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Lula radicaliza promessas eleitorais com transporte público gratuito e jornada de trabalho menor

O “kit reeleição” de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), montado com o auxílio do Congresso e recheado de subsídios bilionários — do botijão de gás à conta de luz e a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda —, não são os únicos elementos de sua estratégia eleitoral. Para manter a rota de recuperação da popularidade, o presidente prepara nova leva de promessas de forte apelo social e elevado custo fiscal.

O plano em elaboração inclui a defesa do transporte público gratuito para todos os cidadãos e a redução da jornada de trabalho para apenas quatro dias semanais. São propostas de difícil execução, mas com expressivo potencial de mobilização, sobretudo nas redes sociais, onde o governo espera reacender o entusiasmo do eleitorado de baixa renda — tradicional base de apoio de Lula e do petismo.

A reação dos mercados a essa movimentação já pode ser percebida. A simples menção à tarifa zero para ônibus feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo na segunda-feira (6). Analistas alertam que, embora populares, tais ideias são vistas pelo setor produtivo como uma grave ameaça à sustentabilidade das contas públicas e à sobrevivência das empresas.

Para o conselheiro empresarial Ismar Becker, Lula sabe que a reeleição será difícil devido à rejeição expressiva e consolidada. Por isso, recorre ao populismo fiscal. “Ocorre, contudo, que benefícios extras não estão garantidos no Orçamento e que se destinam a um eleitorado já cativo do presidente, sinalizando certo desespero dele”, diz. “Seus maiores avanços até agora devem-se só aos erros da oposição”.

Para investidores, o movimento sinaliza que o presidente pode seguir a máxima de Dilma Rousseff, sua antecessora e correligionária, de o que for preciso para garantir a reeleição, eliminando o resto de preocupação com a crescente dívida federal. Todavia, Lula parece disposto a ultrapassar os limites do populismo econômico, ao menos no discurso, em busca de um quarto mandato no Palácio do Planalto.

Gratuidade do ônibus vira bandeira eleitoral estimada em até R$ 90 bilhões

Em meio a reações negativas, Haddad afirmou que a gratuidade no transporte público pode integrar a campanha de reeleição de Lula em 2026. Segundo o ministro, um estudo técnico sobre a viabilidade da medida está em andamento por determinação do presidente. “Estamos fazendo uma radiografia do setor. O tema é importante para os trabalhadores, o meio ambiente e a mobilidade urbana”, disse.

Apesar de o conceito já ser defendido há décadas por movimentos como o Passe Livre (MPL) e tentado pela gestão petista (1989-1992) da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, atualmente no PSOL, o governo Lula resolveu atualizá-lo como programa nacional. Com vistas à gratuidade progressiva, Haddad junta dados de custos, subsídios, vale-transporte e tarifas. A bandeira eleitoral sofre resistência dentro da própria equipe econômica.

O principal entrave é o gasto da implementação do modelo em escala nacional, com impacto anual sobre o bolso do contribuinte estimado de R$ 57 bilhões, segundo a consultoria XP, a R$ 90 bilhões, de acordo com a Confederação Nacional dos Transportes. Por enquanto, o governo avalia alternativas de financiamento, que talvez envolvam parcerias com estados e municípios, mas sem definições de fonte de custeio nem de cronogramas.

A simples especulação acerca do subsídio integral para tarifas de ônibus, proposto já por Haddad em 2012 à presidente Dilma, seja só nos fins de semana ou em todos os dias, elevaram na semana passada as taxas dos juros de curto prazo entre bancos devido às pesadas implicações fiscais. O mau-humor continuou pressionando nos dias seguintes as cotações do dólar e de ações de várias empresas.

PEC da redução da jornada já mobiliza bancadas do PT na Câmara e no Senado

A redução da jornada de trabalho apoiada pelo governo está na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe o fim da escala 6×1 e a adoção de carga semanal menor — 36 horas — distribuídas em quatro dias de trabalho com três de descanso. A duração normal do trabalho não excederia oito horas diárias e a mudança ocorreria sem redução salarial, preservando-se direitos e vencimentos.

Apresentada pela deputada Érika Hilton (PSOL-SP) em março, a PEC 8/2025 ganhou o apoio em seguida do PT na Câmara, sob comando de José Guimarães (PT-CE). O líder petista afirmou que o partido iria se empenhar para aprovar a proposta e que ela pode fortalecer a pauta trabalhista da gestão Lula. Mas, apesar do endosso também de senadores petistas, o Palácio do Planalto tem tido certa cautela em tratar do tema.

A Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, anunciou em 18 de março de 2025 o fim da escala 6×1 como prioridade da legenda, com articulações para impulsionar o debate no Congresso e nas bases sindicais. A adesão crescente de parlamentares petistas, animados com o apoio nas redes sociais, consolidou o discurso de “novo ciclo de direitos trabalhistas” que Lula busca defender às vésperas do ano eleitoral.

Para os críticos, a medida levaria ao aumento dos custos operacionais das empresas, segundo defendeu a entidade patronal Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) no primeiro trimestre do ano, quando a medida foi apresentada pela parlamentar do PSOL.

