No segundo mandado como governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República, Ronaldo Caiado (União Brasil) avalia que o governo Lula “não deu certo” e “está nos últimos estertores” – a respiração ruidosa característica dos momentos finais de vida. As declarações foram feitas ao programa InfoMoney Entrevista.
Para Caiado, a questão do IOF – um anúncio de aumento de alíquota pelo governo federal, que depois recuou e agora negocia o aval do Congresso – é sinal de uma gestão mal sucedida. Ele destacou a falta de diálogo por parte do governo com o setor produtivo e com o Congresso antes do primeiro anúncio.
“Isso aí é realmente um governo que não deu certo, que está nos últimos estertores e, como tal, desesperado, faz essas atitudes aí”, afirma.
Na opinião do governador, o aumento do imposto penaliza empresários, inclusive os médios e pequenos, e a população de baixa renda e de classe média que depende de crédito. Caiado comparou o IOF à CPMF, imposto extinto e que era cobrado cada vez que as pessoas faziam uma movimentação bancária.
O governador goiano foi o primeiro entre os nomes da centro-direita a se oficializar como pré-candidato a presidente nas eleições de 2026. Ao InfoMoney, lançou uma promessa: oferecer anistia “ampla e irrestrita” a todos os envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro. O mais ilustre acusado de promover a tentativa de golpe é o ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem Caiado é aliado.
O político diz que promoveria a anistia como o objetivo de pacificar o país e se compara ao ex-presidente Juscelino Kubitschek: “Eu vou dar uma de Juscelino Kubitschek. Fizeram o golpe com ele, realmente existiu um golpe, e ele foi lá e falou, olha, deixa eu trabalhar, anistia esse pessoal aí, deixa eu criar Brasília, deixa eu desenvolver o Brasil, deixa eu chegar no centro-oeste brasileiro, deixa eu levar o desenvolvimento para o país.”
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Governo Trump e os goianos
Questionado sobre as deportações feitas pelo governo Trump, Caiado disse que não é novidade, pois o presidente americano avisou na campanha que faria isso. Goiás, governado por Caiado, é um dos estados que tem mais imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Para o governador, todos que estavam lá sabiam exatamente o que iria acontecer.
“Quem o elegeu foi o povo americano, em cima de um programa dele, de governo. Então, eu sinto muito. Quando eu perco a eleição, eu perdi. Quando eu ganhei, eu ganhei. Eu ganhei com o meu plano de governo. O cidadão não pode ficar amanhã surpreso”, alerta Caiado.
Confira os principais trechos do InfoMoney Entrevista com Ronaldo Caiado:
InfoMoney: Recentemente, o governo Lula aumentou o IOF, houve uma reação ruim, o ministro Fernando Haddad recuou em alguns pontos, mas o aumento está aí. Qual a análise do senhor sobre esse primeiro anúncio e as consequências dele?
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Ronaldo Caiado: É algo que mostra o total desacerto do governo. O governo está perdido. Não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista de diálogo. Não chamou ninguém para conversar. Não consultou o Congresso, não consultou os empresários. Simplesmente calculou o seguinte: vou ampliar meus gastos.
No governo Lula, em dois anos e seis meses, eles aumentaram a proporção dívida/PIB em 4,36%. Eles não têm limite. Ao não ter limite, ele caminha uma pauta populista em que tem que cada vez mais asfixiar o cidadão que trabalha e que paga imposto no Brasil.
Isso me lembra bem, eu era parlamentar no Congresso Nacional, quando nós derrubamos o CPMF, que era aquele imposto que você dava o cheque e tirava o seu dinheiro. O IOF é parecido. Ou seja, você faz um empréstimo bancário, você renova o empréstimo de três em três meses, vem aquela conta do IOF de novo na sua conta.
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O cidadão que comprou lá a geladeira, um fogão, um liquidificador, aquele custo do IOF já está naquela parcela que ele vai pagar naquele produto. Ou seja, é uma situação que o cidadão não sabe mais como continuar na atividade empresarial, ou do pequeno empreendedor, ou do MEI.
