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Canhão de sinos, troféu brasileiro da Guerra do Paraguai, vira disputa diplomática

Uma complexa disputa diplomática está em curso entre Brasil e Paraguai pela devolução do canhão El Cristiano, um troféu brasileiro da Guerra do Paraguai (1864-1870). Enquanto os paraguaios buscam uma reparação histórica com o retorno do item, fundido com bronze de sinos de igrejas e hoje exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, o Itamaraty busca uma solução intermediária, propondo mantê-lo no Brasil como parte de um memorial de reconciliação.

A história do canhão El Cristiano, símbolo da resistência paraguaia

El Cristiano foi fundido no Paraguai na década de 1860 com bronze de sinos de igrejas paraguaias, durante o conflito. Em 1866, foi usado na Batalha de Curupaiti contra as forças brasileiras. Após a guerra, tropas brasileiras trouxeram o canhão como troféu.

Para os paraguaios, o canhão representa um símbolo nacional de resistência durante um dos conflitos mais devastadores da história da região. Edgar Martínez, diretor do curso de Ciências Políticas da Universidad de Misiones, integra um grupo de lideranças ligadas a universidades e à organização Parlamento e Fé Paraguai que busca a devolução. “Precisamos encerrar, de uma vez por todas, essa época que não foi de boas relações. O Paraguai foi devastado [na guerra], mas o Brasil não sente [pelos estragos que causou]”, disse Martínez em reunião no Itamaraty.

Negociações no Itamaraty: governo Lula trata caso como prioridade

Na semana passada, o grupo de paraguaios reuniu-se no Itamaraty com a embaixadora Gisela Padovan, secretária da América Latina e Caribe. No encontro, articulado pelo deputado Ronaldo Nogueira (Republicanos-RS), foram sugeridos os próximos passos das negociações.

Durante a reunião, a embaixadora admitiu que a guerra entre os países “é uma mancha na história” e que resolver o caso do canhão já é prioridade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Gisela, no entanto, apontou que o Brasil também tem interesse em reaver itens do conflito, como canhoneiras que permanecem no Paraguai.

A troca de artefatos seria uma das possíveis soluções para o impasse. Uma alternativa seria a exposição do canhão paraguaio e das canhoneiras brasileiras em um “memorial da reconciliação”. O desfecho, no entanto, depende de fatores como o destombamento do canhão, que integra o patrimônio nacional do Brasil.

Paraguai tenta há 15 anos repatriar o canhão da Guerra do Paraguai

Há pelo menos 15 anos, o Paraguai tenta oficialmente repatriar o canhão. O grupo de paraguaios que atualmente retoma o assunto não envolve diretamente o governo do Paraguai ou o Congresso do país. Segundo Edgar Martínez, as tentativas anteriores por vias oficiais fracassaram.

Esforços diplomáticos e simbólicos anteriores

Em 2015, o Senado paraguaio aprovou uma declaração pedindo a abertura de negociações diplomáticas para a devolução da peça.

Em 2023, na posse do presidente paraguaio Santiago Peña, ele afirmou que itens de guerra tomados pelo Brasil “pertencem ao governo paraguaio” e que pretendia tratar o tema com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas também não houve avanço.

Em 2014, Miguel Ángel Solano López deu entrevista ao Jornal do Senado defendendo a devolução do canhão. Bisneto do presidente paraguaio Francisco Solano López, que comandou o país durante a Guerra do Paraguai, ele afirmou que “para que as feridas se cicatrizem no Paraguai”, o Brasil deveria devolver o El Cristiano. Miguel Ángel destacou que falava não como diplomata, mas como “descendente do personagem mais famoso da história do Paraguai”.

Em setembro deste ano, o grupo de paraguaios participou do II Fórum Brics “Valores Tradicionais”, realizado na Câmara dos Deputados em Brasília. Na ocasião, o presidente do Parlamento e Fé Paraguai, Hugo Alcaraz, destacou que a devolução do canhão deveria ser priorizada pelos parlamentares brasileiros como “reparação pelas atrocidades do Brasil contra o Paraguai”.

Tombamento pelo Iphan é principal entrave para a devolução

A devolução não é questão puramente diplomática. O canhão está tombado como patrimônio histórico brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1998, o que impõe salvaguardas específicas à sua movimentação.

O destombamento é o primeiro passo necessário. O ato cabe ao presidente da República, segundo o Decreto-Lei 3.866/1941, que atribui apenas a ele o poder de rever um tombamento. Após o destombamento, a doação do canhão ainda precisa de aprovação do Congresso Nacional.

A dimensão simbólica da disputa – reparação histórica para o Paraguai, preservação de memória militar para o Brasil – explica a solução proposta pelo Itamaraty. A criação de um “memorial da reconciliação” seria um gesto que preservaria o artefato no Brasil, mas o inseriria em uma narrativa de memória e reconciliação.

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