Os Estados Unidos foram abalados nesta semana pelo assassinato do influencer conservador Charlie Kirk, alvejado durante um evento em uma universidade no estado de Utah na quarta-feira (10).
Um suspeito foi preso e as autoridades relataram provas de radicalização política, como uma mensagem em uma das cápsulas não disparadas que foram encontradas: “Ei, fascista! Toma essa!”.
A agência britânica Reuters realizou um levantamento que apontou que ao menos 300 casos de violência política ocorreram nos Estados Unidos entre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e a eleição presidencial de 2024, o que representou o maior número de registros desse tipo de crime no país desde a década de 1970.
Antes da morte de Kirk, os casos recentes de maior repercussão haviam sido as duas tentativas de assassinato do presidente Donald Trump durante a campanha do ano passado.
Um relatório do Instituto de Pesquisa de Contágio na Rede (NCRI, na sigla em inglês) identificou tendências de violência política na esquerda americana.
Em um levantamento que ouviu mais de 1,2 mil adultos americanos, 38% disseram que seria pelo menos “um pouco justificável” matar Trump e 31% disseram o mesmo sobre o empresário Elon Musk. Porém, quando foram separados os dados apenas dos entrevistados de esquerda, o índice relativo a Trump subiu para 55% e o dado relativo a Musk para 48%.
“Essas não são opiniões isoladas”, apontou o relatório, segundo reportagem da Fox News. “Elas fazem parte de um sistema de crenças intimamente conectado, ligado ao que chamamos de autoritarismo de esquerda.”
Após a morte de Kirk, Trump culpou a retórica da “esquerda radical” pelo aumento da violência política nos Estados Unidos, porém, Arie Perliger, professor da Universidade de Massachusetts Lowell, afirmou em entrevista ao site The Conversation que a declaração do presidente deixou de considerar que também houve “encorajamento e apoio que legitimam a violência” no outro lado do espectro político.
“Concordo que a linguagem e a retórica impactam o comportamento das pessoas. Tenho observado isso repetidamente em meus estudos, que o discurso de figuras políticas impacta a maneira como as pessoas pensam sobre a legitimidade da violência. É claro que precisamos entender o contexto aqui, que é o de que o próprio Trump esteve disposto a perdoar milhares de pessoas que se envolveram em violência política”, disse Perliger, em referência ao perdão presidencial que foi concedido a cerca de 1,5 mil acusados de envolvimento na invasão do Capitólio.
Políticos democratas também foram alvo de violência este ano: em abril, a residência do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, foi invadida e incendiada; em junho, a deputada estadual do Minnesota Melissa Hortman e seu marido foram assassinados e o senador estadual John Hoffman e sua esposa foram baleados, mas sobreviveram.
Em entrevista ao site Politico, Robert Pape, professor de ciência política na Universidade de Chicago, disse que, após o assassinato de Kirk, líderes dos dois grandes partidos americanos precisam apaziguar os ânimos.
“O que precisamos é que todos os líderes democratas do país — ou seja, todos os governadores democratas, todos os membros democratas do Congresso — condenem veementemente a violência política”, afirmou Pape.
“E precisamos que todos os líderes republicanos do país — governadores, não apenas o presidente, todos os membros republicanos do Congresso — exortem à moderação após o assassinato”, acrescentou.