O executivo Mathew Knowles, pai e ex-empresário da cantora Beyoncé, revelou que um clipe gravado pela cantora no Rio de Janeiro, em 2010, nunca foi lançado, pois a Sony não teria pago os traficantes locais durante as filmagens. O clipe seria da música “Put It in a Love Song”, de Alícia Keys, com participação de Beyoncé. Ambas precisaram deixar a favela às pressas, de helicóptero, segundo ele.
A declaração ocorreu no programa americano “Reality with The King”, que foi ao ar nesta terça-feira (7). Mathew contou que recebeu uma ligação: “Elas estavam na favela, no Rio, e a Sony não pagou os bandidos. Elas tiveram que sair de helicóptero de lá”.
O apresentador do programa, Carlos King, reagiu com surpresa. Diante disso, Mathew respondeu: “Há muita coisa que você não sabe, jovem.” Dentre as comunidades envolvidas estariam a favela Santa Marta e o Morro da Conceição.
À época, a Sony Music alegou “motivos criativos” para não veicular o clipe, e não se manifestou, até o momento, sobre a declaração de Mathew. Beyoncé e Alícia também não comentaram a fala.
VEJA TAMBÉM:
Domínio crescente do tráfico
A fala de Mathew ocorre em um contexto de crescente preocupação com a segurança pública e a situação nas favelas brasileiras, apesar de a história relatada ter ocorrido há 15 anos.
Estudo de 2023 do GENI-UFF e Instituto Fogo Cruzado mostrou que o crime organizado controla diretamente quase um quinto da região metropolitana do Rio, limitando a ação da segurança pública.
O Comando Vermelho domina favelas como Alemão, Jacarezinho, Maré, Rocinha, Cidade de Deus e Chapadão, impondo toques de recolher e restrições a serviços. Na Zona Oeste e Baixada Fluminense, milícias controlam dezenas de comunidades, extorquindo moradores através de serviços como transporte e gás, além de cooptar a política local.
A violência é realidade em outras cidades do estado e um dos motivos pelos quais o Rio de Janeiro registrou, pela primeira vez desde o início da série histórica em 1991, mais moradores saindo do estado que entrando. Dados do Censo Demográfico divulgados em junho pelo IBGE revelaram um saldo migratório negativo de -165.360 pessoas entre 2017 e 2022.
Projetos de lei em discussão no Congresso
Diante da crescente violência no país, o governo federal e o Congresso estão debatendo propostas de lei e mudanças na Constituição. Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou requerimento de urgência de oito projetos de lei voltados à pauta da segurança pública, em acordo com governadores.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, tenta a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da segurança pública, que propõe integrar políticas de segurança dos estados, dando mais poder ao governo federal.
Uma das ideias da PEC é atribuir à União a competência para legislar sobre normas gerais de segurança pública, defesa social e sistema penitenciário. Outra mudança pretende retirar a exclusividade das polícias federal e civil para investigar crimes, ampliando, assim, o espaço de atuação para o Ministério Público e para as comissões parlamentares de inquérito (CPI’s).
A PEC, entretanto, tem sofrido alterações em seu texto inicial por meio de emendas, o que pode desidratar a ideia do governo de utilizá-la para obter mais poder sob as polícias dos estados.
No ano passado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) publicou um relatório revelando que 23 milhões de pessoas em todo o país relataram viver em áreas dominadas ou com atuação das facções ou grupos milicianos.