A crise de hospedagem em Belém, cidade que sediará a COP30 em novembro, já começa a impactar diretamente a preparação para o evento. O secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), Simon Stiell, recomendou oficialmente às agências do sistema ONU que reduzam o tamanho de suas delegações, diante da escassez de vagas e dos altos custos cobrados pela rede hoteleira.
Em notificação divulgada na terça-feira (9), Stiell sugeriu que cada órgão “revise e reduza” suas equipes “sempre que possível” e destacou que a participação virtual será ampliada como alternativa.
O documento, direcionado a chefes de agências e parceiros da ONU, reforça que a orientação atinge principalmente os chamados overflow badges — credenciais extras que costumam inflar as delegações com assessores, técnicos e convidados.
Continua depois da publicidade
Reclamações
O problema, que vinha sendo tratado de forma reservada, já começa a gerar reações públicas. O vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, afirmou que os custos em Belém são “sem precedentes” e podem levar seu país a enviar uma delegação mínima ou até a não participar da conferência.
Segundo ele, as tarifas locais são três vezes maiores que o limite permitido pela legislação polonesa e incluem exigência de estadia mínima superior ao tempo real da conferência.
Na mesma linha, a representante da Estônia, Katre Kets, classificou como “absurdo” o valor de US$ 500 por pessoa por noite, com estadia mínima de 19 dias. Para ela, a condição é “inaceitável” e mina a credibilidade do processo climático internacional. O país já cogita se retirar do encontro caso não haja solução.
Continua depois da publicidade
Impacto
As críticas acendem um alerta a menos de dois meses da COP30. A conferência já tem a presença confirmada de 71 países, pouco mais de um terço do total de signatários da Convenção do Clima.
O temor é que delegações reduzidas ou ausências forçadas prejudiquem as negociações multilaterais, justamente em um momento considerado decisivo para a implementação do Acordo de Paris.
A Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop) afirma que negocia com hotéis e proprietários locais para flexibilizar prazos de reserva e reduzir pacotes mínimos de estadia. Também aposta em alternativas como navios e locação direta de imóveis.
Continua depois da publicidade
A embaixada da Suíça, por exemplo, confirmou ter fechado acomodações para seus 17 representantes, combinando hotéis e imóveis privados.