Os líderes partidários da Câmara dos Deputados entraram em acordo nesta quinta (10) para que a casa se pronuncie contra a taxação de 50% imposta pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, aos produtos importados do Brasil.
O pedido havia sido protocolado mais cedo pelo PDT e, segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi aceito de forma quase unânime. De acordo com ele, apenas o PL não aceitou se posicionar contra.
“Vários setores atingidos por essa medida estão se manifestando. Só o PL que está solidário com o Trump. [Há um] consenso de vários líderes dizendo que isso é inaceitável, e evidentemente que nós vamos reagir e o presidente [Hugo Motta] está avaliando”, disse a jornalistas após a reunião.
De acordo com ele, a expectativa é de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se pronuncie ainda nesta quinta (10) com um posicionamento oficial – mas, sem adiantar qual deve ser o tom adotado.
“O líder do PDT apresentou um requerimento para que a Câmara se manifestasse contrário a essa ação deletéria do governo americano com relação ao tarifaço que anunciou. E, evidentemente, nós já nos manifestamos e isso é inaceitável”, completou Guimarães.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), tem sido enfático em culpar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela medida de Trump. Para ele, o Brasil “está sendo humilhado lá fora porque temos um presidente fraco, cansado e sem moral”.
“O povo brasileiro está sofrendo, e o Brasil está sendo ridicularizado perante o mundo. Mas é fundamental entender: TRUMP NÃO AGIU, ELE REAGIU. E quem provocou foi o Lula”, completou.
Por outro lado, a reunião que seria realizada mais cedo com as lideranças do Senado foi cancelada. O encontro seria para que o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) também definisse uma resposta à medida de Trump.
Também após a reunião de líderes da Câmara, Motta disse a jornalistas que se encontraria com Alcolumbre para definir um posicionamento que tenha o “sentimento da Casa”.
“Minha posição será uma que tenha o sentimento da Casa, ouvindo a todos. Foi um dos temas que debatemos na reunião. Vamos seguir discutindo ao longo do dia”, pontuou.
Entre os argumentos utilizados por Trump para sobretaxar as importações brasileiras está o que seria uma perseguição política a Bolsonaro no processo que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O Ministério das Relações Exteriores considerou a alegação como inaceitável e reafirmou a posição brasileira de não aceitar ingerência externa sobre decisões soberanas do país. Mais tarde, o presidente Lula repetiu nas redes sociais.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, disse o presidente.
A carta de Trump acusa o Brasil de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, descrevendo a situação como “uma vergonha” e exigindo que o processo judicial contra o ex-presidente seja encerrado.
O norte-americano também justificou a imposição das tarifas alegando prejuízos econômicos e denunciando supostas “ordens secretas e ilegais” contra plataformas de mídia nos Estados Unidos que, diz, violariam a liberdade de expressão.
Lula afirmou que a medida será enfrentada com base no princípio da reciprocidade e rebateu as justificativas de Trump.