A ONG Prisoners Defenders, em parceria com instituições da República Tcheca, publicou nesta segunda-feira (15) um relatório onde denuncia o uso sistemático de 60 mil presos políticos em trabalhos forçados em condições desumanas em Cuba.
O documento mostra que as prisões da ilha estão funcionando neste momento como “espaços de castigo, controle e exploração”.
“O relatório revela e demonstra, sem deixar margem para dúvidas, a dolorosa e criminosa situação de trabalho forçado exercido pelo Estado”, declarou a organização.
De acordo com o relatório, os presos políticos cubanos são obrigados a cortar cana-de-açúcar, produzir carvão vegetal, fabricar charutos, atuar em construções, fazer limpeza urbana e até trabalhar em instituições estatais. As jornadas chegam a 63 horas semanais, sob ameaças e violência, sem contratos trabalhistas, equipamentos de proteção ou salários dignos.
Um dos presos políticos disse à ONG que foi obrigado a carregar sacos de carvão com lesões no ombro. “Quando protestei, tiraram minhas visitas familiares por um mês”, afirmou ele, que não teve seu nome divulgado.
A produção de carvão, segundo aponta a Prisoners Defenders no documento, é a atividade mais lucrativa do trabalho forçado. Em 2023, a ong revelou que Cuba exportou mais de US$ 61 milhões em carvão vegetal, principalmente para Espanha, Portugal e Itália. Os presos políticos que trabalham na produção desse material recebem apenas alguns centavos de dólar por tonelada exportada, enquanto o regime comunista retém quase todo o lucro. Na indústria do tabaco, charutos de marcas como Cohíba e Mareva também são produzidos em prisões por meio de trabalho forçado.
Relatos coletados pela ONG revelam presos políticos dormindo em cabanas improvisadas, sem camas ou colchões, consumindo água suja destinada a animais, e sendo privados de atendimento médico. Uma ex-prisioneira política contou que, ao fraturar o pé, enquanto estava encarcerada, foi impedida de procurar um médico para não perder benefícios carcerários. Há ainda relatos de violência física, mutilações e assédio sexual contra mulheres.
Outro ex-prisioneiro político denunciou que o acampamento de trabalho forçado conhecido como El Yabú funciona como “um campo de concentração neofascista no qual todos os direitos humanos são violados”.
Diversas outros afetados pelas violações relataram à ONG que qualquer tentativa de recusa ao trabalho forçado levava a punições severas ou transferência para prisões de segurança máxima.
No documento, a Prisioners Defenders pediu que a comunidade internacional condene o comércio baseado na exploração dos presos cubanos e comece a pressionar Havana para encerrar a prática e permita inspeções independentes. Também exige reparação às vítimas.