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Como cristãos tentam contornar perseguição na China com igrejas “secretas”

Nas últimas semanas, a ditadura de Xi Jinping realizou uma ampla operação nacional de repressão à liberdade religiosa na China, um dos países onde o cristianismo não pode ser professado livremente. Como resultado, pelo menos 30 pastores e lideranças de uma das maiores igrejas evangélicas “secretas” em atuação no país asiático foram presos ou desapareceram.

O caso envolveu organizadores e mantenedores da Igreja Zion, incluindo seu fundador, o pastor Ezra Jin Mingri. O jornal Wall Street Journal e as agências de notícias Reuters e Associated Press chegaram a classificar essa ação do regime chinês como a maior realizada contra igrejas independentes desde 2018.

A organização Portas Abertas, cujo objetivo é acompanhar e auxiliar igrejas em países onde cristãos sofrem perseguição, informou que 16 pessoas foram liberadas até o último dia 13, contudo o status dos demais detidos permanece desconhecido.

A Ong afirmou que familiares de vários cristãos presos receberam notificações oficiais de detenção criminal emitidas em 13 de outubro pela Delegacia de Yinhai, do Departamento de Segurança Pública de Beihai, na Província de Guangxi. Os documentos confirmam que o fundador da igreja, pastor Ezra Jin Mingri, Gao Yingjia, Yin Huibin e Wang Cong e a cristã Yang Lijun foram formalmente acusados de “uso ilegal de informações da internet” – recentemente, o ditador Xi também ampliou a repressão no ambiente virtual, o que facilitou a identificação e localização de fiéis.

Como atuam as igrejas domésticas na China

Fundada em 2007, a comunidade Zion, alvo do regime chinês nas últimas semanas, é considerada uma das maiores igrejas evangélicas em atuação na China, contando com mais de cinco mil fiéis espalhados por 40 cidades no país asiático.

Assim como a Zion Church, outras comunidades evangélicas seguem promovendo o cristianismo na China, apesar dos crescentes riscos. Esse trabalho é realizado pelas chamadas igrejas domésticas – que se reúnem informalmente, sem o consentimento do regime comunista chinês, que as considera “ilegais”.

Os fiéis realizam encontros periódicos, geralmente em casas ou espaços cedidos pelos próprios membros. Em 2019, duas colaboradoras do Portas Abertas foram à China para visitar essas comunidades. Um pastor, que resistiu a uma enxurrada de restrições das autoridades, disse que “eles [funcionários do regime comunista] vêm regularmente para nos assediar e encerrar as reuniões. Somos uma igreja de 800 pessoas e ainda nos reunimos em pequenos grupos, e também em grandes reuniões”.

Segundo o entrevistado, que teve sua identidade preservada, policiais, membros do Departamento de Assuntos Religiosos ou funcionários diretos do regime surgem aleatoriamente a cada 15 dias nesses encontros. “A primeira coisa que observam é se há crianças ou adolescentes no prédio, pois jovens menores de 18 anos são proibidos de participar das atividades da igreja. Se houver crianças presentes, dizemos que tentamos, mas elas continuam chegando, não podemos detê-las”, disse.

Nos últimos meses, diferentes congregações cristãs tiveram cultos interrompidos em todo o país, uma prática comum das autoridades chinesas, mas que foi ampliada com um novo código de leis visando identificar lideranças religiosas atuantes.

Segundo o Portas Abertas, em setembro, Pequim mobilizou cerca de 400 policiais e 200 veículos em uma ação coordenada contra diferentes igrejas no leste do gigante asiático. Um dos parceiros locais da organização relatou que “nunca tinha visto tanta força sendo usada em um caso relacionado à igreja”. Ao todo, cerca de 70 pessoas foram detidas, incluindo pastores, obreiros e famílias que organizavam cultos domésticos.

Enquanto algumas prisões foram registradas dentro de ambientes religiosos, outros fiéis foram presos em seus locais de trabalho ou em casa.

Outro parceiro local do Portas Abertas contou que a ação levou muitos a abandonarem suas comunidades devidos aos altos riscos.

“Depois dos recentes acontecimentos, nossa igreja chegou a um impasse. Alguns irmãos e irmãs abandonaram a igreja, enquanto diversos outros aparentam estar à beira de deixar a fé. O número de obreiros em tempo integral caiu de seis para apenas um. Mais de 80 pequenos grupos dentro das igrejas domésticas deixaram de se reunir. Das 14 igrejas que existiam antes da ação policial, poucas seguem funcionando”, relatou a fonte, que não é identificada pela Ong por motivos de segurança. Segundo o parceiro local, possivelmente as igrejas foram denunciados por “informantes infiltrados”.

Em meio à crescente perseguição religiosa, muitos cristãos permanecem firmes em seu propósito de apresentar sua fé a outras pessoas na China, por meio de encontros de oração e estudos bíblicos com grupos reduzidos. Várias igrejas influentes no país asiático emitiram declarações públicas online expressando apoio à Igreja Zion nos últimos dias.

Atualmente, a China ocupa a 15ª posição na Lista Mundial de Perseguição a cristão do Portas Abertas. Estima-se que o país tenha 96,7 milhões de fiéis.

Há alguns anos, a ditadura de Xi Jinping vem pressionando as igrejas consideradas “legalizadas” – aquelas que estão alinhadas à filosofia do Partido Comunista Chinês (PCCh) – a acrescentar elementos políticos e folclórico chinês aos rituais litúrgicos, na tentativa de controlar o discurso religioso. Ainda há comunidades que resistam à pressão ditatorial.

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