Um dia depois da derrota da PEC da Blindagem no Senado, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), buscou reduzir o clima de atrito entre as duas Casas. Questionado sobre a atuação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ele negou que haja qualquer crise pessoal e disse que não vê “sentimento de traição” na decisão que sepultou a proposta, aprovada pelos deputados sob desgaste público.
— Não encontrei Davi. Eu o vi em um jantar na casa do ministro Barroso, mas não tratamos sobre isso. É natural que o presidente de uma Casa converse com a outra, mas o Senado se posicionou e bola para frente. Temos um sistema bicameral, cabe aceitar. Não tem sentimento de traição nenhum. Já teve vários episódios em que a Câmara discordou do Senado. Isso é natural da democracia — afirmou Motta, nesta quinta-feira.
O discurso é uma tentativa de conter a leitura de que houve quebra de acordo. Nos bastidores, aliados de Motta dizem que havia entendimento prévio para que a proposta, que limitava decisões monocráticas do STF contra parlamentares, fosse aprovada também no Senado. A rejeição foi lida por deputados como movimento político de Alcolumbre, que buscou se descolar da imagem de blindagem e responder à pressão das ruas.
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Motta, no entanto, insiste em apresentar um tom conciliador.
— Tenho procurado conduzir a Câmara com muito equilíbrio. Temos dialogado com todos os poderes e é assim que vamos seguir trabalhando. Vamos continuar construindo, em cada assunto, o diálogo que for necessário — disse.
A derrota no Senado ocorre em meio a outras negociações no Congresso, como a votação do projeto do Imposto de Renda e do texto da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. Deputados avaliam que a forma como a PEC da Blindagem foi derrubada aumenta a desconfiança sobre o andamento da pauta da anistia, já que Alcolumbre teria descumprido compromisso firmado previamente.
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O presidente da Câmara, porém, tenta separar os temas. Ele tem assegurado que o IR será votado na próxima quarta-feira, sem vinculação a outras matérias, e que seguirá mantendo agenda de diálogo institucional.
— O modelo que eu tenho procurado conduzir não é só com o Senado, mas também com o Judiciário e o Executivo. É dessa forma que nós vamos seguir trabalhando — afirmou.