A ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, afirmou que a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais dá fôlego ao governo para avançar na pauta do fim da escala 6×1. A medida foi abraçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no começo deste ano após ganhar forte repercussão nas redes sociais – embora seja fortemente criticada pelo setor produtivo.
Para a ministra, a aprovação da isenção do IR na Câmara – que agora segue para o Senado – é um marco para o debate sobre desigualdade no Brasil e cria condições para ampliar a discussão sobre a jornada de trabalho. A aprovação pelos deputados foi unânime, com 493 votos a favor.
“Ele coloca num outro patamar a discussão sobre a diferença de renda do país. Acho que o mais importante foi ter atingido pela primeira vez o andar de cima. É algo paradigmático para nós”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta sexta (3).
Gleisi Hoffmann afirma que o próximo passo é o debate sobre a escala 6×1, sistema que prevê seis dias de trabalho para apenas um de descanso. Nesta semana, ela gravou um vídeo ao lado da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), defendendo a proposta como prioridade política. Ela, no entanto, reconhece que a aprovação não será simples.
“O tema, que parecia um tabu, está amadurecendo. E o Imposto de Renda também começou como sendo um assunto intocável. Vai ser o mesmo caso”, afirmou avaliando que a votação pode ocorrer no primeiro semestre de 2026.
A discussão sobre a escala 6×1 já foi incorporada ao discurso oficial do PT e aparece com destaque em campanhas de comunicação do partido. Pesquisas recentes da Fundação Perseu Abramo indicaram que a redução da jornada de trabalho, ao lado da segurança pública, está entre os temas mais sensíveis para o eleitorado – a legenda utiliza a mensagem de que “as pessoas estão vivendo para trabalhar e não trabalhando para viver” para defender a proposta.
Na véspera da comemoração do Dia do Trabalhador, no final de abril, Lula tocou no assunto pela primeira vez ao incorporar o fim da escala 6×1 às pautas prioritárias do governo neste ano, além da própria isenção do Imposto de Renda.
“Está na hora de o Brasil dar esse passo ouvindo todos os setores da sociedade para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, declarou em pronunciamento oficial.
Apesar do apoio político, setores do comércio e da indústria se opõem à ideia. Entidades empresariais alegam que a redução da jornada elevaria custos, pressionaria preços e poderia incentivar a informalidade. A preocupação maior está na competitividade, já que micro e pequenas empresas teriam menos margem para absorver os impactos.
Outro ponto levantado é a produtividade, em que especialistas lembram que países desenvolvidos conseguiram reduzir jornadas porque apresentam índices de produção mais elevados, em contraste com a realidade brasileira. A defesa do governo é de que o debate sobre bem-estar precisa caminhar junto ao da eficiência econômica.