Rússia e Ucrânia se preparam para negociar um plano de paz apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nos próximos dias. O conteúdo do plano, revelado nas últimas horas pela agência Reuters, alinha-se muito mais às exigências russas do que às ucranianas.
Embora o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tenha declarado que os 28 pontos do plano podem mudar a qualquer momento, dependendo do progresso das negociações, estes são os pontos principais do documento com o qual a Casa Branca espera encerrar quase quatro anos de guerra no leste europeu.
Concessão de territórios pela Ucrânia e redução do Exército
Um dos pontos principais propõe a retirada de Kiev de todo o território que ainda controla na região leste de Donbass, que seria desmilitarizada após a guerra e reconhecida de fato como russa pela comunidade internacional.
Segundo a cópia obtida pelo Reuters, Crimeia, Luhansk e Donetsk serão reconhecidas como territórios russos, inclusive pelos Estados Unidos. Por sua vez, as regiões meridionais de Zaporíjia e Kherson permaneceriam congeladas na “atual linha de contato”.
“As forças ucranianas se retirarão da parte da região de Donetsk que atualmente controlam, e essa área de retirada será considerada uma zona tampão neutra e desmilitarizada, reconhecida internacionalmente como território pertencente à Federação Russa. As forças russas não entrarão nessa zona desmilitarizada”, diz o texto.
A Rússia, por sua vez, deverá renunciar a outros territórios invadidos fora das cinco regiões, “conforme acordado”.
Outro ponto do plano americano defende que Kiev deverá renunciar à sua aspiração de ingressar na Otan e se comprometer a reduzir seu exército, que atualmente conta com cerca de 900 mil soldados, para um máximo de 600 mil.
Rússia manterá diálogo com a Europa e com a Otan
Outros pontos da proposta são dedicados a tratar da relação entre a Rússia e Europa, bem como especificamente da relação de Moscou com a Otan.
Os pontos dois e três do plano defendem, respectivamente, que os países europeus deverão amenizar as recentes tensões e se comprometer com a desescalada militar. “Haverá um acordo de não agressão total e abrangente entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa. Todas as ambiguidades dos últimos 30 anos serão consideradas resolvidas”, diz o texto.
O terceiro artigo aponta uma “expectativa” de não agressão entre os países. “Haverá a expectativa de que a Rússia não invada seus vizinhos e que a Otan não se expanda ainda mais”. A adesão da Ucrânia, neste caso, seria rejeitada pelos membros da aliança militar e os aliados não poderiam destacar tropas no território invadido. Os caças europeus deverão ser estacionados em um país vizinho, a Polônia.
O quarto ponto da proposta cita uma participação ativa dos Estados Unidos nesse diálogo. “Um diálogo entre a Rússia e a Otan, moderado pelos Estados Unidos, será realizado para abordar todas as preocupações de segurança e criar um ambiente de desescalada para garantir a segurança global e aumentar as oportunidades de conectividade e de desenvolvimento econômico futuro”.
A proposta defende ainda que a Ucrânia seja elegível para adesão à União Europeia e tenha acesso preferencial ao mercado europeu em curto prazo “enquanto esta questão estiver sendo avaliada”.
Por sua vez, Moscou será reintegrada à economia global e as sanções serão negociadas “caso a caso”.
Os Estados Unidos defendem garantias de segurança à Ucrânia, sem entrar em detalhes, em troca de uma “compensação”.
O documento propõe ainda que, caso Moscou volte a invadir Kiev, “além de uma resposta militar coordenada decisiva, todas as sanções globais serão restabelecidas, o reconhecimento do novo território e todos os outros benefícios deste acordo serão revogados”.
Troca de prisioneiros, devolução de crianças e realização de novas eleições
O plano de Trump estabelece que todos os prisioneiros de guerra e os corpos restantes de pessoas mortas no longo conflito serão trocados, segundo o princípio de “todos por todos”.
Ainda, todos os civis detidos e reféns deverão ser devolvidos, incluindo as crianças que foram levadas da Ucrânia. Para isso, haverá um programa de reunificação familiar.
A proposta estabelece também que a Ucrânia deverá realizar novas eleições em até 100 dias.
O acordo será monitorado e garantido por um Conselho de Paz, semelhante ao que foi proposto na guerra entre Hamas e Israel. Este conselho será presidido pelo próprio presidente Donald Trump.
Ucrânia decidirá com a Europa as “linhas vermelhas” do plano
Embora quase todas essas condições ultrapassem as “linhas vermelhas” impostas pela Ucrânia em fases anteriores das negociações, o presidente Volodymyr Zelensky concordou em negociar com base no documento que lhe foi apresentado pelos Estados Unidos nesta quinta-feira (20).
Para obter uma posição mais forte nessas negociações, Zelensky conversou nesta sexta-feira (21) com os líderes da França, do Reino Unido e da Alemanha e anunciou que coordenará com eles antes de dar os próximos passos.
Zelensky espera ter uma conversa telefônica com o presidente Donald Trump, que deverá servir para esclarecer a posição da Ucrânia sobre o documento e começar a propor alterações às cláusulas que Kiev não aceita, como as concessões territoriais.
Segundo diversos veículos da imprensa americana, a Ucrânia, por meio de seu negociador-chefe, Rustem Umerov, aprovou grande parte do plano durante sua recente viagem aos Estados Unidos, antes de sua apresentação oficial a Zelensky.
Umerov, no entanto, negou ter autoridade para avaliar o conteúdo e afirma que se limitou a tratar de aspectos técnicos do processo de negociação.
O jornal Washington Post informou nesta sexta-feira que Trump estaria pressionando Kiev para que apoie a proposta antes do Dia de Ação de Graças, celebrado na próxima quinta-feira (27).
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