quinta-feira , 25 setembro 2025
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Cardápio de negociação com Trump vai de data centers a investimento da Embraer

Diante da disposição do presidente Donald Trump para um encontro com Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do tarifaço, governo e setor privado brasileiro já trabalham em um cardápio de itens que podem entrar em negociação. A lista de produtos que despertam interesses comerciais nos EUA vai desde automóveis até filmes de Hollywood, de biocombustíveis a tecnologia da informação, de carnes a minerais críticos e terras-raras.

Em conversas reservadas, empresários avaliam que a disposição ao diálogo pode ser o primeiro passo para rediscutir as relações comerciais entre os dois países, desde que Trump impôs um tarifaço de 50% a produtos brasileiros. O governo brasileiro quer ampliar as exceções à tarifa para itens como frutas, café, carnes, máquinas e equipamentos, calçados e pescados.

O empresariado ainda mostra ceticismo quanto à possibilidade de redução de tarifas, embora avalie que o encontro ajuda a restabelecer canais diplomáticos. O Brasil tem a oferecer investimentos nos EUA, que criam empregos e oportunidade de negócios. E pode colocar na mesa de negociação minerais críticos, data centers e energia renovável.

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Indagado a respeito do que está na mesa de negociação, o presidente Lula afirmou que não poderia antecipar a conversa antes de ela começar. Mas mostrou otimismo e disse que vai respeitar Trump como presidente dos EUA e que será respeitado como presidente do Brasil:

“O Trump faz 80 anos em junho do ano que vem. Eu faço em outubro deste ano. Portanto, sou mais velho do que ele. Somos dois homens de 80 anos, e não tem que ter brincadeira (…). Acho que vamos conversar como dois seres humanos civilizados, não tem espaço para brincadeiras.”

Interlocutores do governo brasileiro avaliam que o Brasil está em uma situação mais confortável do que há dois meses para uma negociação, porque os dados econômicos mostraram estrago nas exportações brasileiras menor do que o inicialmente imaginado após o tarifaço. Lula não descartou um encontro presencial. Não há restrição a temas, mas afirmou que soberania e democracia são inegociáveis, ou seja, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não será colocada sobre a mesa.

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“Obviamente eu vou colocar na mesa os problemas sob a ótica do Brasil, e ele vai colocar da ótica dos EUA. Uma conversa começa assim”, diz Lula. “Se Trump está preocupado com o trabalho do povo americano, é um direito dele. Se acha que é preciso taxar um ou outro produto (para) evitar muitos produtos estrangeiros nos EUA, é um direito dele. O que eu quero é que a gente debata isso na Organização Mundial do Comércio, para que a gente possa fortalecer o multilateralismo.”

Dois maiores países

Lula reiterou a disposição para uma aproximação entre os dois países:

“Se nós somos as duas maiores economias e os dois maiores países do continente, não há porque de Brasil e Estados Unidos viverem momentos de conflito.”

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Segundo documento produzido pelo Representante do Escritório de Comércio dos EUA (USTR), o Brasil impõe tarifas relativamente altas sobre importações em setores como automóveis, autopeças, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, máquinas industriais, pneus, equipamentos médicos, carne suína, aço, têxteis e vestuário. Pedir mais abertura para esses bens no mercado brasileiro poderia entrar em um acordo.

O governo americano indicou que quer acesso aos minerais críticos e estratégicos do Brasil, como lítio, cobre, nióbio, cobalto e terras-raras. Lula já disse que o tema está na mesa para negociação com qualquer país.

A possibilidade de maior acesso existe, mas o governo brasileiro pretende exigir compensações, como investimentos no Brasil e transferência de tecnologia.

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“Minerais críticos e estratégicos do Brasil são demandados em todo o mundo, inclusive pelos EUA, União Europeia e Ásia, além de essenciais para superar a crise climática”, diz o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann.

Um dos setores que acreditam ser possível um entendimento é o de data centers, que projeta chegar a 2027 com receita de US$ 1,9 bilhão. A avaliação das empresas é que a aprovação da medida provisória (MP) que criou o Redata, regime especial de tributação para o segmento, atende às principais demandas da área e beneficia os clientes e fornecedores de equipamentos de alta tecnologia que operam no Brasil, que são americanos.

“O Redata é um motivo pra mostrar que o Brasil faz um ato que beneficia muito os EUA no Brasil. Os americanos são os grandes fornecedores dos hardwares instalados em todos os data centers. As operadoras de data center e grande parte do capital vêm dos EUA, são principalmente os americanos que investem no Brasil, e as maiores fornecedoras do setor são dos EUA”, diz Renan Lima Alves, presidente da Associação Brasileira de Data Center (ABDC).

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No setor aeronáutico, a Embraer, que ficou livre da tarifa adicional de 40% (os produtos serão taxados em 10%, a alíquota mínima), já havia anunciado investimentos de US$ 500 milhões ao longo de cinco anos para ampliar sua fábrica em Melbourne, na Flórida, onde fabrica jatos executivos, como os modelos Phenom e Legacy. Lá, a Embraer tem 3 mil funcionários e pode abrir mais 2,5 mil vagas com a ampliação.

Outros US$ 500 milhões podem ser investidos para montar nos EUA o avião multimissões KC-390, caso a aeronave seja escolhida pela Força Aérea americana.

Reaproximação estratégica

Em missão aos EUA, no início de setembro, organizada pela Confederação Nacional da Indústria, 130 empresários e representantes de associações se reuniram com empresas e autoridades do comércio dos EUA. Os setores estratégicos listados foram minerais críticos e terras-raras, energia renovável e data centers.

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“Essa reunião entre os presidentes pode representar uma oportunidade de reaproximação estratégica, capaz de reduzir barreiras, ampliar a cooperação”, afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota.

No caso da carne bovina, cresceu a esperança entre exportadores de que o tarifaço possa ser revisto. Esse foi o mote de uma videoconferência entre produtores na noite de terça-feira. A expectativa é que os 40% de tarifa adicional possam ser revogados. O Brasil exporta carne bovina magra para os americanos, usada em hambúrgueres. Os EUA produzem esse tipo de carne, mas a marmoreada, com maior teor de gordura. O argumento do setor é que a carne brasileira não concorre com a produção local, são produtos complementares.

O setor de carne lembra que empresas brasileiras, como a JBS, maior processadora de carne do mundo, fazem grandes investimentos e abrem empregos nos EUA. Embora as exportações de carne bovina da JBS representem cerca de 1% da receita da JBS Brasil, pelo menos 50% da receita da JBS Global já vêm dos EUA. Só este ano, a JBS USA vai investir US$ 830 milhões nos EUA, para expandir e construir fábricas de produtos processados (como linguiça e bacon).

O setor de café diz que a abertura ao diálogo é positiva.

“A química entre os dois foi encontrada, vamos conferir a reunião. Mas isso revela o quanto o café e a carne são sensíveis em relação à inflação americana”, diz Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).

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