O anúncio do governo federal para a aplicação dos recursos do acordo de Mariana (MG), realizado nesta sexta (11) em Linhares (ES), se tornou um ato político em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros e aliados reforçaram críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Com menções a “traidores da pátria”, “continência à bandeira brasileira” e “ataque dos Estados Unidos”, o anúncio do auxílio a 22 mil pescadores e a 13,5 mil agricultores atingidos pelo rompimento da barragem mineira há 10 anos acabou ofuscado pelas declarações políticas.
“A gente não pode baixar a cabeça, eu respeito todo mundo. […] Com todo respeito ao presidente Trump: o senhor está muito mau informado”, disparou Lula elencando motivos econômicos e políticos, como a alegação do norte-americano de que o Brasil faz uma “caça às bruxas” e persegue o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lula ainda fez chacota do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que, pra ele, foi o responsável por articular o tarifaço de Trump aos produtos brasileiros.
“A coisa [Jair Bolsonaro] mando o filho se afastar da Câmara para ir lá ficar pedindo ‘Trump, salva meu pai, não deixa ir preso’. É preciso essa gente criar vergonha na cara. […] Que tipo de homem é esse que não tem vergonha de enfrentar o processo dele de cabeça erguida e provar que foi inocente”, questionou.
Assim como em outros discursos e entrevistas, Lula ressaltou que Bolsonaro foi denunciado pelos próprios comandantes militares e pelo ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, que delatou o suposto plano de golpe de Estado.
Aliados defendem Lula
Um pouco antes, o ministro Rui Costa, da Casa Civil, pediu aos populares presentes no evento que levantassem a bandeira do Brasil, chamando-os de “verdadeiros brasileiros”.
“Porque muitos, muitos, carregavam em campanhas eleitorais recentes a bandeira do Brasil nas costas pra dizer que eram brasileiros de verdade. Mas, agora, com o ataque dos Estados Unidos, nós sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria”, disparou o ministro ressaltando que Lula “honra o Brasil”.
A fala foi semelhante à adotada pelo ministro Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União (AGU), que elogiou Lula por “pensar nos brasileiros” e que não atende a “interesses americanos”.
“Esse aqui, o presidente Lula, ele presta continência a uma única bandeira, a bandeira do Brasil. Ninguém ficou para trás. […] Temos um acordo feito pra vocês, por alguém de vocês, e que vai cuidar de vocês, e não dos interesses americanos. Porque o Brasil é dos brasileiros”, disse repetindo a estratégia adotada pelo governo para defender o país da taxação de Trump.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) seguiu na mesma linha e afirmou que “o verdadeiro patriota não se ajoelha e não bate continência para bandeira estrangeira nenhuma”. Ele ainda agradeceu Lula por “defender os Três Poderes e as nossas instituições”.
“Lula é o presidente da soberania nacional”, emendou o presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes.
Na última quarta (9), Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre os produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos, afirmando que o país promove uma “caça às bruxas” no processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por supostamente liderar um plano de golpe de Estado após as eleições de 2022. Também são citados motivos comerciais e ordens judiciais contra redes sociais norte-americanas.
Trump citou “ordens secretas e ilegais” contra plataformas de mídia nos Estados Unidos que, diz, violariam a liberdade de expressão.
Já o chamado “Novo Acordo do Rio Doce” pagará R$ 3,7 bilhões através de um Programa de Transferência de Renda (PTR) que prevê um salário mínimo e meio mensal por atingido, por até 36 meses, e um salário mínimo mensal por mais 12 meses.