A inadimplência no agronegócio manteve a trajetória de crescimento no segundo trimestre de 2025, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (12) pela Serasa Experian. De acordo com levantamento da instituição, 8,1% da população rural brasileira tem dívidas com mais de 180 dias de atraso, o maior porcentual desde o segundo trimestre de 2022, início da série histórica.
O índice representa alta de 0,3 ponto porcentual em relação ao trimestre anterior e de 1,1 ponto na comparação com o mesmo período do ano passado:
- 2º trimestre de 2024: 7%
- 3º trimestre de 2024: 7,4%
- 4º trimestre de 2024: 7,4%
- 1º trimestre de 2025: 7,8%
- 2º trimestre de 2025: 8,1%
“Os indicadores apontam uma piora lenta, porém contínua, na capacidade da população rural de manter-se adimplente. O agronegócio enfrenta desafios de fluxo de caixa e endividamento acumulados nos últimos três a quatro anos, exigindo atenção e reestruturação”, diz Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian.
Para Pimenta, o acompanhamento constante do perfil de crédito é essencial para evitar que produtores se alavanquem além da capacidade operacional, considerando seus perfis de risco.
“Fatores como custo de produção elevado, variação nos preços das commodities e crédito mais caro explicam esse cenário, reforçando a importância da gestão de risco apoiada por dados e inteligência analítica”, diz.
O indicador de inadimplência do agronegócio da Serasa Experian considera apenas dívidas vencidas há mais de 180 dias e até cinco anos, com valor mínimo de R$ 1 mil, relacionadas a financiamentos e atividades agropecuárias, nas seguintes categorias:
- Instituições financeiras: bancos, fundos de investimento e cooperativas de crédito;
- Setores Agro: agroindústrias, atacadistas agro, serviços e revendas de insumos e máquinas agrícolas, produtores rurais;
- Outros setores: seguradoras não-vida, transporte de carga, armazenamento, utilities, varejo e telecomunicações.
A base de análise inclui 10,5 milhões de pessoas físicas da população rural, com registros:
- No Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou no Cadastro Federal de Imóveis Rurais (Cafir);
- No Cadastro Positivo, com financiamentos rurais ou agroindustriais no último ano;
- No Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços (Sintegra), com registro de atividade de produtor rural.
Na atualização mais recente, a Serasa Experian passou a utilizar apenas registros de imóveis rurais do CAR, em linha com as normas de crédito rural voltadas à viabilidade econômica e regularidade ambiental.
Não estão incluídos registros de imóveis classificados como “Assentamentos” e “Povos e Comunidades Tradicionais”, que demandam análise diferenciada e integrada, por envolver direitos coletivos e aspectos socioambientais específicos, segundo a empresa.
Produtores sem registro formal concentram maior taxa de inadimplência
A análise da Serasa Experian mostra que produtores sem registro de cadastro rural — como arrendatários ou participantes de grupos familiares e econômicos — são os mais afetados pela inadimplência, com 10,5% do total.
Na sequência, aparecem os grandes proprietários (9,2%), seguidos pelos médios (7,8%) e pequenos produtores (7,6%).
“Quem arrenda terras costuma operar com margens mais estreitas, devido ao custo extra. Já entre os grandes produtores, o apetite maior ao risco pode gerar desequilíbrio”, explica Pimenta.
Rio Grande do Sul apresenta os menores índices; Amapá lidera inadimplência
O levantamento revela diferenças regionais expressivas. Entre as unidades federativas, o Rio Grande do Sul lidera com o menor índice de inadimplência (4,9%), seguido por Santa Catarina (5,6%) e Paraná (5,7%). Na outra ponta, o Amapá registra a maior taxa, com 19,5% da população rural endividada.
