O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha esperanças de ganhar o Nobel da Paz deste ano, mas foi frustrado pela vitória de María Corina Machado, opositora do ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
A Casa Branca admitiu o incômodo: em 10 de outubro, quando o resultado foi anunciado, Steven Cheung, assessor de Trump e diretor de Comunicações da presidência, escreveu no X que “o Comitê do Nobel provou que prioriza a política acima da paz” ao não dar o prêmio ao presidente americano.
Por coincidência ou não, desde então, Trump, que já publicou vários posts na rede Truth Social se descrevendo como o “presidente da paz”, vem aumentado a retórica e as ações militares.
Antes de 10 de outubro, já havia tomado algumas iniciativas nesse sentido, como bombardear alvos dos houthis no Iêmen em março e instalações nucleares do Irã em junho, e enviar a Guarda Nacional para Los Angeles, para conter protestos contra suas políticas anti-imigração ilegal, e para Washington, com o objetivo de reduzir a criminalidade na capital americana.
Entretanto, as ações e discursos militares de Trump escalaram nas últimas semanas. A campanha de bombardeios contra embarcações que os EUA alegam serem ligadas ao narcotráfico, que havia começado em setembro, acelerou: dos 15 ataques já realizados no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, que deixaram por ora 64 mortos, 11 ocorreram depois da entrega do Nobel da Paz a María Corina.
Além desses bombardeios, a ditadura de Maduro, que considera a operação uma desculpa para tirá-lo do poder, ganhou mais motivos para se preocupar.
Trump disse que autorizou operações letais da CIA na Venezuela e que as forças americanas realizarão ações por terra contra cartéis latino-americanos, além de ter enviado o Grupo de Ataque de Porta-Aviões Gerald R. Ford para a área do Comando Sul dos Estados Unidos (Southcom, na abreviação em inglês), encabeçado pelo maior porta-aviões do mundo, e o USS Gettysburg, um cruzador de mísseis guiados, para reforçar o efetivo que já estava na região.
No fim de semana, em entrevista à CBS, Trump foi perguntado se achava que “os dias de Maduro estão contados” e respondeu afirmativamente, mas sem dar maiores detalhes.
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A Nigéria e a China também foram alvos da nova retórica de confronto do presidente americano nos últimos dias.
No sábado (1º), o presidente americano disse que, “se o governo nigeriano continuar permitindo o assassinato de cristãos, os EUA suspenderão imediatamente toda a ajuda e assistência à Nigéria” e poderão realizar ações militares dentro do país africano “para eliminar completamente os terroristas islâmicos que estão cometendo essas atrocidades horríveis”. Ele afirmou que instruiu o Pentágono para que tropas ficassem de prontidão.
Quanto à China, Trump foi perguntado, na mesma entrevista em que falou sobre os “dias contados” de Maduro, se falou com o ditador Xi Jinping sobre a prometida invasão de Pequim a Taiwan no encontro que os dois líderes tiveram na Coreia do Sul, na semana passada.
O presidente americano disse que o assunto não foi mencionado, mas deixou uma ameaça no ar: afirmou que os chineses nunca invadiriam a ilha durante seu mandato, “porque sabem quais seriam as consequências”.
A China, além da Rússia, ditadura aliada de Pequim, já estava na mente de Trump dias antes, quando ele ordenou os primeiros testes de armas nucleares dos Estados Unidos em 33 anos, um anúncio que surpreendeu o mundo inteiro.
Especialistas divergem sobre o significado dessa nova posição de Trump, quando se leva em conta que, durante a campanha presidencial de 2024, o republicano disse que a invasão da Rússia à Ucrânia em 2022 e os atentados do Hamas contra Israel em 2023 (que desencadearam a guerra em Gaza) não teriam acontecido se ele fosse presidente e que não envolveria os Estados Unidos em conflitos armados se fosse eleito.
Em artigo para o The Hill, Brahma Chellaney, especialista em estudos estratégicos, disse que a postura belicista recente de Trump “entra em conflito” com sua tentativa de “se autoproclamar um pacificador global”.
O analista destacou que no seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, Trump se gabou de ter intermediado o fim de sete guerras – posteriormente, mediou o cessar-fogo entre Israel e Hamas.
“Mas, em contraste com essa postura não intervencionista de ‘América em Primeiro Lugar’, a abordagem de Trump em relação à Venezuela tem sido uma das campanhas mais persistentes dos EUA para a derrubada de um regime na história recente”, escreveu Chellaney.
“Ao personalizar a política externa a ponto de decisões importantes dependerem de impulsos em vez de consultas com profissionais de segurança nacional, Trump aumentou o risco de erros de cálculo”, acusou o analista.
Entretanto, outros especialistas saudaram essa mudança de postura de Trump. “Voltando ao discurso da primeira posse do presidente Trump [em 2017]: muitas pessoas, inclusive eu, para ser honesto, temiam que a agenda ‘América em Primeiro Lugar’, como ele a apresentou, fosse uma abordagem isolacionista”, afirmou Jonathan Morris, comentarista da Fox News, no último fim de semana.
“[Mas] o que estamos vendo agora, especialmente no seu segundo mandato, é algo muito mais parecido com [Ronald] Reagan [presidente americano entre 1981 e 1989], que prega a paz através da força. Então, veremos o que ele realmente fará na Nigéria, mas o que ele está dizendo ao governo nigeriano neste caso é: ‘Cuidado! Estamos observando o que está acontecendo e sabemos o que já aconteceu com o extremismo religioso no passado, incluindo genocídios em massa’”, afirmou, citando a ameaça de intervenção dos EUA no país africano.
Nesse sentido, Morris sugeriu que a retórica militar de Trump pode ser uma forma de pressão para que haja mudanças, e não exatamente uma prévia de ações em grande escala.
“Eu quero que os Estados Unidos invadam a Nigéria amanhã? Absolutamente não. Não acho que isso resolveria as coisas, mas precisamos ser uma força para o bem moral e nos manifestar, certamente”, elogiou o comentarista.
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