência armada e leva um tiro. Você viu todo aquele sangue que saiu do corpo dele? Eu fiquei tipo, o quê? Para cada sionista, cada cientista cristão… Que você seja como aquela loja, o alvo. Todos os seus seguidores, assim como a loja, o alvo. Não estou dizendo que a violência não é o caminho, então não interprete mal minhas palavras, ok? Você viu todo aquele sangue? Aquele cara está morto. Existe um maldito Deus.”
Reações no Brasil também foram explícitas
No Brasil, uma das reações mais explícitas foi do historiador Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, resultou no cancelamento de seu espetáculo e em uma representação parlamentar ao Ministério Público Federal. Um médico que fez chacota sobre morte de Kirk foi denunciado no CRM-PE pelo vereador recifense Thiago Medina (PL).
E houve muitas outras. O influenciador e militante do PCB Jones Manoel ironizou o episódio, mas acabou sendo criticado por parte de seus seguidores. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel compartilhou no Instagram um artigo da Folha de S. Paulo, afirmando que foi “uma boa semana” para a erradicação de “cânceres” que usam “microfones”.
Nos comentários, um usuário ironizou a morte de Kirk ao escrever: “O Brasil segue vivo, já ele”, e o ator José de Abreu acrescentou: “Foi visitar o Olavo”, em referência ao escritor Olavo de Carvalho, morto em 2022 e considerado um dos principais ideólogos do bolsonarismo.
Entre os casos mais recentes, uma jovem identificada como Mari, aparentemente estudante de química no Mackenzie, postou nas redes sociais que brasileiros deveriam seguir o exemplo americano e “fazer isso” com Kirk, “com [deputado federal do União Brasil-SP] Kim Kataguiri e com [deputado federal PL-MG] Nikolas Ferreira”.
O deputado do PL compartilhou no X outros perfis de brasileiros que celebraram a morte de Kirk, incluindo um neurocirurgião de Recife e uma estilista associada à Vogue Brasil, que escreveu que “ama quando fascistas morrem em agonia”.
Imprensa classifica Charlie Kirk como “extremista”
A repercussão da imprensa, que classificou Charlie como “ativista de extrema direita”, também foi criticada nas redes sociais. “Manchetes repugnantes de jornal repugnante”, escreveu o jornalista Paulo Figueiredo num comentário sobre o Globo.
O jornalista Luiz Megale, da BandNews, classificou Kirk como “um canalha” por sua defesa do direito ao porte de armas. Ele resgatou uma fala de Kirk de 2023, na qual o influenciador dizia que: “Valia a pena pagar o preço de algumas mortes por armas de fogo todos os anos para garantir a manutenção da Segunda Emenda da Constituição americana”, que assegura o direito ao porte de armas. Kirk afirmava:
“Você nunca vai viver em uma sociedade em que exista uma população armada e não haja mortes por arma de fogo. Acho que vale a pena pagar o preço de, infelizmente, algumas mortes por armas de fogo todos os anos para que possamos ter a Segunda Emenda protegendo os nossos direitos dados por Deus.”
O jornalista reafirmou que “esse tipo de fala de Charlie Kirk que o transformava num monstrinho, enfim, um canalha”. “Não é porque morreu que passa a ser uma boa pessoa. Não, um cara ambicioso, um cara talentoso que tinha um caminho muito longo e provavelmente bem-sucedido pela frente. Mas a gente não está falando de algumas mortes, né? A gente está falando de dezenas de milhares de crianças e adolescentes mortos. Mortes que poderiam ser evitadas.”
Megale lembrou que, nos Estados Unidos, a principal causa de mortes de jovens e crianças são armas de fogo, e não doenças cardíacas ou acidentes, destacando que o país é “o único do mundo que ostenta esse tipo de estatística”. Megale destacou que, apesar da morte, Kirk tende a se tornar “um mártir da extrema direita” e que “muita coisa deve acontecer nos próximos dias”. Mas concluiu: “Charlie Kirk está limitado ao campo das ideias e não se responde a ideias com balas.”