quinta-feira , 25 setembro 2025
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TCU obriga Haddad a buscar R$ 30 bilhões para tapar rombo das contas do governo

O ministro Fernando Haddad terá mais trabalho do que esperava para cumprir a meta fiscal deste ano, caso prevaleça uma nova decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). Em vez de perseguir o chamado piso da meta, como sempre faz, o governo terá de mirar o centro. Isso significa tapar um buraco de R$ 30 bilhões até o fim do ano, cortando gastos ou arranjando novas receitas.

O objetivo de 2025 é resultado primário zero, um empate entre arrecadação e despesas. Mas a lei prevê uma tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB, equivalente a R$ 31 bilhões, para mais ou para menos. Quer dizer: mesmo que o ano termine com saldo negativo de R$ 31 bilhões, a meta será dada como cumprida – e é para isso que o governo Lula se programou.

Na interpretação unânime dos ministros do TCU, porém, o Executivo tem de organizar suas contas e fazer eventuais ajustes ao longo do ano a fim de alcançar o centro da meta. Segundo eles, o intervalo de tolerância serve apenas para acomodar imprevistos.

O hábito do governo de ocupar todo o espaço disponível, em meio ao forte crescimento da dívida pública, é criticado há tempos por especialistas em contas públicas.

“A decisão do TCU é acertada”, disse à Gazeta do Povo o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, que já foi secretário da Fazenda de São Paulo e primeiro diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI). “O limite inferior deveria servir para acomodar choques, incorporar despesas não previstas etc. Hoje, ele virou a própria meta.”

São justamente os imprevistos que escancaram a fragilidade da gestão fiscal do governo.

Em 2024, quando precisou dar conta de emergências como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Centro-Oeste, Lula teve de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) licença para excluir as despesas do resultado oficial.

Neste ano, um novo contratempo – o tarifaço de Donald Trump – será enfrentado da mesma forma. Outros gastos, como parte dos precatórios, também correm por fora da contabilidade.

Não por acaso, o resultado real das contas públicas é sempre pior que o oficial. Em 2024, por exemplo, o déficit contabilizado pelo governo foi de R$ 11 bilhões, com alguma distância em relação ao piso da meta (-R$ 28 bilhões). Mas, colocando tudo na conta, o saldo negativo chegou a R$ 45 bilhões – e foi esse valor que engordou a dívida pública.

Em 2025, o governo tem permissão para deduzir cerca de R$ 43 bilhões em precatórios. Somando esse valor ao piso da meta, o rombo real será de R$ 74 bilhões.

Desde o início do atual mandato, o presidente Lula pôde gastar mais de R$ 300 bilhões à margem das regras fiscais. E, mesmo com as contas no vermelho, segue anunciando bondades custeadas pelo contribuinte.

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No relatório que embasou o voto do plenário do TCU, a equipe técnica da Corte lembra que as projeções oficiais para a trajetória da dívida pública partem da premissa de que o centro da meta será cumprido. Se o governo mira desde o início um resultado inferior, desmoraliza as próprias previsões.

“A lógica do novo arcabouço fiscal é conduzir as contas públicas à sustentabilidade. Para isso, há dois instrumentos: meta de primário e teto de gastos. Ora, se a meta é usada da forma como está sendo usada, com o limite inferior tendo se transformado no objetivo prático, prejudica-se essa lógica”, diz Salto, da Warren.

Nesta quarta-feira (24), horas depois da decisão, Haddad disse a jornalistas que busca, sim, o centro. “Disso aí não tem dúvida”, completou. Na verdade, tem. Na última segunda-feira (22), os ministérios da Fazenda e do Planejamento afirmaram justamente o oposto.

Ao divulgarem o mais recente relatório bimestral de avaliação do Orçamento, documento no qual informam se terão de reter verbas para cumprir as regras fiscais, as pastas afirmaram o seguinte: “Não há contingenciamento*, visto que o déficit estimado de R$ 30,2 bilhões é menor que o limite inferior da meta (déficit de R$ 31 bilhões)”.

O texto deixa claro que, uma vez assegurado o piso, o governo evita esforço adicional – e é esse o ponto atacado pela decisão do TCU. A folga entre o déficit que a equipe econômica prevê para o ano e o piso da meta é de apenas R$ 800 milhões. Daqui em diante, só há espaço para pequenas surpresas, portanto.

TCU Meta Centro PisoRelatório publicado na segunda-feira (22) deixa claro que o governo busca o piso da meta, equivalente a um déficit primário de R$ 31 bilhões. Como ele parece assegurado, não há contingenciamento de despesas. (Foto: Reprodução)

Uma nota conjunta dos dois ministérios publicada na noite de quarta-feira segue o mesmo raciocínio do relatório bimestral: “Os ministérios esclarecem que o contingenciamento é instrumento utilizado, nos termos da LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal] e do Regime Fiscal Sustentável, quando houver risco de descumprimento da meta que, segundo a LC 200/2023 [lei do arcabouço fiscal], é uma meta em banda e não em ponto”.

Haddad já avisou que tentará reverter a decisão do TCU. A esta altura, ele não tem muita alternativa.

Faltam três meses para acabar o ano, e dois para o próximo relatório bimestral – no qual, se persistir o entendimento do Tribunal de Contas, o governo terá de contingenciar despesas caso o resultado primário siga abaixo do centro da meta.

Os R$ 30 bilhões que o ministro precisa arranjar são uma montanha de dinheiro. Equivalem a dois meses inteiros de despesas discricionárias (de livre manejo, como custeio da máquina, investimentos e outros). Os demais gastos são obrigatórios (aposentadorias, pensões, salários e outros) e não podem ser cortados.

*O contingenciamento é uma trava mais rígida do Orçamento e serve para assegurar o alcance de determinado resultado primário. O que existe no momento é um bloqueio de R$ 12,1 bilhões. Trata-se de uma contenção preventiva de despesas, mais fácil de reverter, que tem outra finalidade: garantir que o gasto não ultrapasse o limite de gastos estabelecido pelo arcabouço fiscal – a regra permite crescimento real de até 2,5% sobre o ano anterior.

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