A acareação entre o general Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid no Supremo Tribunal Federal (STF), realizada nesta terça-feira (24), evidenciou não apenas a tensão entre os dois acusados na investigação sobre tentativa de golpe, mas também a disputa entre suas defesas sobre o que de fato foi dito no encontro.
De um lado, o advogado Cezar Bittencourt, que defende Cid, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que os réus não se enfrentaram diretamente, negando qualquer tipo de provocação ou ataque verbal. “Ninguém chamou o outro de mentiroso”, disse. “Aquilo não é uma brincadeira. Apenas o juiz, o procurador e os advogados podem questionar. Não há espaço para os dois se falarem”.
Ainda segundo Bittencourt, se Braga Netto tivesse feito qualquer acusação direta, “ia apanhar ali”.
O outro lado
Já o advogado José Luis de Oliveira Lima, que representa Braga Netto, sustenta a versão oposta. Em entrevista a jornalistas na saída da audiência, afirmou que o general, ao responder perguntas do ministro Alexandre de Moraes, do procurador-geral da República Paulo Gonet e dos advogados presentes, qualificou as declarações de Mauro Cid como “mentirosas” — e que o fez duas vezes, sem ser contestado.
“Talvez o ilustre advogado [Cezar Bittencourt] não tenha prestado atenção ao ato processual”, ironizou Oliveira Lima. A sessão, conduzida por Moraes em uma sala anexa do STF, não foi gravada, mas a ata já está disponível no sistema do Tribunal.
Divergências
A acareação foi realizada após divergências nos depoimentos dos dois envolvidos. Segundo Mauro Cid, o general Braga Netto teria participado de reuniões com outros militares para articular ações golpistas após a eleição de 2022, além de ter repassado R$ 100 mil em uma caixa de vinho.
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O montante seria destinado a militares da ala radical conhecida como “Kids Pretos”, visando fomentar agitações sociais e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro, nega todas as acusações e afirma que se tratava de uma “visita de cortesia”.
Próximo confronto
A acareação entre Braga Netto e Cid foi a primeira autorizada por Alexandre de Moraes para esclarecer contradições nos depoimentos sobre a trama golpista. Ainda nesta terça-feira, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres será confrontado com o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, em audiência semelhante.
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O ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado como figura central da trama, tem direito de acompanhar presencialmente, embora ainda se recupere de uma pneumonia.