Opinião semelhante foi apresentada à época por Alexandre Furlan, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele argumentou que a redução da carga horária por lei pode produzir efeitos negativos no mercado de trabalho e na capacidade das empresas de competir, sobretudo aquelas de micro e pequeno porte. Ainda de acordo com o representante da CNI, a negociação coletiva é o melhor caminho para que empresas e trabalhadores.

“A justificativa de que uma redução da jornada estimularia a criação de novos empregos não se sustenta, é uma conta que não fecha. O que fomenta a criação de empregos é o crescimento da economia, que deve ser nossa agenda de país. É preciso lembrar que a Constituição é clara ao indicar que a negociação coletiva é o caminho para se discutir ajustes em jornada de trabalho”, afirmou Furlan.

Especialista aponta o risco de o eleitor ver propostas como meras promessas inviáveis

O cientista político Ismael Almeida avalia que a estratégia de Lula e do governo de adotar pautas populistas e marcadamente à esquerda pode se revelar um “tiro no pé” em pleno ano eleitoral. Segundo ele, o eleitor poderá até reagir com entusiasmo inicial às propostas, mas logo perceberá que elas são inviáveis e dependem do sacrifício de outros setores produtivos da sociedade. “Serão só promessas”, diz.

Na prática, o especialista entende que medidas como jornada de trabalho menor e gratuidade de ônibus tendem a perder credibilidade diante das críticas da oposição e de análises econômicas, soando como gesto populista e sintoma de insegurança política — mais voltadas à conquista de votos do que à execução real. “A conta não fecha, porque todos sabem que é caridade com o chapéu alheio”, resume Almeida.

Antes de anunciar novos reforços ao seu discurso de campanha, Lula já mostra sua confiança de vitória nas urnas. “Se a gente brincar em serviço, acaba dando chance para o adversário. É muito difícil alguém nos vencer em 2026. O governo vai terminar bem, o Brasil vive um momento excepcional”, afirmou ele ao visitar o Maranhão nesta terça-feira (7).

Em paralelo, Lula tenta manter o apoio do Centrão enquanto ministros do PP e do União Brasil são pressionados pelos seus partidos a deixarem o governo. Sobre o tema, Lula afirmou que gostaria de mantê-los e não iria “implorar por apoio”. “Se as coisas estão dando certo, por que mexer? Por que essa pequenez de achar que atrapalhar um bom ministro que está fazendo um bom trabalho?”, criticou.

“Tarifaço” de Trump ajuda Lula a zerar a distância entre aprovação e desaprovação

O tarifaço imposto pela Casa Branca sobre produtos brasileiros, apontado pela oposição como punição ao antiamericanismo de Lula, acabou virando ativo político do presidente, favorecendo sua popularidade. O governo tratou a medida como ingerência externa e a explorou com forte discurso nacionalista de “defesa da soberania”. A narrativa associou a crise à resistência contra a potência estrangeira.

A pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira (9) indica que a popularidade de Lula segue em recuperação. Os resultados revelam que as avaliações positivas e negativas da gestão estão agora tecnicamente empatadas: 48% dos entrevistados aprovam o governo, enquanto 49% o desaprovam. A diferença chegou a 17 pontos percentuais em maio e havia caído para cinco pontos no levantamento anterior.

No mesmo levantamento, quase metade dos brasileiros (49%) passou a ver Lula como politicamente mais forte após o brevíssimo encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Assembleia Geral da ONU, no fim de setembro. Outros 27% acreditam que ele saiu mais fragilizado, 10% entendem que não houve mudança e indecisos somam outros 10%. Para 51%, Lula e Trump “vão se dar bem”.

A pesquisa indica que 33% avaliam o governo como positivo e 37% como negativo, diferença menor que a de setembro (31% e 38%, respectivamente). A Genial/Quest foi realizada entre os dias 2 e 5 de outubro, com 2.004 entrevistas presenciais com brasileiros com 16 anos ou mais. O estudo apresenta margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%.

Após o encontro na ONU, Lula e Trump conversaram por telefone e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi indicado pelo presidente dos Estados Unidos para negociar as sanções aplicadas ao Brasil.

Apesar de o governo brasileiro ver a ligação com um tom “positivo”, a oposição enxerga o contrário, já que Rubio é seguidor das premissas de Trump e fortemente contra a atuação de governos autoritários na América Latina.

“A notícia é simples: a química azedou. […] Rubio seguirá a carta do Trump: Normalidade democrática, acabar com censura e perseguição política, eleições livres e deixem Bolsonaro em paz”, afirmou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Para o analista político Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, a designação de Rubio como negociador é “o caminho mais duro possível para o Brasil”, ou seja, o governo Lula deve lidar com um representante difícil, que deverá fazer solicitações exigentes.

Em publicação em seu perfil no X, Winter escreveu que “os brasileiros acham que a ligação [entre Trump e Lula] correu bem, mas Trump nomear Marco Rubio como responsável pelas conversas é o cenário mais difícil [para as negociações] – ele é um crítico antigo de Lula e pode impor exigências relacionadas à Venezuela, à China e a outros temas”.

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