- RS: 4,9%
- SC: 5,6%
- PR: 5,7%
- SP: 6,7%
- MG: 6,8%
- ES: 7,4%
- BA: 7,5%
- SE: 7,8%
- MS: 7,9%
- GO: 8,6%
- RJ: 9,1%
- PB: 9,7%
- MT: 10,1%
- RO: 10,2%
- PE: 10,4%
- MA: 10,7%
- PI: 10,8%
- AL: 11,0%
- CE: 11,1%
- TO: 11,4%
- DF: 11,4%
- AC: 11,7%
- PA: 12,4%
- RN: 12,6%
- RR: 13,0%
- AM: 13,9%
- AP: 19,5%
Crédito vindo diretamente do setor agro tem inadimplência quase zero
Quando analisadas as fontes de endividamento, o estudo indica que as instituições financeiras concentram a maior parte das dívidas, com 7,2% de inadimplência.
Já os produtores que tomaram crédito em empresas ligadas diretamente ao setor agroindustrial registram índices mínimos: 0,3% no “Setor Agro” e 0,1% em “Outros Setores Relacionados”.
As categorias representam produtos e serviços, como agroindústrias de transformação e comércio atacadista agro, serviços de apoio ao agro, produção e revendas de insumos e de máquinas agrícolas, produtores rurais, seguradoras não-vida, transportes e armazenamentos.
“Nesse sentido a cadeia agro tem um cenário positivo sobre a inadimplência. É importante reforçar esse recorte, pois se no geral 8,1% dos produtores estão inadimplentes, nessa visão, o percentual é muito menor”, diz o head de agronegócio da Serasa Experian.
Presidentes da Caixa e do BB dizem que inadimplência do agro tem contribuição de “oportunistas”
O aumento da inadimplência do agronegócio em bancos públicos federais desde o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afetam o desempenho do Banco do Brasil (BB), maior agente financeiro do setor, e da Caixa Econômica Federal, que passou a investir em linhas de crédito a produtores rurais na gestão de Jair Bolsonaro (PL), e também do Banco do Nordeste (BNB) e do Banco da Amazônia (Basa).
No balanço do BB referente ao primeiro semestre, divulgado em agosto, o índice de inadimplência, com atrasos acima de 90 dias, subiu para 4,21%, puxado pelo agronegócio. No primeiro semestre de 2023, início do atual governo, o porcentual era de 3%.
No segundo trimestre deste ano, o lucro ajustado do banco caiu 60% na comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 3,8 bilhões.
Na Caixa, o segundo trimestre encerrou com 7,02% de inadimplência do agro, contra 4,3% nos primeiros três meses do ano, o que levou o banco a restringir o crédito ao setor.
Nesta semana, ao portal Infomoney, o presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira, disse que o crescimento na inadimplência do crédito rural teve a contribuição de “situações oportunistas”, que, segundo ele, se aproveitaram para incentivar pedidos de recuperação judicial de empresas do agro.
“Temos, sim, hoje um problema a discutir, além de outros aspectos ligados, que são situações oportunistas [criadas] por aqueles que não querem o bem do Brasil e que estão chamando essas empresas a entrar no processo de recuperação judicial. Isso é ruim para todo mundo”, afirmou.
Em agosto, a presidente do BB, Tarciana Medeiros, chegou a mencionar a possibilidade de acionar judicialmente escritórios de advocacia que estariam incentivando clientes do agro a pedir recuperação judicial, classificando a situação como “litigância abusiva”.
Em setembro, ela afirmou acreditar que a medida provisória (MP) editada pelo governo para renegociar dívidas de produtores rurais em condições especiais deve acelerar o processo de recuperação de resultados do banco.
Vieira também acredita que o índice já atingiu o seu ápice e deve começar a cair no primeiro semestre de 2026. “Estamos no momento em que, na fase seguinte, teremos a queda dela, acredite, já a partir de janeiro ou do primeiro trimestre de 2026”, afirmou.
Segundo ele, o agronegócio passou por um período de expansão de crédito que, em parte, resultou em um excesso de financiamento destinado à formação de bens econômicos, que demandam tempo para maturação.
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