O anúncio das tarifas de 50% por parte do presidente dos EUA, Donald Trump, contra produtos brasileiros, acirrou o ambiente político também nas redes sociais. Levantamento da Palver, divulgado pela Folha de S. Paulo, empresa de monitoramento em tempo real de grupos públicos de WhatsApp e Telegram, mostra que a direita tem dominado o debate digital desde que o tarifaço foi anunciado.
Em mais de 100 mil grupos analisados, o campo conservador tem sido mais eficaz em estabelecer narrativas e mobilizar suas bases. A leitura predominante nesses espaços é a de que o governo Lula falhou diplomaticamente e isolou o Brasil no cenário internacional — supostamente por sua postura crítica a Trump e pela liderança no Brics.
Trump como símbolo, Lula como alvo
A estratégia de comunicação tem reforçado a imagem de Bolsonaro como aliado legítimo dos EUA, contrastando com o atual presidente, retratado como responsável pelo “isolamento do Brasil”. Essa leitura foi impulsionada por reportagens que apontam a demora do governo brasileiro em reagir diplomaticamente às tarifas.
A associação direta entre o tarifaço e o governo Lula tem servido para fortalecer uma narrativa de fragilidade institucional. Ao mesmo tempo, cresce o volume de mensagens que apontam o apoio de Trump a Bolsonaro como uma forma de validação da liderança do ex-presidente na direita brasileira.
Agenda da oposição
As redes também têm sido utilizadas para mobilização. Ganha força a convocação para atos em 3 de agosto, impulsionada por conteúdos que evocam a Lei Magnitsky — legislação americana usada para punir autoridades acusadas de violar direitos humanos. Nos grupos, a proposta é usada como instrumento simbólico de punição a ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Alexandre de Moraes, que continua sendo o nome mais citado.
A decisão da Justiça de impor o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro virou tema recorrente. Na esquerda, o episódio tem sido tratado com sarcasmo, usado como prova de desgaste político do ex-presidente, frequentemente ilustrado em memes. No entanto, a falta de uma narrativa estruturada tem limitado o impacto mobilizador desses conteúdos.
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Disputa por protagonismo
Mesmo no campo bolsonarista, as tensões internas ganharam visibilidade. O deputado Nikolas Ferreira, antes um dos principais nomes de mobilização da base conservadora, passou a ser alvo de críticas em grupos mais radicais após atritos com Eduardo Bolsonaro. Os ataques se concentram em acusações de “moderação excessiva” e “ausência nos momentos decisivos”.
Essa nova configuração é alimentada por nomes como o influenciador Paulo Figueiredo, que vem ganhando projeção com vídeos de tom agressivo contra o STF, o Congresso e até figuras do próprio campo conservador, como o ex-presidente Michel Temer. Ao lado de Eduardo Bolsonaro, Figueiredo tem reforçado uma linha mais polarizadora e antissistema.
Crise difusa, resposta desorganizada
Do lado do governo, a multiplicidade de temas em circulação — tarifas, tornozeleira, Lei Magnitsky, rachas internos — tem dificultado a coordenação de uma resposta narrativa. Sem um eixo dominante, a crise assume contornos fragmentados, o que atrapalha a reação institucional.
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A análise da Palver indica que a direita, especialmente os grupos bolsonaristas, têm sido mais ágeis e organizados em ocupar esse vácuo, transformando a crise em uma oportunidade para reforçar pautas ideológicas, desgastar o governo Lula e atacar instituições democráticas.