sexta-feira , 11 julho 2025
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Ser mãe não é problema, a questão é transformar maternidade em punição

SONIA MAZETTO

A realidade é certa: muito se fala em humanização, valorização das pessoas e bem-estar, mas será mesmo que o discurso tem sido praticado, ou se encerra no discurso mesmo? Recentemente, conversando com uma amiga minha eu tive a certeza que as mulheres ainda sofrem uma violência velada e estruturada, especialmente no mundo corporativo, quando engravidam.

Hoje, com a consciência que venho construindo ao longo dos anos, sinto-me na obrigação de falar. Falar por mim e por tantas. Sim, ser mãe ainda é visto como um problema, como se a gravidez fosse uma falha de caráter, como se parir um filho fosse abrir mão da competência, como se o bebê fosse um fardo, e não o reflexo mais legítimo da vida. É doloroso perceber que, mesmo com leis que garantem direitos, o preconceito continua operando com sutileza e crueldade.

A agressão nem sempre vem em palavras duras. Às vezes, ela está no silêncio, no e-mail que não chega, no cargo que desaparece, no crachá que já não abre mais a porta do seu antigo setor, ninguém te chama pra conversar e nem te olha nos olhos pra dizer: “decidimos seguir por outro caminho”. Tudo vai sendo retirado aos poucos, como se a sua ausência de licença maternidade tivesse apagado sua trajetória.

Mas o que mais machuca nem sempre é o gesto de quem decide, e sim de quem aceita. Do colega que aproveita sua saída para tomar o seu lugar, de quem sabe o que está acontecendo e finge não saber. E, mais grave ainda: de outras mulheres. Mulheres que também são mães, que também carregam história e que, mesmo assim, escolhem o individualismo, o poder, o atalho.

Certa vez, recebi uma proposta para assumir um cargo que era de outra mulher, demitida injustamente. Eu teria mais salário, mais status e tinha todos os motivos para aceitar, mas não aceitei. Disse não porque ética não se negocia e não há carreira que valha o preço de atropelar alguém.

Eu acredito profundamente que tudo comunica, que tudo devolve e que a vida nos escuta, mesmo quando não falamos nada. E, principalmente, que a forma como tratamos as pessoas importa mais do que qualquer cargo. Não se constrói uma trajetória sólida pisando em quem está ao lado, ou em quem, por acaso, precisou parar para gerar e nutrir uma nova vida.

Já escutei relatos de mulheres que adiaram o sonho da maternidade com medo de perder o emprego. Já vi equipes serem desfeitas, lideranças substituídas, portas se fecharem só porque uma mulher decidiu ser mãe. Isso é desumano, isso é violência, afinal, todos precisamos nascer, não é mesmo?

Humanizar é mais do que uma palavra bonita nas redes sociais da empresa. é agir com coerência, é chamar para conversar, é respeitar a história e dar dignidade, mesmo que nas despedidas muitas vezes injustas. Afinal, o que mais fere não é sair: é ser apagada, ignorada, excluída como se nunca tivesse existido ali.

Se você ocupa um cargo de liderança e sabe de tudo isso e mesmo assim continua se omitindo, você está compactuando, e a vida, ah essa sim, cedo ou tarde devolve. Por isso, sigo escolhendo minha caminhada com retidão, porque todas as vezes em que fui arrancada de um lugar, a vida me levou a um lugar melhor.

E o mais importante, ser mãe jamais será um erro, mas transformar a maternidade em punição, isso sim, é a mais silenciosa, e cruel, forma de violência. Não se esqueça, quem planta respeito, colhe respeito, do contrário, a conta também vem.

Sonia Mazetto, mãe, avó e Gestora de Potencial Humano

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