A comitiva de senadores brasileiros que visitou nesta sexta-feira (19) a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse temer pela segurança dela na prisão italiana. Os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Damares Alves (Republicanos-DF), Eduardo Girão (Novo-CE) e Magno Malta (PL-ES) afirmaram que Zambelli é uma “perseguida política” e acusaram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de ser um “violador de direitos humanos”.
Eles passaram cerca de duas horas na penitenciária feminina de Rebibbia, onde a parlamentar aguarda a Justiça italiana decidir sobre o pedido de extradição apresentado pelo Brasil. Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão, à perda do mandato e ao pagamento de multa no valor de R$ 2 milhões em danos materiais e morais pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela nega qualquer irregularidade.
“Encontramos uma mulher com seus direitos violados, condenada por um crime que não cometeu e enjaulada num lugar com pessoas sentenciadas por crimes absurdos. Então, o que nós vimos hoje, uma brasileira longe de casa, presa, injustiçada, perseguida politicamente, uma mãe com direitos violados”, disse Damares.
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A senadora apontou que Zambelli é “uma mulher enferma, com inúmeras doenças”. Ela está presa desde o dia 29 de julho. “Quem conhece o sistema prisional sabe que muitas pessoas juntas têm conflitos, problemas, brigas. É num conflito desses que a gente teme pela vida de Carla, ela tem uma saúde vulnerável”, afirmou a senadora.
Girão relatou que Zambelli dividia uma cela com quatro pessoas, inclusive uma “homicida”, mas agora divide o local com três pessoas. “Deixamos celulares, deixamos todo o material, entramos e tivemos a oportunidade de olhar nos olhos dela e de sentir a dor, mas de sentir também muita esperança”, afirmou.
Flávio faz apelo a ministro italiano para que Zambelli fique em prisão domiciliar
Flávio afirmou que a aliada está “bastante abatida” e fez um apelo ao ministro da Justiça da Itália, Carlo Nordio, para que ela não seja extraditada e fique em prisão domiciliar. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que participará de um evento com o vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, nos próximos dias e pedirá a ele uma audiência com Nordio.
“Carla não sofreu um processo justo no Brasil, ela é uma perseguida política. As falas do senhor [Eduardo] Tagliaferro, que é outro refugiado também aqui na Itália, ambos cidadãos italianos, são de que o Alexandre de Moraes queria pegar a Carla de qualquer jeito e conseguiu usando a máquina pública para persegui-la, sem que ela tivesse chance de uma defesa justa”, acusou Flávio.
Na quarta-feira (17), Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), depôs à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados no âmbito do processo que analisa a cassação do mandato de Zambelli. Ao responder às perguntas do relator do caso, Diego Garcia (Republicanos-PR), Tagliaferro disse que a deputada era um dos principais alvos de monitoramento do magistrado no processo eleitoral de 2022.
Magno Malta disse que Zambelli está “pagando como os outros brasileiros que estão na Argentina, nos Estados Unidos, mundo afora, açoitados, sem ter o mínimo direito por conta de serem taxados de terroristas”, em referência aos acusados pelos atos de 8 de janeiro que fugiram do Brasil.
“Cadeia é cadeia, do mesmo jeito para qualquer pessoa. Ninguém quer estar ali, mas é uma brasileira, tem naturalidade italiana e que veio cheia de esperança por conta dessa perseguição instalada”, disse Malta.
Durante a coletiva após a visita, Girão disse que a deputada foi alvo de “justiçamento” e não de um julgamento justo. “Não é uma questão de direita, de esquerda, de ser contra governo, de ser a favor do governo. É uma questão de humanidade. Nós estamos aqui por um caráter humano da deputada mais votada da história do país”, destacou.
Damares manda recado a filho de Zambelli e critica hacker
Aos jornalistas, a senadora disse que levaria um abraço ao filho da deputada, João Zambelli. “Sua mãe nos pediu para cuidar de você e nós voltamos com essa missão. João, fica firme. A mãe vai sair dessa cadeia porque o Brasil inteiro está de joelho orando por ela. A mãe está triste, mas ela tem esperança. E a nossa vinda aqui foi para reforçar. E você ganhou milhões de pais e mães no Brasil. Você não tá sozinho, João”, disse Damares.
Girão acusou o governo brasileiro de tentar viabilizar uma “vingança” contra a parlamentar ao contratar advogados italianos para representar a União no processo de extradição.
“Nós temos uma mulher aqui, está presa porque um bandido disse que ela fez uma coisa, foi a palavra de uma parlamentar mãe contra a palavra de um bandido já sentenciado antes. Então é desse jeito que nós estamos no Brasil. A palavra do bandido fala mais alto que a palavra de uma parlamentar”, enfatizou Damares.
O hacker Walter Delgatti Neto, que teria atuado a mando de Zambelli, foi condenado a 8 anos e 3 meses de reclusão, inicialmente em regime fechado, além do pagamento solidário da multa imposta. O relator declarou a inelegibilidade dos dois por 8 anos, contados a partir da condenação.