terça-feira , 26 agosto 2025
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Como a CPMI do INSS pode influenciar nas eleições de 2026

A instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS pode se transformar em um novo fantasma eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao conquistar o comando e a relatoria da comissão, a oposição garantiu espaço privilegiado para pressionar o governo em sessões semanais que prometem grande repercussão na mídia e nas redes sociais. Analistas avaliam que, mais do que o efeito prático das investigações, o potencial de desgaste em peças de campanha é o principal trunfo oposicionista.

No centro das apurações está um esquema de fraudes que, segundo a Polícia Federal, desviou aproximadamente R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Cerca de 60% desse valor teria sido movimentado por entidades sindicais e associações durante o atual governo, o que aumenta o alcance político da investigação.

Para o cientista político Paulo Kramer, o risco para o governo é concreto. “Nem todas as CPIs acabam em pizza. As do PC Farias e dos Correios tiveram desfechos importantes, como o impeachment de Collor e a queda de José Dirceu. Governo fraco e Congresso comparativamente forte — essa mistura pode significar perigo para o Planalto”, avaliou.

Até a semana passada, o colegiado criado para apurar irregularidades no instituto era considerado de baixo risco para o Planalto. Mas uma articulação de bastidores mudou o rumo da comissão: a oposição conseguiu eleger o senador Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência, e ainda nomear o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) como relator. Houve reversão das indicações feitas pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) – senador Omar Aziz (PSD-AM) e deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), respectivamente.

A nova configuração deixou o governo em posição defensiva. Com reuniões semanais às segundas e quintas-feiras, a CPMI promete dar ritmo às investigações a partir desta terça-feira (26). O prazo inicial é de 120 dias, prorrogável por mais 60, o que pode estender os trabalhos até fevereiro de 2026 — às vésperas da eleição presidencial.

Nesse período, a oposição pretende explorar convocações, quebras de sigilo e documentos que podem ampliar o desgaste do Planalto.

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CPMI do INSS repete fórmula da CPI da Covid e ameaça governo Lula

O paralelo entre a CPI da Covid-19 e a CPMI do INSS é visto por analistas como chave para entender o risco político em 2026. Assim como a comissão investigou ações do governo de Jair Bolsonaro relacionadas à pandemia, em 2021, o novo colegiado pode servir de munição para a oposição, transformando suas sessões em narrativa eleitoral contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso dos descontos irregulares nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS.

No caso da CPI da Covid, que contou com a presidência do senador Omar Aziz e relatoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), o colegiado instaurado em abril de 2021 percorreu seis meses de trabalho intimando ministros, investigando autoridades do governo Bolsonaro por supostos desvios de verbas públicas e responsabilizando o ex-presidente pelos óbitos registrados na pandemia.

O resultado da CPI foi uma narrativa teve impacto direto nas eleições de 2022, quando Lula utilizou dados coletados pela CPI em suas peças de campanha. Já na primeira inserção comercial, em 26 de agosto daquele ano, o petista destacou que 400 mil vidas poderiam ter sido salvas na pandemia, acusando Bolsonaro pelas mortes. O dado foi apresentado por especialistas durante sessão da CPI da Covid em 24 de junho de 2021.

Durante o debate da Band no segundo turno, em 16 de outubro, Lula voltou a utilizar informações do colegiado para criticar o então presidente. “São dados científicos. O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI [da Covid]”.

Agora, no caso do INSS, o alvo é a fraude bilionária contra 9 milhões de aposentados e pensionistas. Entre os investigados está o sindicato comandado por José Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão de Lula.

O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), destaca que a gravidade dos indícios no INSS supera a fragilidade das suspeitas da CPI da Covid. “No caso da CPMI do INSS, os desvios estão praticamente comprovados. Houve uma situação que representa um desvio bilionário praticado ao longo de anos”, afirmou.

Na avaliação do cientista político Alexandre Bandeira, o cenário que Lula poderá encarar neste ano e em 2026 é semelhante ao de Bolsonaro em 2021 e 2022. “Imagine uma campanha eleitoral com o fantasma de que o governo facilitou que aposentados e pensionistas fossem roubados”, afirmou.

Ele acrescenta que o prazo da CPMI impõe ao Planalto o desafio de ter ministros e aliados na mira do Legislativo. “São três meses que devem fechar o ano político no Congresso e despejar um relatório com diversas personalidades ligadas ao governo para o ano eleitoral de 2026, após denúncias encaminhadas no relatório final aos órgãos competentes”, disse.

