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A Embraer é a empresa nacional mais afetada pela tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil anunciada na quarta-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Analistas apontam um impacto aproximado de US$ 220 milhões no lucro operacional da companhia, o que equivale a 35% do projetado para este ano.
A maior preocupação reside sobre o fato da alta exposição dos aviões da fabricante nos Estados Unidos: cerca de 60% do faturamento da Embraer vem de empresas norte-americanas, tanto do segmento comercial como executivo.
No balanço do primeiro trimestre, a Embraer informou que tem 181 aviões comerciais encomendados por companhias dos EUA, seja de operadores ou empresas de leasing (arrendamento). Na carteira de pedidos estão:
- American Airlines
- Republic Airlines
- Horizon Air
- SkyWest
- AirCastle
- Azorra
Nessa conta não estão os 60 aviões encomendados pela SkyWest em junho durante o Paris Air Show, em um negócio avaliado em US$ 3,6 bilhões. O aumento da tarifa não incide diretamente sobre a Embraer, mas sobre as empresas importadoras. Caso confirmado esse acréscimo, é esperado que as compradoras reduzam o ritmo de recebimento das aeronaves, impactando diretamente na produção da fabricante em São José dos Campos (SP).
“Tarifas direcionadas ao Brasil devem reduzir a competitividade da empresa [Embraer] em relação a concorrentes europeias”
Análise do BTG Pactual
“Embora os clientes da ERJ [Embraer] sejam os responsáveis pela cobrança tarifária, nossa preocupação permanece com a demanda mais fraca após um ambiente inflacionário para os E1s [jatos da primeira geração], com riscos de adiamento de entrega caso as companhias tentem evitar tais sobretaxas”, analisa a equipe da XP Investimentos.
Por outro lado, como ressalta a BTG Pactual, a aeronave comercial mais exportada para os EUA, o E175, não tem substituto hoje no mercado norte-americano, o que abre espaço para ajustes de preços nas negociações. Além disso, o banco lembra que “o aumento de 10% anunciado em abril não foi suficiente para frear a demanda, como evidenciado pelo pedido recente da SkyWest”.
No caso dos 50%, trata-se de um “desafio bem maior”, sem contar que as “tarifas direcionadas ao Brasil devem reduzir a competitividade da empresa [Embraer] em relação a concorrentes europeias”, prossegue o documento do BTG Pactual, referindo-se principalmente à Airbus, que produz o A220, concorrente dos aviões da segunda geração da fabricante brasileira, os E2s.
Impacto deve ser menor sobre aviões executivos da Embraer
Cerca de 75% das vendas de jatos executivos da Embraer são para clientes dos Estados Unidos. Entretanto, a dinâmica de produção dessas aeronaves tende a diminuir os impactos de parte delas sobre as vendas da fabricante brasileira para o mercado norte-americano.
O campeão de vendas no segmento executivo é a família Phenom, com dois modelos (Phenom 100 e Phenom 300). Só no ano passado, foram entregues 75 aviões para clientes de todo o mundo. Esses jatos são montados nas instalações da Embraer na Flórida, sendo que aproximadamente 40% do avião é produzido no Brasil e enviado para a linha final nos EUA.
Em compensação, a linha Praetor — foram entregues 55 no ano passado —, tem uma dinâmica de produção diferente, sendo montado na unidade de Gavião Peixoto, no interior de São Paulo. Parte da finalização da aeronave é feita na Flórida, antes da entrega aos clientes. E apesar da menor quantidade de aeronaves produzidas, a família Praetor é a que mais tem relevância econômica: 65% da receita do segmento executivo vem desses aviões.
Em nota, a Embraer informou que “está avaliando os possíveis impactos em seus negócios da possibilidade de aumento de tarifa anunciada ontem pelo governo americano sobre os produtos brasileiros, caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil” e que “está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico.”
Reportagem atualizada com o posicionamento da Embraer.
Atualizado em 10/07/2025 às 16:21