O economista e ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, avalia que as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros devem afetar o crescimento econômico do país, mas não representam o principal obstáculo ao desenvolvimento.
Para ele, os maiores entraves ao avanço do PIB continuam sendo internos, como o desequilíbrio fiscal, os juros elevados, a insegurança e a corrupção.
Em entrevista ao O Globo, Fraga defendeu que o pacote de medidas em estudo pelo governo para mitigar o impacto do tarifaço leve em conta a “frágil” situação das contas públicas. “Nós estamos mal parados em muitas áreas no que diz respeito à produtividade do Brasil”, afirmou.
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O economista considera que a resposta dos EUA foi “pesada” e diferente da aplicada a outros países, já que envolveu críticas diretas ao Judiciário brasileiro. Apesar da tensão política, ele acredita que ainda é possível negociar melhores condições com a gestão de Donald Trump.
Abertura comercial
Fraga destaca que, embora o Brasil tenha avançado nas conversas comerciais com a União Europeia, o processo ainda enfrenta obstáculos. No caso do Mercosul, avalia que o bloco tem oscilado ao sabor de crises internas, mas vê um cenário mais favorável com a postura liberal do presidente argentino Javier Milei
Sobre o fechamento econômico brasileiro, ele reconhece que o país mantém um nível elevado de protecionismo, mas discorda da ideia de que isso justifique a medida americana. “Se o ponto de chegada for tarifas baixas com reciprocidade, pode não ser tão ruim. Algumas das reclamações americanas são compreensíveis, mas o nosso caso é ‘sui generis’”, disse.
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Entre os assuntos que poderiam estar na mesa, Fraga cita a exploração de terras-raras, considerada estratégica globalmente. Ele lembra que há empresas estrangeiras atuando no setor e que modelos de exploração podem ser discutidos, desde que respeitando as regras nacionais.
Outro ponto sensível é o comércio exterior, que, segundo o economista, ainda abriga muitos mecanismos protecionistas. Fraga também mencionou o incômodo de concorrentes internacionais com o Pix, sistema de pagamentos instantâneos brasileiro.
“O Pix é um espetáculo, o Brasil está voando nessa área. Ele é extremamente eficiente e barato. Não há sentido em voltar atrás. É problema deles se adaptarem. Nós aqui temos que aprimorar cada vez mais o nosso modelo”, concluiu.