Corrupção e idosos são temas caros para o petismo e podem impactar em 2026

Para o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, o eleitorado idoso pode ser um ponto de vulnerabilidade para Lula nas eleições de 2026. “É um público relevante para o presidente, tanto pelo peso numérico quanto pela fidelidade histórica. Se a CPMI conseguir colar a percepção de que fraudes e má gestão no INSS afetam aposentadorias e benefícios, isso pode, sim, minar a confiança de parte desse segmento”, afirmou.

O alerta vem no mesmo momento em que pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quinta-feira (21), mostrou leve crescimento da aprovação de Lula, que alcançou 46% – puxado justamente pelo apoio dos idosos, do eleitorado do Nordeste e dos beneficiários do Bolsa Família.

A Quaest ouviu 12.150 pessoas entre 13 e 17 de agosto, em 519 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Arruda acrescenta que a CPMI do INSS também pode trazer desgastes ao PT em outro flanco sensível: o da corrupção. “Qualquer associação tende a reavivar memórias do mensalão e da Lava Jato — narrativas que a oposição certamente tentará capitalizar, ainda que o caso seja distinto.”

Para o analista, a intensidade do impacto dependerá da narrativa construída. “O governo tende a argumentar que a CPMI é uma pauta diversionista da oposição e pode buscar reposicionar o debate como um esforço de combate a irregularidades. Há risco real de desgaste, mas a intensidade vai depender de como oposição e governo conduzirão a disputa de versões até 2026.”

CPMI inicia trabalhos com votação de requerimentos e definição de linhas de investigação

A CPMI do INSS fará sua primeira reunião nesta terça-feira (26) com uma pauta extensa e muitos requerimentos. Os pedidos vão desde convocações de ministros e ex-gestores até quebras de sigilo e solicitações de documentos a órgãos de controle.

Entre os principais nomes citados estão o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, o atual titular da pasta, Wolney Queiroz, e o presidente do INSS, Gilberto Waller, além de ex-presidentes do órgão, como André Paulo Felix Fidelis.

Também estão na mira da comissão o advogado-geral da União, Jorge Messias; o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho; o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues; e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.

Além disso, requerimentos pedem a quebra de sigilos bancário e fiscal de associações de aposentados e o envio de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) pelo Coaf.

Segundo o presidente da CPMI, senador Carlos Viana, a intenção é dar celeridade às apurações e garantir que os primeiros meses já tragam elementos concretos sobre o esquema de fraudes que movimentou R$ 6,3 bilhões em descontos ilegais de benefícios previdenciários. “Nosso compromisso é com a transparência e a responsabilidade. O Brasil precisa conhecer a verdade e punir os culpados”, afirmou.

As linhas de investigação devem se concentrar em quatro frentes principais: o papel de associações e sindicatos acusados de receber repasses indevidos; o possível envolvimento de servidores e intermediários políticos; contratos de comunicação suspeitos de blindar as fraudes; e a eventual omissão de autoridades governamentais.

Já o senador Izalci Lucas (PL-DF), autor de mais da metade dos requerimentos da CPMI do INSS, disse à Gazeta do Povo que pretende investigar todos os sindicatos envolvidos nos esquemas de descontos suspeitos em contracheques de aposentados. Segundo ele, nenhuma entidade será poupada. “Todos os sindicatos que aparecem nos relatórios da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União serão chamados. Se não comparecerem voluntariamente, vamos convocar. Ninguém ficará de fora”, afirmou.

Além das convocações, Izalci protocolou uma série de pedidos de quebra de sigilo bancário e fiscal de dirigentes, empresas e entidades ligadas às denúncias. O senador garante que as solicitações não são genéricas, mas fundamentadas em documentos já existentes. “Não fiz nenhum pedido aleatório. Cada quebra de sigilo tem justificativa baseada em indícios concretos, relatórios oficiais e processos em andamento. É a única forma de seguir o dinheiro e mostrar de onde saiu e para onde foi”, disse.

Para o parlamentar, a transparência será o diferencial desta comissão. “Não haverá seletividade. Quem não deve, não teme. Agora, quem enriqueceu de forma suspeita ou participou de fraudes vai ter que explicar e devolver o que recebeu indevidamente”, completou.

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