O regime comunista da China condenou nesta segunda-feira (29) 11 pessoas à pena de morte por liderarem uma rede de golpes virtuais e exploração de trabalhadores forçados no norte de Mianmar. A decisão foi anunciada pelo Tribunal Popular Intermediário de Wenzhou, na província de Zhejiang, segundo comunicado da corte citado pela emissora estatal CCTV e divulgado pela CNN e pelo The Guardian.
Os condenados faziam parte da chamada família Ming, um clã que transformou laços familiares em base de um império criminoso bilionário. A quadrilha operava na região de Kokang, uma área autônoma de Mianmar que faz fronteira com a China e é conhecida pela presença de milícias locais e pelo histórico de atividades ilegais. Nesses territórios, o grupo construiu grandes complexos – conhecidos como scam centers – onde milhares de pessoas eram obrigadas a aplicar golpes digitais contra vítimas em vários países.
De acordo com a CNN, no auge de suas operações a família Ming chegou a controlar cerca de 10 mil trabalhadores forçados. Esses centros eram usados para fraudes financeiras pela internet, jogos de azar ilegais, prostituição e até produção de drogas. O dinheiro movimentado transformou a cidade de Laukkaing, capital de Kokang, em uma espécie de “Las Vegas da fronteira”, com cassinos e luxo financiados pelo crime.
O tribunal também responsabilizou o grupo por assassinatos de trabalhadores que tentaram escapar. O Guardian destacou o episódio de outubro de 2023, quando integrantes do clã abriram fogo contra pessoas em um dos complexos, matando quatro delas. No total, pelo menos dez mortes foram atribuídas ao grupo.
Além das 11 sentenças de morte, outros cinco réus receberam a pena capital suspensa por dois anos – medida que na prática costuma ser convertida em prisão perpétua. Mais doze foram condenados a penas que variam de cinco a 24 anos de prisão.
A investigação que levou à queda do clã Ming começou em novembro de 2023, quando Pequim emitiu mandados de prisão contra os líderes do grupo, acusando-os de fraude, assassinato e tráfico de pessoas. O patriarca Ming Xuechang, que também chegou a ocupar cargo no parlamento estadual de Mianmar, foi capturado, mas morreu sob custódia. Entre os presos estavam ainda seu filho Ming Guoping, ligado a uma milícia aliada da junta militar de Mianmar, sua filha Ming Julan e a neta Ming Zhenzhen. O tribunal, no entanto, não divulgou oficialmente os nomes dos 11 condenados à morte.