Nesta terça-feira (18), o mercado financeiro amanheceu com a notícia da Operação Compliance Zero da Polícia Federal (PF), que prendeu o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro. Como a prisão aconteceu na véspera com o aeroporto internacional de Guarulhos (SP) como cenário – no mesmo dia em que circulava a notícia de que o Master seria adquirido por investidores estrangeiros –, havia um forte indício de que Vorcaro tentava fugir, segundo a PF. Ele negou esta hipótese na Superintendência da PF no aeroporto.
“As investigações tiveram início em 2024, após requisição do Ministério Público Federal, para investigar a possível fabricação de carteiras de crédito insubsistentes por uma instituição financeira. Tais títulos teriam sido vendidos a outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por outros ativos sem avaliação técnica adequada”, disse a PF em nota.
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Segundo noticiaram diversos veículos, delegados da operação informaram em off que a prisão teria sido antecipada porque o monitoramento da PF detectou que Vorcaro estava se deslocando para o aeroporto na noite de segunda com malas e família, o que foi interpretado como risco iminente de fuga. Por isso decidiram prendê-lo antes do horário combinado para o cumprimento dos mandados (que seria na madrugada de terça).
De acordo com a PF, o total dos prejuízos pode chegar a R$ 12 bilhões com a emissão de títulos falsos. A defesa de Vorcaro classificou a prisão como “ilegal” e “desnecessária”, dizendo que ele embarcava para a ilha de Malta com destino final ao Oriente Médio, onde se reuniria com os compradores do Banco Master.
Outsider
Natural de Belo Horizonte, Vorcaro tem 42 anos e foi criado em uma família com negócios no setor da construção civil. Formado em economia e com MBA em gestão, seu primeiro e seu segundo negócios foram financiados pelo pai.
Em entrevista à revista Piauí, em outubro de 2024, Vorcaro atacou quem o criticava por ser vítima de uma origem não diretamente ligada ao mercado financeiro.
“Isso acontece por eu ser um outsider. E não é só preconceito. São pessoas que querem nos frear e ficam usando coisas ruins contra nós”, declarou.
Negócios suspeitos
A liquidação do banco e a prisão do seu presidente podem ser o ponto final de uma trajetória marcada por negócios suspeitos. O Banco Master iniciou suas operações em 2019, após ser mantido por dois anos em espera pela autoridade monetária do Banco Central. Sua origem remonta ao Banco Máxima, propriedade do banqueiro paulistano Saul Sabbá.
Vorcaro ficou famoso na Faria Lima — região de São Paulo onde estão as maiores fintechs do país — por uma estratégia de negócios que pouca gente entendia: em vez de captar recursos com correntistas e empréstimos, o Banco Master oferecia investimentos com taxas de juros muito acima das praticadas no mercado.
O Master é conhecido por oferecer Certificados de Depósito Bancário (CDB) com percentuais de juros mais atrativos que a média do mercado para captar recursos junto a investidores. A maioria dos bancos emite CDBs com taxas que não vão além de 100% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que é balizado pela taxa básica de juros (Selic). Os CDBs do Master frequentemente ofereciam remunerações acima de 130%.
O Máxima havia sido desabilitado pelo Banco Central em 2016 por gestão fraudulenta e rombo de caixa, crimes equivalentes aos que levaram às investigações sobre o Master, nome que o banco ganhou logo depois de ser alvo de operação da PF em 2020.
No caso do Banco Master, muitos investidores possuíam CDBs, que são um tipo de título emitido pelo banco, com pagamento de juros.
Garantia do FGC
Com o dinheiro captado junto aos pequenos investidores, o Master aplicava em ativos de empresas como a Light, Ambipar, CVC, Oi (recentemente falida) e Gafisa, todas conhecidas por fragilidade financeira e inconsistência nos balanços.
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) protege investimentos de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição financeira. Qualquer valor acima desse limite não é coberto pelo FGC — e só poderá ser recuperado a partir do processo de liquidação e venda dos bens do banco.
Com o impacto da notícia da liquidação do banco, nesta terça-feira o aplicativo de finanças que mais tinha downloads nas lojas de aplicativos de celulares era o do FGC. Investidores correram para recuperar os fundos de suas aplicações.
Em dezembro de 2024, o então presidente do BC, Roberto Campos Neto, chamou os principais diretores do Banco Master para uma reunião de emergência, entre eles Vorcaro. O BC determinou que o Master parasse de emitir CDBs e se capitalizasse – ou seja, que colocasse dinheiro real no caixa da instituição financeira. Deu um prazo de alguns meses para que as medidas fossem tomadas e, assim, o banco evitasse a intervenção.
Em março, o Banco Regional de Brasília (BRB), de propriedade do Governo do Distrito Federal (GDF), do governador Ibaneis Rocha (MDB), manifestou a intenção de comprar o Banco Master por R$ 2 bilhões.
A compra chegou a ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e por uma lei na Câmara Legislativa do DF, que autorizava a aquisição com dinheiro público (sendo o BRB propriedade do GDF). O negócio foi vetado pelo BC, que suspeitou, entre outros indícios, do valor do próprio BRB, que não passa muito de R$ 3 bi.
Bomba relógio
Reportagens de abril deste ano revelavam que o Banco Master acumulava cerca de R$ 49 bilhões em CDBs, montante que representava 96% da capacidade total do FGC para cobrir esse tipo de título.
“É uma bomba-relógio montada com o dinheiro de milhares de brasileiros. Em vez de uma intervenção transparente, resolveram tudo nos bastidores com uma compra apressada feita por um banco controlado pelo governo do Distrito Federal. Isso precisa ser investigado com urgência”, declarou a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC).
A Fictor Holding Financeira anunciou, em comunicado na segunda, a compra do Banco Master, com aporte imediato de R$ 3 bilhões. A operação foi realizada em consórcio com investidores dos Emirados Árabes Unidos com ativos que somariam mais de US$ 100 bilhões, segundo a Fictor. Parte dos recursos viria de investidores do Oriente Médio, mas não ficou claro quem seriam.
Nesta terça, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado das funções após a prisão de Vorcaro. A instituição pública da capital federal também foi alvo de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal durante o
Em nota à reportagem, o BRB informou que sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência e que prestou regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master. “A Instituição reafirma seu compromisso com a ética, a responsabilidade e a integridade na condução de suas atividades”, completou.
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