Qual é o incentivo hoje que você dá ao empreendedor, ao pequeno e médio empresário, aquele cidadão que precisa de empréstimo bancário para girar a sua empresa? Como é que ele vai sobreviver se ele não vê uma outra alternativa que não seja essa de fazer um empréstimo? Sendo que o governo não só aumentou a taxa Selic, como também agora aumentou o IOF. Então, não tem para onde correr. Para onde ele corre, ele toma juros, toma mais cobrança.
Eu acredito que, neste momento, tanto o presidente da Câmara quanto o Senado, deverão, com as lideranças partidárias, dizer, olha, é insustentável esse processo, isso aí vai cada vez mais estrangular o país. Todo mundo vai ter medo de produzir no Brasil.
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Isso aí é realmente um governo, não deu certo, a realidade é essa, é um governo que não deu certo, que está nos últimos estertores e, como tal, desesperado, faz essas atitudes aí, que estão levando o empresariado cada vez mais, é o pequeno, o médio, o cidadão que mais precisa de crédito, neste momento, que está mais endividado, é o cidadão de baixa renda, de média renda, e vai tomar um emprestimozinho e IOF na cabeça.
IM: Parece que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faz alguma tentativa de avançar na pauta econômica, mas existe também uma ala política que segura esses movimentos. O senhor tem esperança de que algo da pauta econômica avance ainda neste mandato do Lula e, se sim, o que poderia avançar?
Caiado: É um governo que chega aos dois anos e cinco meses e qum não fez até agora, é muito difícil ele fazer alguma coisa. Sabe por quê? Porque o governo transmitiu para a população um sentimento de não ter um projeto para o país e o não cumprimento daquilo que ele afirmou repassar aos seus eleitores. Não tem nada pior do que a perda da esperança. É isso que você vê. O terceiro governo do Lula é um governo que não deu certo em nada, em nada. Em todas as áreas que ele tentou ressuscitar programas anteriores, projetos antigos, isso aí não saiu do lugar.
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Por exemplo, [Lula disse ] “vou atender cada governador com três obras que eles desejarem em seus estados”. A minha obra nunca chegou em Goiás. Nenhuma.
Vejo hoje mais o brasileiro preocupado para ver como é que a gente pode construir um processo em 2026 para que medidas sejam tomadas e que a gente venha resgatar mais esses quatro anos perdidos.
IM: O senhor já apresentou o seu nome como um pré-candidato a presidente em 2026. Por que o senhor decidiu fazer isso já? Qual é a vantagem de ter apresentado o nome a um ano e meio das eleições?
Caiado: Não adianta você querer ser candidato a partir da convenção. A convenção do partido acontece no meio de julho de 2026. Até você registrar a candidatura, você tem 40 dias de campanha. Como é que você vai discutir um assunto ou um projeto ou a sua plataforma principal com 40 dias de uma campanha? O governo tem a máquina de governo, tem o presidente que é candidato a reeleição, então ele está fazendo campanha todo dia. Nós, na oposição, nós precisamos de andar. Por quê? Porque nós precisamos de levar aquilo que nós fizemos.
Essa eleição de 2026 é um divisor de águas muito sério. O Brasil está caminhando num processo de perda de representatividade, de expansão da sua capacidade de produzir riqueza no país e com isso está ficando caudatário de todos os blocos que o país hoje participa. Seja do G20, seja hoje do BRICS, nós só não perdemos ainda para a África do Sul. O resto nós já somos caudatários.
Eu não sou candidato a presidente para ser candidato à reeleição. Eu já disse, eu só serei candidato com um mandato. O presidente que for ser eleito para cuidar da sua reeleição, não vai tratar da pauta econômica, não vai tratar da pauta administrativa, não vai poder estimular o que se precisa ter hoje da contenção de gastos.
São todos assuntos que são da alçada do presidente da República e que não são hoje tratados. Elas são simplesmente adiadas e cada vez mais acumulando uma sobrecarga para o contribuinte brasileiro.
IM: Dentro do espectro político da centro-direita temos outros nomes colocados. Tem o governador aqui de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior, do Paraná, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Qual é a defesa que o senhor faz do seu nome em detrimento destes outros nomes?
Caiado: Eu não sou de fazer a campanha baseado em críticas em relação aos demais. Eu governei meu Estado, um Estado falido, quebrado, bloqueado no Tesouro Nacional, capaz de ser inviabilizado, devendo R$ 6,8 bilhões para credores, para servidores do mês de novembro e dezembro do ano de 2018, colapsados.
