Em meio a acusações de gravações escondidas, deputados aliados do ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF) Flávio Dino anunciaram, na terça-feira, seu rompimento com o atual governador do Maranhão, Carlos Brandão (sem partido).
O anúncio ocorreu depois que um aliado de Brandão divulgou gravações de diálogos dos deputados federais Rubens Jr (PT-MA) e Márcio Jerry (PCdoB-MA) com alusões a processos sob a relatoria de Dino que afetam aliados do governador. Os parlamentares reagiram, chamando o material de “clandestino” e “ilegal”, e entregaram duas secretarias ocupadas por seu grupo político no governo Brandão.
O rompimento gera preocupação para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia pedido há duas semanas, durante visita ao Maranhão, que Brandão e Dino tivessem “responsabilidade” e evitassem “brigar dentro de casa”. Em entrevista à TV Mirante na ocasião, Lula afirmou que o racha entre os dois poderia “dar para os adversários a chance de ganhar” a eleição de 2026.
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Gravação escondida
Procurada pelo GLOBO, a assessoria do STF afirmou, em nota, que Dino “não atua em assuntos estritamente políticos” desde que tomou posse na Corte, no início de 2024. “É impossível manifestar-se sobre gravações telefônicas de terceiros, de origem desconhecida e produzidas em datas não informadas”, diz a nota do STF.
Na tarde de terça, o deputado Rubens Jr afirmou, na tribuna da Câmara, que foi “gravado ilegalmente” quando estava “dando o retorno para o governador” de uma conversa que teve com Dino. A data do diálogo não foi especificada. Antes de ser indicado por Lula ao STF, em dezembro de 2023, Dino foi governador do Maranhão por dois mandatos e, em 2022, apoiou a eleição de Brandão, seu antigo vice.
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Segundo o deputado, ele havia procurado Dino, a pedido de Brandão, para articular uma pacificação entre aliados do ministro e do governador. Na conversa, Rubens disse ter questionado o ministro sobre “essa questão do TCE, que tem processo aqui”, e que Dino respondeu que só trataria do assunto “nos autos”.
— O diálogo foi no campo do aconselhamento pessoal. Só que isso foi transformado em uma paranoia pelo senhor Marcus Brandão, irmão do governador, como uma tentativa de intimidação, perseguição e chantagem, o que não houve — alegou o deputado.
Dino é relator, desde o início de 2025, de uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que questiona o rito de escolha de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Maranhão. A ação acabou barrando a indicação do advogado Flávio Costa, aliado de Brandão, para o tribunal; à época, em entrevista ao GLOBO, o governador alegou que o caso expunha uma “interferência” de Dino em sua gestão.
Em nota, Carlos Brandão afirmou ter “recebido a oferta” de apoiar “candidatura de interesse do deputado Marcio Jerry” nas eleições municipais de 2024 para destravar “vagas retidas no TCE”. “O governo que se encerrou em 2022 quis permanecer no comando da gestão para a qual fui eleito”, disse o governador.
Também citado nas gravações, Márcio Jerry disse ter sido “vítima de uma armação feita pelo governo do estado do Maranhão, com participação do irmão do governador”. Considerado um nome influente na administração estadual, Marcus, irmão de Brandão, articula a candidatura do próprio filho, Orleans Brandão (MDB), para a sucessão no governo do Maranhão em 2026.
A candidatura de Orleans desagrada a aliados de Dino, que pleiteiam um apoio do governador ao atual vice, Felipe Camarão (PT).
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— A gente infelizmente vê o governador querer reintroduzir no Maranhão um poder oligárquico que o povo já repudiou. Resolveu inventar uma candidatura do próprio sobrinho e resolveu praticar esses atos lamentáveis que são vistos hoje — disse Jerry, referindo-se às gravações.
Nos discursos feitos na terça, os deputados anunciaram que dois secretários de Brandão pediriam demissão: o titular da pasta de Cidades, Robson Paz (PCdoB), aliado de Jerry, e o secretário de Relações Institucionais, Rubens Pereira, pai de Rubens Jr.
Procurado para comentar as declarações dos deputados, Marcus Brandão afirmou que seu irmão é alvo de “pressões”, “tentativas de achaques” e ameaças de que o “afastariam do cargo”.
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‘Antiga amizade’
O imbróglio político no Maranhão também alcançou o desembargador federal Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que é próximo a Dino. Segundo Rubens Jr. e as gravações divulgadas por aliados de Brandão, o desembargador participou das conversas que buscavam “pacificar” os desentendimentos entre aliados do ministro e do governador do Maranhão.
De acordo com o deputado petista, Bello estava presente na ocasião em que ele perguntou a Dino sobre o andamento da ação que tratava das vagas no TCE do Maranhão.
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Bello afirmou, em nota, que “foi professor de graduação e mestrado” de Rubens Jr, com quem tem “antiga amizade”, e que “em razão disso naturalmente conversam sobre todos os assuntos como convém a amigos”.
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