Hoje é um Estado que tem hoje a liquidez de R$ 15 bilhões em caixa. É um Estado que paga tudo em dia. É um Estado que fez a reforma administrativa, fez reforma da Previdência, fez corte de incentivos fiscais e, ao mesmo tempo, teve um controle rígido com o dinheiro arrecadado. Respeitando aquele dinheiro e colocando secretários de altíssimo padrão.
Eu sou o governador mais bem avaliado do país, com 86% de aprovação. Esse trabalho todo que é feito, a pessoa vê o rendimento quanto a uma gestão. Ela é bem feita, ela é responsável. E é isso que o Brasil precisa ter neste momento.
IM: Sua gestão em Goiás, é, de fato, muito bem avaliada. O senhor foi aliado do presidente Bolsonaro, mas também divergiu dele em relação à pandemia. Qual a avaliação que o senhor faz hoje, em retrospecto, da gestão Bolsonaro?
Caiado: Sempre fui um político com muita independência. Se teve um ponto de divergência entre eu e Bolsonaro foi no período da pandemia. Naquele momento, eu, como médico que sou, eu entendo muito mais de pandemia do que ele. Fui o primeiro Estado a fazer o decreto de isolamento social. A minha responsabilidade, acima do meu cargo de governador, é o meu juramento, é salvar vidas.
No entanto, eu não posso desconhecer que o Bolsonaro é uma liderança que conseguiu mobilizar a centro-direita brasileira para poder sair de casa e realmente ter uma vida ativa, debatendo, levando suas ideias às praças públicas, tendo mobilizações de milhares e milhares de pessoas que até então você não via. Veja, eu comecei esse trabalho em 1986.
E Bolsonaro conseguiu fazer e trazer toda essa população brasileira que tem um sentimento de centro-direita para poder se expressar e ser majoritária nas urnas na grande maioria dos Estados.
Não posso deixar de reconhecer também as obras, o processo da privatização da ferrovia Norte-Sul. Goiás, do ponto de vista de ferrovias, vai ficar bem atendido. E esses dois acontecimentos vieram no governo dele.
IM: O senhor já defendeu que, se eleito presidente, vai anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa anistia vale apenas para o Bolsonaro? Ou para todos os envolvidos no 8 de janeiro, sejam eles participantes ou mentores? É uma anistia ampla e restrita? E por que o senhor faria essa anistia?
Caiado: Você tem hoje mais de dois anos que essas pessoas estão presas, você tem que modular as penas, porque você não pode ter um tratamento idêntico para todas as pessoas. Em segundo lugar, se você buscar esses últimos dois anos e cinco meses, o Brasil discutiu alguma coisa relevante? Ou foi exatamente essa pauta que tomou conta do Brasil? Lula assumiu na campanha o compromisso de que ia governar para pacificar, mas o que você viu não foi isso, foi um acirramento dos dois lados.
IM: A anistia valeria para as pessoas presas há dois anos e valeria também para aqueles que foram responsáveis, que articularam o golpe, e para o presidente Jair Bolsonaro? Seria uma anistia ampla e irrestrita?
Caiado: No dia 1º de janeiro, depois que eu assinar o meu diploma, o primeiro ato vai ser anistia plena a todos, de 8 de janeiro, plena, entendeu? Quer dizer, só não vai ser a primeira assinatura que é a primeira no diploma. A segunda assinatura minha vai ser um ato único, você está dizendo, encerrou essa discussão no Brasil.
A situação está encerrada. Eu vou dar uma de Juscelino Kubitschek. Fizeram o golpe com ele, realmente existiu um golpe, e ele foi lá e falou, olha, deixa eu trabalhar, anistia esse pessoal aí, deixa eu criar Brasília, deixa eu desenvolver o Brasil, deixa eu chegar no centro-oeste brasileiro, deixa eu levar o desenvolvimento para o país.
IM: Falando agora de cenário internacional, Goiás é muito dependente do agronegócio. Essa política protecionista do Trump nos EUA afeta os negócios do seu Estado?
Caiado: Não. Lá em 2017 que ele fez isso, foi o período que mais nós conseguimos valor na soja.
IM: Goiás é um dos Estados brasileiros que tem mais imigrantes nos Estados Unidos. Como o senhor enxerga essa política de deportações do governo Trump?
Caiado: Isso foi novidade? Trump disse isso na campanha. Novidade seria se ele não tivesse dito isso. Todo mundo sabia que iria fazer isso. Qual é a surpresa? Ele foi eleito pelo voto. Quem o elegeu foi o povo americano, em cima de um programa dele, de governo. É isso que a gente precisa aprender: o que se fala numa campanha, é o que se faz.
IM: Qual a opinião do senhor sobre declarações do governo Trump de que vai caçar vistos de autoridades de outros países e, no caso brasileiro, do ministro Alexandre de Moraes? O senhor acha que isso é uma interferência externa aqui no Brasil?
Caiado: Neste assunto, eu agiria pela diplomacia, que você não tem neste governo também. A diplomacia não é a sua identidade ideológica. A diplomacia conversa com países de esquerda, com países de centro, com países de direita. E até com ditaduras.
Se eu fosse presidente da República, eu iria lá sentar com o presidente dos EUA e falar da importância do Brasil na América Latina. Se tem um país aliado, sempre foi a América Latina com os Estados Unidos. A posição de um presidente da República é não deixar chegar nesta condição.
IM: Voltando ao Brasil, para falar de segurança pública, temos uma comissão especial da Câmara para analisar uma PEC sobre o tema. Está na fase justamente de ouvir os governadores. O que o senhor defende em relação à PEC da Segurança Pública?
Caiado: Que isto é mais uma invasão das prerrogativas e direitos dos Estados. Está se invadindo uma causa pétrea, que é desmontar os entes federados. O artigo 22 desse projeto diz que o governo federal vai definir as políticas e os governadores têm que cumprir aquela política definida por ele. Eu pago a polícia, eu arco com toda despesa e agora essa mudança na Constituição quer tirar o que a Constituição de 1988 deu a nós com condição do federalismo brasileiro, dos governadores praticarem ali, ou seja, publicarem ali os seus atos, a sua política de segurança, os seus programas de segurança pública. Essas regras da segurança são prerrogativa do governador.
O ministro da Justiça pode decidir sobre as polícias dele, mas não invadir a prerrogativa dos estados. Se quer parceria, nós estamos abertos. Integrar as polícias, ótimo, mas não é tirar o poder do governador e dizer agora, é um iluminado que está no Ministério da Justiça que vai dizer como combater o crime no Acre, em Rondônia, em Ceará, em Goiás, no Rio Grande do Sul e ele sabe mais do que quem está ali dentro, vivendo aquela realidade.
É um processo de desidratação dos entes federados. É isso que está sendo montado nesse atual governo. Eles querem se apoderar e, cada vez mais, diminuir a influência dos estados diante daquilo que é distribuição de renda e, ao mesmo tempo, segurança pública.
IM: É possível aproveitar algo da PEC da Segurança Pública ou a estratégia é que o projeto não avance, por parte dos governadores?
Caiado: Eu apresentei uma proposta de PEC ao ministro Lewandowski. Desde que ele tomou posse, eu venho mostrando a ele que você precisa fazer uma política de segurança pública que tenha eficiência, que tenha resultado. O cidadão hoje não tem liberdade para nada. Não tem para pegar um ônibus. Não tem para andar. A situação é grave.
IM: O senhor sentiu abertura do ministro Lewandowski para essa discussão?
Caiado: Eu converso sempre com ele, mas não dei conta de convertê-lo até hoje.
IM: É uma batalha…
Caiado: É uma batalha. Mas a população já mostrou que eles vão perder. Hoje a situação chegou a tal proporção que é inadmissível a omissão do Estado, a complacência do governo federal com o crime. Essa é a tristeza. O Congresso Nacional e o governo federal não deram conta até hoje de elaborar uma lei para bioinsumos no Brasil, não se aprova um marco regulatório de inteligência artificial. Onde está a pesquisa brasileira?
IM: O senhor trouxe dois pontos: investimento em ciência e educação e o papel de um presidente de ser um líder para a pacificação. E foram pontos em que o governo Bolsonaro também deixou a desejar, não?
Caiado: Sim, concordo plenamente. Não se governa construindo guerra, se governa construindo a paz.